Sobrou bravura, faltou heroísmo

Ela dormiria, placidamente, se não sentisse presença de um intruso no quarto; sem saber se o ódio que sentia era fruto da noite que perderia, ou por ver ser violado seu templo.

O ritual então teve início, estava pronto para atacar e cantava, como um louco, em giros, como um psicótico, a insanidade se instalou.

Ela nunca seria a vítima impassível, quieta, submissa, e se pôs em posição de revide, se municiou de tudo que precisava para o contra ataque e foi precisa, desferiu um golpe, um golpe apenas, mas letal, fulminante, o sangue manchou o lençol, e a sinfonia chegou ao fim, estava abatido, vítima de um inesperado contra golpe.

Ela sentiu um alívio por não ter se tornado uma vítima, mas viu que foi uma vitória sem glória: não foi nada torpe ou hediondo;nunca renderia manchetes; não sairia nas colunas policiais; ela nunca seria reconhecida como uma heroína. Salvou sua integridade, literalmente salvou seu sangue, quem sabe não impediu a proliferação de sucessivos ataques, e nada, ninguém a saudaria com palmas ou elogios, e num desabafo incontido, ela deixou vazar:

Meu Deus, como eu odeio pernilongos!!!

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 16/01/2017
Reeditado em 17/01/2017
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