O sopro da morte - Capitulo I

“A morte, é um sopro da vida. É a metáfora que rege a nossa caminhada rumo à inexistência, física e carnal, restando apenas o nada, comparando-se ao tudo que se perdeu.”

O vento gélido, vindo do sul açoitava a carne de quem ousava circular nas ruas escuras e inebriantes do Centro. Á passos lentos, calmos e serenos, caminhava George, sem saber ao certo para onde ir. Era comum encontra-lo perdido nas noites geladas de São Paulo. Sempre de terno preto, coberto por um sobretudo bem alinhado ao corpo, sapatos caros e bem engraxados. A sua pele era branca, cheia de pintas das mais variadas tonalidades, a barba era longa e ruiva, tratada com muito zelo. Os cabelos eram ralos, da mesma cor dos pelos do rosto, vez e outra estavam bem arrumados.

Enquanto caminhava pelas ruas, George refletia sobre a sua vida, a sua existência, ou talvez, inexistência, como costumava fazer todas as noites. Porém, esta noite, com a lua pouco visível por conta da neblina, seus pensamentos não estavam tão límpidos como costumavam ser.

A neblina que dificultava a visão da rua, esta noite demorou um pouco mais para se esvair, deixando o local um tanto quanto mórbido e macabro. Já ao fim de sua caminhada, George decidiu passar em uma padaria para comprar alguns pães e café, para a sua refeição matinal.

Assim que entrou no estabelecimento, intitulado “Panificadora da Paz”, sentiu um medo que fora inexistente em toda a sua vida, no alto de seus 43 anos. Geralmente, as caminhadas noturnas lhe traziam um conforto completo, nesta noite, porém, o efeito foi reverso. Era como se tudo perdesse o sentido. O frio que, todavia o ajudava a relaxar, não fazia mais efeito, a escuridão já não era mais tão bela.

Pegou seus pães, café e alguns doces e saiu da padaria. Como de costume, foi direto para casa, pois o dia já estava amanhecendo, e o sol começava a brilhar em torno das torres dos prédios do centro.

Chegando à portaria do prédio em que morava, cumprimentou o porteiro, pegou seus jornais e em seguida entrou no elevador. A sua cabeça doía, não entendia o motivo daquela sensação ruim. Sua mente gritava, mas, o que ela queria lhe dizer? Estava cansado demais para responder tal pergunta.

Esparramou a sacola com os pães e o café na mesa, ajeitou cuidadosamente seu jornal em cima da escrivaninha e partiu para o quarto. Tirou suas roupas e deitou em sua cama. Ainda pensando naquele medo repentino que o perturbava. Perguntava a si mesmo. Por quê? Em meio a tantos pensamentos, acabou adormecendo...

Já era tarde, quando George acordou com o barulho de seu celular tocando. Antes de atende-lo, olhou as horas e viu que já era mais tarde do que esperava, por fim, atendeu a chamada que vinha de um número desconhecido:

- Alô – disse ele ainda meio sonolento.

- Gostaria de falar com o Sr. George Campanário – respondeu a mulher do outro lado da linha, com um tom suave.

-Sim, sou eu. Quem está falando?

- Aqui quem fala é a Tenente Borges do 45º Batalhão de Polícia do Estado de São Paulo.

George se assustou e ficou curioso para saber o que a polícia queria ao ligar para ele.

- Pois não, em que posso ajuda-la Tenente Borges?

- Senhor, primeiro peço desculpas por te ligar no meio de uma tarde de um domingo. Acredito que esteja estranhando o fato de eu te ligar, mas vou explicar-lhe qual o motivo de minha ligação. A nossa central recebeu nesta manhã uma denuncia de assassinato em um bairro distante da cidade de São Paulo, e ao chegar à cena do crime, nos deparamos com uma coisa que sinceramente, me perturbou muito, um cenário que jamais havia visto antes.

-Tenente? – ele interrompeu a pessoa ao outro lado da linha.

-Sim?

-Desculpe, mas não estou entendendo qual o motivo de ter me ligado. – disse ele confuso com a situação.

- Senhor, já irei chegar a este ponto, mas antes me deixe lhe explicar algumas coisas. Acredito que, pelo seu conhecimento, saiba mais ou menos como se trabalha a policia. Então pularei algumas etapas. O fato é que, em nossas investigações a cerca do crime. Um investigador da Policia Civil, o Sr. Velasquez, nos disse que talvez você poderia nos ajudar a solucionar este ocorrido, por isso estou te ligando. Está disposto a nos ajudar?

-Tenente, eu gostaria muito, mas não vejo como um professor de história poderia ajudar com a criminalidade de São Paulo.

-Acredite George, tudo que mais precisamos neste momento é de um professor de história como senhor. Tomei a liberdade de pedir para que dois colegas da policia passasse no seu apartamento para apanhar o senhor para uma conversa, se estiver disposto a nos ajudar...

-Como conseguiu meu endereço? Alias, como conseguiu meu telefone? – disse irritado.

- Senhor, somos a policia. – disse a tenente deixando escapar uma risadinha.

- Ok, onde nos encontramos?

- Os policiais sabem onde devem te levar professor, muito obrigado, até mais. – após dizer isto a tenente desligou o telefone.

Continua...