Mr. Black

A rua estava deserta e silenciosa, sem nem ao menos ruídos por entre os becos. Uma névoa, densa e branca, dançava em ziguezague iluminada pela lua , e tinha-se a impressão de ouvir o vento frio, gelado da madrugada, rasgando a alma proporcionando calafrios inconcebíveis.

Pesada, a noite assobiava, em tons azulados, uma melodia diabólica sinistramente escolhida para a ocasião. Através do nevoeiro, a passos rápidos, surge um vulto que se arrisca a desafiar os avisos que vem dos mortos.

Dois olhos observam a misteriosa figura que cruza as ruas olhando pra trás, pros lados e caminhando em direção a igreja.

Dois ouvidos ouvem seus batimentos cardíacos, a beira de um ataque, e uma boca sorri ante o medo do outro, que ainda não sabe de sua presença.

O homem caminha rapidamente para o santuário, olha por detrás do ombro e nada vê. Nenhum barulho acontece, apenas sons de passos apressados. O homem olha de novo para trás e, desta vez, como num sonho maléfico, maldito, se tornasse então realidade, das brumas aparece, do nada, o homem de cartola e capa.

Apertando o passo e correndo para o seu refugio, o perseguido sai em disparada, desesperado, olhando para trás e nada vendo. A noite parece dar gargalhadas tenebrosas da situação. O perseguido torna a olhar para frente, numa vã esperança de sua mesquita estar tão próxima quanto um passo, porem mais próximo estava o homem de negro.

Por um breve momento, os olhos do perseguido fitam o de seu perseguidor. Suas pupilas. Duas mãos agarram a garganta do homem mortal, seus pés não tocam mais o chão e dançam a valsa da morte enquanto a vida deixa seu corpo. Mas antes que o ultimo suspiro da alma abandone a carcaça, o homem é jogado rudemente ao chão e o ultimo sentimento que deslumbra em vida são os dentes de seu opressor cravados sutilmente em seu pescoço.

O homem de cabelos negros se levanta, agora não há mais gritos e a noite silenciosa reina triunfante novamente. Ele retira o sobretudo manchado de sangue e o deixa ao lado de sua vitima, nas escadarias do mausoléu. E como surgiu, desaparece tendo a noite como aliada e deixando em seu rastro, o dia mais claro...