O Choro pelo Telefone

Sempre morei com meus pais, mas quando eu ficava sozinha em casa era uma verdadeira festa. Não é a festa que você está pensando, é a minha festa particular onde posso colocar musica alta e dançar, desfilar só com de pijama e não precisar baixar o volume da televisão para assistir um filme explosivo. Era uma quinta-feira quando meus pais viajaram à tarde e voltariam no dia seguinte. A noite era minha!

Fiz pequenos lanches, pipoca e sanduíches para assistir um filme. Rolou muito bem até que a internet caiu. No meu desespero de não perder um minuto quase arrebento o fio do receptor. Nenhum sinal. Meu namorado me liga. Cai no sofá e me rendi a realidade de não poder continuar assistindo.

- Está fazendo o quê? - ele perguntou.

- Tava assistindo filme e você?

Passava da meia-noite.

- O que foi isso?

- O quê? - perguntei.

- Você está chorando?

- Nem!

- Tem alguém aí com você?

- Não, meus pais viajaram só voltam amanha de manhã; estou sozinha.

- Escutei um choro.

- Espera um momento... - falei.

Escutei um barulho na cozinha e resolvi verificar; olhei as duas salas, a cozinha, o lavabo, o quarto dos meus pais e o banheiro mas estava perfeitamente normal.

- Não é nada; deve ser sua imaginação amor! - brinquei.

Mas ele não escutou ao contrário a ligação estava fora de área, escutei ruídos e chiados do outro lado da linha.

- Você está aí?? - escutei a minha própria voz.

Liguei várias vezes mas dava em "ocupado".

Antes de dormir, pensei na história que ele contou e a outra que minha mãe havia dito: o sobrado era bonito e confortável mas fora construído por cima de uma casa velha que há muito tempo não era ocupada. A conta de energia vinha nas alturas e minha mãe sempre reclamava pois eramos só três pessoas e não desperdiçávamos energia. E tínhamos nos mudado fazia apenas 3 meses.

Apaguei as luzes e mesmo sozinha fui dormir - o que nunca tinha sido um problema até agora. Durante a noite escutei alguns barulhos mas pensava se tratar de ratos, afinal tínhamos uma despensa grande. Ao acordar pela manhã atravessei o corredor e notei que vinha uma claridade das duas salas, a luzes estavam acesas. Mas eu tinha apagado!

Mais tarde chegaram meus pais, porém preferi não contar a eles sobre a noite anterior porque não me deixariam ficar mais sozinha. Besteira, pensei. Quando me encontrei com o meu namorado, ele me contou que não conseguiu dormir preocupado comigo; tentou me ligar várias vezes mas escutava ruídos e em seguida desligava. Zombei dele mas falei que também tentei ligar. Então ele me mostrou a ligação.

Em dado momento é nítido um choro alto e feminino enquanto conversávamos. Mas só ele escutara. Ele repetiu a gravação duas vezes e cada vez que chegava a parte do choro eu me arrepiava toda. Era tão alto que fazia eco pela casa toda mas eu estava em lá e não havia escutado nada! Confessei então que na manhã seguinte as luzes da sala ficaram acesas sendo que eu tinha apagado todas antes de dormir e barulhos durante a noite.

Achamos melhor conversar com minha mãe e mostramos a gravação. Ela ficou abalada de repente e comentou:

- Na antiga casa demolida morava uma mãe e seu bebê recém-nascido. Mas ambos adoeceram. Com o passar do tempo, a criança continuava febril, vomitava e tinha convulsões, a mamãe porém administrava todo tipo de remédio na esperança de melhoras. Até que um dia o bebê morreu e familiares puseram num caixão pequeno e fizeram o velório na sala. A mãe chorava muito amargurada. Dias depois ela morreu também e os dois foram enterrados juntos no cemitério da cidade.

Desde desse dia eu nunca mais quis ficar sozinha em casa.

Nefer Khemet
Enviado por Nefer Khemet em 11/04/2017
Código do texto: T5967762
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