A CASA

Minha vida amorosa se resumia a olhar intensamente para a garota mais linda da escola, eu a conhecia desde a quarta serie, mas ela nunca nem ao menos olhou para mim, para ela eu provavelmente era só mais um nerd, ou melhor, para ela eu era um nada, pois afinal ela não pensava em mim.

Mas em um dia qualquer eu voltava para casa sozinho com a cabeça voltada para meus pés e as folhas que voavam ao chão eu escutava uma de minhas musicas favoritas quando tenho uma sensação estranha de que algo me perseguia, paro, olho para trás disfarçadamente, não vejo nada, olho para os lados e novamente não vejo nada, então quando decido deixar a situação de lado e voltar a andar algo toca meus ombros, dedos finos e delicados me apertam com persistência, me viro e lá estar a garota mais linda do baile.

— oi — ela diz hesitante

Suas vestes estavam diferentes, estavam rasgadas e sujas de algo escuro... Que eu desconfiava ser...

Ela me tira de meus pensamentos dizendo — eu preciso de ajuda.

Ela me acompanha com a cabeça baixa até minha casa que já estava bem perto, se recusando a me dar qualquer informação sobre sua atual situação.

Quando chego a minha casa, a convido a entrar e lhe entrego roupas limpas que eu pensei que lhe serviriam bem, quando ela se senta e começa a tremer lhe entrego um coberto, espero ela se acalmar para então eu perguntar o que aconteceu.

Depois de alguns minutos, ela abre e fecha os lábios, varias vezes buscando coragem para me contar sua historia.

Quando por fim consegue ela diz — eu não fui para aula hoje — ela fala e isso eu já tinha percebido, sempre sei quando ela não vai à escola. — uns amigos meus, acharam que seria legal, visitar aquela casa abandonada — ela diz tremendo.

Sim... A tal casa abandonada, nunca a vi, mas todos falam sobre ela.

Nos arredores da escola a uma extensa floresta e no centro dela uma casinha opaca e sem vida, foi construída há muito tempo nunca ninguém viu os moradores, mas muitos alunos iam ate lá depois das aulas e voltavam mentalmente perturbados, a quem diga que tudo isso é mentira que só fazem isso para chamar atenção.

Ela retorna a falar e diz — não achei a ideia legal a principio, mas eles me convenceram a ir, quando chegamos lá, não ficamos somente do lado de fora, todos entramos e assim que coloquei meus pés ali dentro, sentir que algo ruim ia acontecer, a casa é bem pequena só a dois cômodos, a questão é que um de meus amigos, achou uma porta e quando ele a abriu não deu em nada só tinha uma parede — ela diz ainda sem entender.

ela para e recupera o fôlego e me olha pela primeira vez nos olhos buscando explicação e só aceno para que ela continue a historia que já me fazia sentir calafrios inexplicáveis — eles começaram a brincar e blasfemar — ela continua — e de repente uma coisa negra surgiu daquela porta, algo estranho, inexplicável — ela diz chorando — e devoro todos eles, foi sangue pra todos os lados e o tempo todo eu estava lá parada no canto tremendo, a criatura pareceu não me ver, quando ela terminou sua carnificina foi embora pela mesma porta que entrou.

Ela me olha novamente buscando ver crença em meus olhos e o pior é que ela viu, pois afinal aquela era uma cidade estranha, "se você não acredita morre" uma vez eu escutei isso em meus sonhos.

Buscando conforto ela se levanta e me abraça, eu a envolvo em meus braços e tento acalma-la enquanto meu coração batia desenfreado.

— foi então que quando a criatura foi embora, verifiquei seus pulsos mesmo sabendo que eles não poderiam estar vivos na atual situação de seus corpos, e então eu corri e quando encontrei a estrada, vi você e aqui estou eu, o que eu faço? — ela diz desesperada.

E então eu lhe digo a verdade, ela não poderia informar isto a policia, ninguém acreditaria nela e acabaria sendo culpada por um crime que não cometeu.

— você esquecerá essa historia, dirá que não sabe de nada a todos e se precisar de um álibi, me use — digo decidido.

Ela concorda com a cabeça ainda em meus braços, choraminga, e a aperto forte até seus soluços pararem.

Eu quero ir lá novamente — ela diz decidida

— tem certeza? — digo

— sim, devo isso aos meus amigos.

E então nos dirigimos a morte.

Quando chegamos a casa, eu me dirijo na frente e abro a porta, quando entro, não encontro corpo nenhum.

E a ultima coisa que me lembro, é de sentir uma pancada forte na cabeça.

Escuridão.

E então eu abro os olhos, a casa esta escura agora, mas eu a vejo, no canto da casa com os olhos vidrados olhando a porta.

— o que aconteceu? — pergunto desorientado

Ainda com os olhos vidrados ela diz — era para ser uma pegadinha, fazemos isso todos os anos com um nerd da escola e esse ano foi você, pois meus amigos disseram que poderiam usar sua atração por mim, mas... Mas — ela diz desesperada — eles não estão aqui como o combinado e a porta... Olhe-a — ela diz

E eu olho esta coberta de sangue, e a bilhetes jogados por debaixo dela, engatinho me aproximando devagar e leio o que a nos bilhetes.

" morte a quem blasfema "

" castigo a quem não acredita "

" tortura a quem perturba as almas perturbadas "

" dor nada mais que isso se encontra aqui "

Levanto em um salto e a pego nos braços de uma vez, ignorando as razões por ela ter me trazido até ali.

E foi então que a porta, a porta que dava a parede se abre e a criatura sai de lá.

E faz o inesperado abre a porta que da a saída com um movimento de mão, ou que quer que fosse aquilo.

O olho uma ultima vez e o que vejo é dor.

E corro numa velocidade absurda com ela nos braços.

Nunca vou saber o motivo de ter sobrevivido, nunca vou saber o que é aquilo, mas com o passar de um ano, nunca consegui esquecer e às vezes eu e ela nos encontrávamos ao acaso na casa abandonada, tentando entender, pois nós diferente de outros sentíamos conforto ali, pois ali nascemos de novo, e então ela me abraçava forte e eu abraçava também, com aquilo, aquela brincadeira que acabou se tornando real, já esquecida.

Ela me pediu perdão um dia desses e eu aceitei claro...

Aquilo seja lá o que for nos aproximou de um jeito incomum.

Cristinyy
Enviado por Cristinyy em 22/05/2016
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