A Visita - PARTE 1

É noite. Estou em casa, no meu quarto, olhando pra minha cama e pensando se hoje ele vem me visitar. Normalmente as visitas acontecem quatro vezes por mês, todas as quintas feiras depois da meia noite. Não importa se estou dormindo ou acordado, sozinho ou acompanhado, ele nunca perde á hora da refeição.

Tudo começou quando li uma matéria em um blog com instruções para indução da paralisia do sono, que acontece quando o cérebro e os músculos do corpo se dessincronizam durante o sono, e a pessoa acorda durante o sono REM (movimento rápido dos olhos), fase do sono em que os sonhos são mais freqüentes. Quando se esta nessa espécie de paralisia sentimos uma presença, como se alguém estivesse nos observando, em alguns casos sufocando-nos, mas isso é tudo culpa da nossa imaginação, dizia a matéria. Bem, era o que eu acreditava também, até aquele dia, quando resolvi tentar induzir a tal de paralisia do sono.

Comecei apagando as luzes do quarto. Deitei sobre a cama, com braços e pernas esticados. Fechei os olhos e comecei a inspirar e expirar o ar o mais fundo que consegui, mas de uma maneira suave e sem pressa. Tinha alguma coisa a ver com a oxigenação do cérebro ou algo assim, não entendia muito bem, mas fiz como dizia a matéria. Era algo um pouco chato e demorado, e por isso exigia tempo e paciência.

Após alguns minutos comecei a sentir os meus dedos das mãos e pés começarem a formigar levemente, e ir aumentando e se espalhando exponencialmente pelos meus braços e pernas, até tomar todo o meu corpo, como uma onda de energia, uma corrente elétrica atravessando todo meu corpo. Fiquei assustado, mas estava dando certo, então continuei relaxado, até que o formigamento cessou repentinamente, o que me fez acreditar ter falhado no experimento. Foi ai que tentei me mover e tomei um susto. Nada, absolutamente nada, nenhum dos meus músculos se movia, ignoravam os meus comandos, era como estar morto, incapaz de mover um dedo se quer.

Desesperei-me, tentei abrir os olhos e nada aconteceu quanto mais me esforçava pra se mover mais difícil ficava. Senti um peso sobre mim, algo me imprensando contra a cama com uma força absurda, meu coração acelerou, não sabia o que fazer, até que notei, repentinamente, uma presença estática do meu lado. Rapidamente lembrei que o artigo dizia que não era real, que era apenas a minha imaginação. Mas de nada adiantou, eu podia sentir o calor de um corpo do meu lado, ouvir sua respiração e até sentir o seu cheiro. Tentei gritar, mas minha voz não saia, meu corpo ainda permanecia inerte. Foi então que ouvi um barulho estrondoso, um som horrendo e continuo que fez meu coração gelar de medo, era uma gargalhada fina, aguda, demoníaca.

- Não adianta, você não conseguirá sair do meu domínio. De hoje em diante você será á minha cadelinha particular.

Disse a criatura, em meio às gargalhadas, com um tom de deboche e sarcasmo.

Ele pode ouvir meus pensamentos!?

CONTINUA...