O Bate Bola Macabro - Parte 2

Eu não sei como descrever as várias sensações que estão passando agora pela minha cabeça, é como quando te dizem, que quando se está prestes a morrer, você vê sua vida passar diante seus olhos. Estou presa a essas correntes, presa a uma cama de madeira, deitada em um colchão fétido e úmido, com gotas que caem por uma goteira no teto, pingando em minha testa. Todos meus amigos, minha família, estão mortos. Ele matou todos eles, até mesmo pessoas inocentes que cruzaram o meu caminho. Ele me capturou e me trouxe para cá. Eu não sei bem onde estou, está tudo escuro. Eu posso sentir coisas pequenas se moverem por meu corpo, coisas com patinhas pequenas com o bater de asas, algumas chegam a passar bem perto do meu rosto, passando pelos ouvidos, o nariz ou a boca. Eu não sei por mais quanto tempo vou aguentar isso. Para aliviar minha dor e sofrimento, irei compartilhar dessa minha história de horror com vocês. Foi tudo tão rápido...Começou nesse sábado de carnaval...

Eu estava em um bloco de carnaval no Centro, com alguns amigos, e fiquei um pouco até tarde bebendo com eles. Já estava ficando tarde para mim, e eu ainda precisava ir para a casa do meu namorado na Barra da Tijuca, então me despedi dos meus amigos, sem saber que aquele seria o último momento em que eu os veria. Era 21h15 e eu fui sozinha para o ponto de ônibus, e enquanto ficava esperando embaixo da garoa e do vento frio, sozinha, minutos antes do ônibus surgir e parar na minha frente, eu podia jurar ter visto do outro lado da rua um pessoa fantasiada de bate bola me encarando. Quando entrei no ônibus ela havia sumido. Talvez tivesse sido minha imaginação. Quando cheguei na casa do meu namorado, dormi lá mesmo para curtir um bloco que teria logo de manhã perto da praia. Pela manhã de domingo eu nunca poderia imaginar que meus amigos seriam encontrados brutalmente assassinados em um beco qualquer no Centro. Eu liguei para um deles, dava em caixa-postal, mas como eles ficaram até tarde bebendo presumi que estivessem de ressaca, então fui curtir a praia e o carnaval só com meu namorado. A praia estava cheia, e como todo carnaval, há sempre muita gente alegre, divertida, e também há os bêbados e os babacas. Mesmo com meu namorado do lado, alguns caras ousarem vir me cantar, me chamando de "gostosa" e dizendo "que me chupariam toda". Meu namorado estava doido para agredir os sujeitos, e eu adoraria ver a cena, mas tive que contê-lo pois os infelizes não estavam sozinhos. Ainda assim, não poupei palavras para xingá-los e chamar o mais nojento deles de "porco filha da puta". Depois disso fui embora. Tinhamos uma festa à fantasia para ir na casa de uma amiga minha, na Tijuca, mas antes passei com meu namorado na casa dos meus pais, no Valqueire. Minha irmãzinha estava toda alegre com sua máscara e meus pais me disseram que iriam levar ela até o carnaval da Praça Saiqui. Minha mãe me chamou no quarto, parecia um pouco preocupada. Ela me disse que não estava com uma boa sensação sobre mim, que algo estava dando calafrios nela. Eu apenas dei um beijo em sua testa e disse que estava tudo bem. Quando eu saí, minha irmãzinha ficou um pouco desapontada por eu não ir com ela para o carnaval. Mesmo eu estando prestes a morrer, ainda me sinto mal por desapontar ela, sem saber que naquela noite, ela e meus pais, iriam morrer.

Quando cheguei na festa à fantasia, fiquei chocada com a notícia que recebi. Minha amiga, com os olhos vermelhos de tanto choro, me avisara que os nossos amigos, os mesmos que estavam um dia antes bebendo comigo no Centro da cidade, foram encontrados mortos. Até esse ponto eu não sabia o que estava acontecendo. Meu namorado me abraçou para me acalmar, enquanto eu chorava, e me entristecia. Mas o pior ainda estava por vir. Depois que a festa acabou, eu fiquei para dormir na casa da minha amiga junto com meu namorado. O apartamento dela era bom, tinha uma sala ampla, boa para fazer festas, e tinha dois quartos, o dela era no início do corredor, perto da sala e da cozinha, enquanto eu fiquei no quarto no final do corredor. Durante a noite eu não conseguia dormir, tive pesadelos terríveis. Levantei da cama, no meio da madrugada, e fui pegar um copo d'água na cozinha. Do nada me lembro de sentir um calafrio subindo pela minha espinha, e de ouvir um assovio vindo de algum lugar do prédio. Fiquei um pouco assustada, então não me demorei a voltar para a cama junto ao meu namorado. Tentei voltar a dormir, mas não conseguia, o assovio ecoava pela minha cabeça. O som parecia aumentar, como se estivesse chegando mais perto. Quando parou, parecia que ele tinha vindo da porta da sala. Eu torci para que aquilo fosse fruto da minha imaginação, mas não era. De repente ouvi um estrondo, e o som de madeira rachando. Era a porta da sala que estava sendo partida ao meio. Eu levantei desesperada e acordei meu namorado, eu iria até o quarto da minha amiga, mas fiquei com medo de sair do meu. Na segunda batida, acho que ela havia acordado, assustada também. Meu namorado tentou ligar para a polícia, mas estava sem sinal. Na 3º batida a porta havia sido arrombada. Abri um pouco a porta para ver o rosto dos invasores, mas tudo que vi foi uma fantasia de bate bola segurando uma bola de ferro em mãos, a mesma fantasia que eu havia visto minutos depois de ter me despedido dos meus amigos no Centro. O sujeito logo entrou no quarto da minha amiga. Eu tranquei a porta na mesma hora, e corri para o outro lado do quarto. Eu chorava, desesperada e assustada, e meu namorado tremia, enquanto segurava um abajur para usar em caso de confronto. O silêncio nos deixava cada vez mais nervosos, minha amiga não expressara um som sequer. Foi quando dessa vez, a porta do meu quarto começou a ser arrombada. Quando o bate bola conseguiu entrar, ele veio girando sua bola de ferro, bem rápido, em nossa direção. Por pouco conseguimos esquivar, fazendo com que ele acertasse a parede deixando uma cratera. Meu namorado acertou o abajur bem na cabeça dele, e me disse para fugir e chamar a polícia. Eu aproveitei a chance e corri o mais rápido que pude. Quando entrei no quarto da minha amiga, ele estava todo ensanguentado, as paredes todas estavam pintadas de vermelho, com o sangue dela. Eu desci a escadaria do prédio e corri até a portaria para pedir ajuda ao porteiro, mas quando cheguei, ele também estava morto. Decidi então correr para a rua, e nesse exato momento em que eu me dirigia até o portão do condomínio, um corpo caiu bem na minha frente, sendo este o do meu namorado que fora arremessado pela janela do 6º andar. Eu não consegui olhar para ele ali, meu amor, morto bem na frente dos meus olhos. Não queria deixar ele ali, mas eu precisava fugir.

Eu não sabia mais o que fazer. Eu corri o mais rápido que pude, desesperada pedindo por ajuda e socorro, mas as poucas pessoas que eu encontrava pela rua, achavam que eu era louca, uma mendiga, e estas mesmas me ignoravam ou se distanciavam. Fosse paranóia ou não, eu sentia que ele estava vindo atrás de mim, me seguindo. Quando eu parava para descansar meus pés descalços e cansados, eu podia ouvir um assovio ecoar pela noite da madrugada. Nesse mesmo instante eu me colocava a correr, o mais rápido que eu pudesse. Quando virei a esquina de uma rua sem nome, vi uma igreja perto dali e corri para lá. Devia ser 4:45 da manhã, devia ter alguém pois a porta estava aberta. Quando entrei, vi uma senhora varrendo o chão. Andei em sua direção, com a voz rouca, pedindo por ajuda. Ela quando viu minha cara de desespero, veio até mim e me segurou pelo braço. Logo depois ela foi chamar o padre, um senhor de cabelo grisalhos, meio calvo, que veio correndo em minha direção usando uma roupa formal, ainda sem sua batina que estava preparando para usar. Eles ficaram chocados com minha história e decidiram, em boa fé, me ajudar. A senhora ligou para a polícia, informando o caso, seguindo minhas descrições de bairro, rua, prédio e andar, enquanto o padre me alojou em um quarto me oferecendo comida e água e uma vasilha com água para eu colocar meus pés que já estavam cheios de bolhas e sangue. Logo depois, já muito cansada, ele sugeriu que eu descansasse, então eu dormi, já me sentindo segura por estar em um lugar sagrado com pessoas de bem.

Dormi a manhã e a tarde toda. Quando acordei já me sentia melhor. O padre, a senhora e alguns membros da igreja que chegaram mais tarde, me receberam, todos comovidos pela tragédia que eu passei. Me ofereceram almoço, e deixaram que eu ligasse para minha casa para poder avisar meus pais, mas depois de vinte tentativas frustradas eu resolvi deixar um recado na caixa-postal. Um outro padre, veio conversar comigo e me dar conforto espíritual. Parecia que já estava próximo do início da missa das 18h, e eu, sem nenhum lugar para ir, fiquei sentada na 3º fileira de bancos da igreja, rezando por um milagre em uma hora tão terrível como aquela. Quando a missa acabou, o padre veio até mim, perguntar como eu estava me sentindo. Meu estado frágil tanto fisicamente, emocionalmente e psicologicamente, não fizeram com que o padre deixasse eu ir embora. Ele deixou que eu ficasse aquela noite lá, até que eu estivesse em plena disposição para voltar à casa dos meus pais. Depois do jantar, eu voltei a dormir, porém foi como a noite do dia anterior, novamente eu não estava conseguindo dormir. Em meus sonhos, estava tudo escuro, e somente vozes ecoavam, e de repente, um sussurro arrepiante assoprou a seguinte frase perto dos meus ouvidos: "Eu te encontrei". Acordei assustada. Aquilo pareceu tão real. Aquele bate bola, quem estaria por trás daquela máscara? Por que ele estaria vindo atrás de mim? Eu nunca fiz mal a ninguém. Como na noite anterior, o sonho me deixou preocupada, parecia um sinal. Eram 21:33 e resolvi procurar pelo padre para contar-lhe sobre meu estranho sonho. Parecia que alguns funcionários da igreja já haviam indo embora. Ela estava aparentemente deserta. Andei pelos corredores vazios, vasculhei os quartos e saletas à procura dele, porém nada. O som dos sinos começaram a soar, logo deduzi que ele então estava na sala da torre. Fui até lá, mas quando entrei na sala, havia somente a estátua de cristo mas não havia ninguém, embora os sinos ainda estivessem soando. Quando olhei para cima, vi uma sombra. A mesma sombra que vi na casa da minha amiga. Era ele. Ele estava ali. Eu fiquei desesperada e sai correndo em direção ao salão principal, gritando por socorro, foi quando me deparei com a macabra imagem do padre, o mesmo que me acolheu, crucificado na cruz, a mesma em que a estatua de cristo estava. Lá estava ele com sua batina ensanguentada, o rosto desfigurado e com sangue descendo pelos seus olhos. Quando me virei para fugir pela porta da frente da igreja, ele já estava lá, me esperando. Eu fiquei paralisada, não sabia para onde correr. Ele ficou parado. Somente então eu pude ver aquela máscara claramente. Era assustadora, nunca tinha visto nenhuma parecida. Ele então começou a dar passos curtos em minha direção. Eu ousei perguntar o que ele queria, quem ele era e por que estava me seguindo, mas nada ele disse. Então corri, mas antes mesmo que eu alcançasse as portas do fundo, ele também se pôs a correr, e parecia ser mais rápido do que eu. Sabendo que eu não chegaria lá a tempo, sem antes ser pega por ele, então me escondi no confessionário e tranquei a porta. Lá dentro começei a orar pela minha alma, com lágrimas em meus olhos. A outra porta do confessionário então se abriu. A pequena janelinha que divide os dois confessionários foi aberta. Eu recuei e me acolhi para o lado oposto ao da janelinha. Do outro lado estava tudo escuro. Foi então que do nada, o rosto da velha senhora que me ajudou naquela amanhã, apareceu na janela. Seu rosto estava sujo de sangue e pálido. Ela estava morta. O bate bola então começou a socar o rosto da velha senhora contra a janelinha, como se estivesse tentando fazer com que ela passasse por aquele pequeno buraco. A cada batida que ele dava, eu via o rosto dela se abrindo, mais sangue começando a escorrer, e as farpas da madeira entrando em sua pele. Eu fechei meus olhos, mas ainda assim não suportei ver aquilo e tomei fôlego para sair correndo em direção à porta da frente da igreja. Assim que abri a porta do confessionário, eu corri sem olhar para trás. Ouvi a outra porta se abrindo, e ele correu atrás de mim. Ele puxou minhas pernas e me derrubou no chão. Eu me virei e começei a me arrastar para longe, mas ele me segurou pela perna e começou a me arrastar. Tentei me segurar nos bancos de madeira, mas as mãos sempre escorregavam. Gritei desesperadamente por socorro, até que então... Ouvi a voz de um homem gritando para que o bate bola me largasse. Eu não conseguia ver quem era pois estava estirada no chão. O bate bola então parou, porém nem se quer olhou para trás. O homem foi se aproximando e disse que era da polícia. Quando percebi havia outros dois policiais no local também. Eles estavam apontando suas armas para o bate bola ordenando que ele me soltasse e largasse a bola de ferro em sua outra mão. Ele me soltou, porém não fez como os policiais ordenaram e saiu correndo em disparada para a porta atrás do altar. Os policiais atiraram contra ele, acertando-lhe vários tiros, mas o sujeito conseguiu continuar correndo. Dois policiais foram atrás dele, enquanto o homem de quem eu ouvi a voz, veio me ajudar. Era um detetive e parecia saber meu nome. Depois de alguns minutos os outros policiais voltaram sem o suspeito, informando que ele havia fugido, pulando um muro com mais ou menos 3 metros de altura, algo realmente espantoso e sobre-humano. Depois de tudo isso, eles me levaram para o hospital, onde fiquei pouco tempo, e mais tarde sendo levada para a delegacia para ser interrogada pelo mesmo detetive que me salvou.

Esperei na sala do detetive até sua chegada. Minhas mãos tremiam, eu sentia dor de cabeça, frio e não conseguia fechar mais os olhos após consecutivas noites de pesadelo. Quando o detetive chegou, disse que eu estava segura, para me tranquilizar. Ele demonstrou empatia e delicadeza pelo meu caso. Disse que tinha dúvidas sobre mim e que precisava de respostas, mas antes perguntou se eu não queria algo. A primeira coisa que pedi foi para que avisassem os meus pais. Quando disse isso o detetive olhou para mim como se não soubesse como dar uma resposta. Eu não queria acreditar em seus olhos, mas quando ele me informou que meus pais e minha irmãzinha aviam sindo assassinadas pelo bate bola que tem me perseguido, meu mundo caiu completamente. Todos mortos. O detetive me deu um tempo para que eu me acalmasse novamente e saiu da sala. Assim que ele saiu eu chorei até que meus olhos secassem. Tentei abafar meus gritos com as duas mãos tampando o rosto, mas eu não conseguia. O terror havia me tomado por completo. Após isso tudo, minha família, meus amigos, meu namorado... todos assassinados pelo mesmo filha da puta desgraçado, a única coisa que então vinha a minha cabeça era me vingar e ajudar a polícia do jeito que fosse para achar aquele bastardo. Depois que enxuguei minhas lágrimas e me recompus, chamei o detetive para responder suas perguntas. Primeiramente, ele começou a explicar o caso do assassino intitulado como o "Bate bola macabro" o qual tem investigado a começar pela morte dos meus amigos no Centro da cidade, logo no início do carnaval. Seguindo a trilha de assassinatos, muito pouco havia se concluído sobre o suspeito, desde que, jamais ele havia deixado evidências nas cenas do crime, somente os sinais brutais de violência aplicados nos corpos de suas vítimas. Segundo ele, após a ajuda de uma testemunha, foi dado então o perfil do suspeito e também, o que seria o seu próximo ataque. Estava claro, após ele me falar dos corpos que entraram em combustão espontânea, e também, do momento em que o vi levando tiros e do relato dos policiais que ele fugiu pulando um muro de 3 metros, que o bate bola não era um homem qualquer, talvez muito menos um ser humano. Depois de analisar a ficha das vítimas do Centro, do Valqueire e da Tijuca, todos os caminhos então o levaram até a mim. Com ajuda das câmeras de trânsito próximo ao edifício da minha amiga, de onde eu fugi na madrugada de segunda-feira, os policias puderam me reconhecer, e através de uma ligação dada pelo telefone de uma igreja informando o homicídio no prédio logo ali perto, ficou claro para eles que eu só poderia ter me refugiado naquela igreja. Para o detetive uma coisa não estava clara, e essa era o motivo do bate bola estar me perseguindo e assassinando todos os que cruzam meu caminho. Ele perguntou se eu tinha inimigos, se eu já o vi outras vezes, ou se tinha feito algo de ruim para alguém que pudesse vir a se tornar uma vigança. Para todas as perguntas, eu disse "não". Após ouvir atenciosamente meu depoimento, o detetive concluiu que para minha segurança seria melhor ficar na delegacia, sob vigilância, até a quarta-feira de cinzas. Segundo ele, acreditava que após esse dia, o assassino não me perseguiria mais. Parecia irracional, mas era melhor do que ficar na rua ou voltar para casa e ficar sozinha.

Fui colocada em uma cela especial, não parecia tão ruim. Dois policiais ficaram de prontidão vigiando o corredor, enquanto havia outros de plantão na delegacia. Eu já não sabia se conseguiria dormir mais uma vez. Eu passei a madrugada de terça-feira no hospital e parte da manhã sendo interrogada. Seria estranho se eu não desmaiasse de sono em uma cama, agora que estava, tecnicamente, segura. Na verdade, eu não queria dormir. Tinha medo dos pesadelos voltarem. Mas o detetive me assegurou, que era melhor eu dormir de manhã, pois segundo as deduções dele, o assassino não cometeu nenhum crime nos horários por volta das 5:45 até as 18h. E sobre qualquer circunstância, eu estava protegida. Bom, finalmente parecia que tudo isso iria frear de uma vez por todas. Fechei meus olhos e depois de muito rolar de um lado para o outro na pequena cama da cela, eu cai no sono.

Cá estou aqui agora. Presa, sem saber onde estou e mais amedrontada do que nunca. Sim, foi assim que eu vim parar aqui, ou melhor, como não vim parar aqui, em algum lugar escuro e sombrio. Tudo que lembro foi de ter outro pesadelo e ver minha cela pegando fogo, da qual eu não conseguia fugir. Quando abri os olhos, acordei nesse lugar estranho, com a goteira, o colchão fétido e úmido e o medo de morrer, o medo do desconhecido. Tenho certeza que foi ele. O Bate bola macabro. Só não entendo, por que estou viva ainda? Posso ver um feixo de luz passando por pequenas aberturas, do que parece ser uma janela lacrada com tábuas de madeira. Seria ainda terça-feira ou será que adormeci um dia inteiro quando fui raptada? O suspense me mata à cada gota que cai em minha testa. De repente, quando eu pensei que não haveria mais esperança, ouço alguém arrombando uma porta. Ouço passos e a voz de um homem gritando pelo meu nome. É o detetive. Grito o mais alto que posso. Ouço passos correndo, vindo em minha direção. Mas tem algo errado. O feixo de luz, sumiu. Não há mais luz, portanto, está começando a escurecer. Ele chegou até minha porta, e eu grito novamente. a porta está trancada e ele dá um tiro na fechadura para abri-lá. Ao abrir, era ele mesmo, o detetive. Enquanto tenta me soltar das correntes que me prendem, perguntei o que aconteceu, como fui parar ali. Ele tenta me explicar da forma mais rápida o possível pois não há muito tempo. A delegacia foi incendiada, os policiais que estavam lá, todos assassinados e quando foram procurar por mim, nenhum sinal. Ele prosseguiu, dizendo que por sorte, havia colocado um chip rastreador na gola da minha camisa. A primeira corrente, que segurava meu braço direito, foi tirada. Mas antes que ele pudesse tirar a que prendia meu braço esquerdo, vi ele parar de se mecher. Então, gotas começam a cair no meu rosto. Quando caem nos meus lábios posso sentir o gosto de sangue. Ele então caiu em cima de mim, paralisado, morto. No pé da cama está o bate bola, segurando o que parecem ser miolos. Ele abriu um buraco na parte de trás da cabeça do detetive e arrancou metade de seu cérebro. Foi tudo muito rápido. Nessa hora a única coisa que eu posso fazer é gritar. O bate bola me pegou pelo tornozelo e me puxou com tanta força que as correntes se desprenderam da cama. Ele me arrasta pelo chão frio, me levando até o que parece ser um porão. Sendo arrastada escada abaixo, ele me levanta e me coloca sentada em uma cadeira. Com as mesmas correntes usadas na cama, ele me prende. Uma lâmpada é acessa, me destacando em meio à escuridão. Ele surge, bem diante de mim.

-Você é a escolhida!- Disse ele -Eu preciso de você...preciso...do seu...corpo!.

Sem entender o que ele quis dizer, o bate bola decide tirar sua máscara. Aquele rosto... Como seria possível?! Era o rosto de um homem morto. Somente havia ossos e carne podre infestada de vermes. Ele então fez um círculo em volta de mim e desenhou um pentagrama com símbolos em cada uma das pontas. "A morte... Não virá hoje... Somente... A maldição... Eterna!" disse o bate bola. Ele então soltou as correntes que me seguravam e colocou sua máscara em mim. Eu me debatia e me contorcia, estava me sentindo asfixiada com aquele cheiro podre de cadáver... Mas depois... Não mais eu precisei ter medo. A máscara agora me controla, eu não consigo mais mover o meu corpo. O bate bola cai no chão. Agora não se passa mais do que apenas um cadáver. Em meus últimos momentos se torna claro o porque o bate bola estava atrás de mim. Não era a pessoa que estava por trás da máscara que eu deveria temer, e sim, a própria máscara. Essa fantasia amaldiçoada precisa de um hospedeiro, uma marionete, e eu fui a escolhida. Meu corpo, está retirando o resto da fantasia do cadáver. Parece que aquele corpo velho já não tinha mais cordas vocais para falar, já não tinha mais resistência; estava muito gasto. Conforme me visto com a fantasia, eu, em meus últimos pensamentos, me tornei o que eu mais temia... o assassino dos meus pais, dos meus amigos e do meu namorado. Eu me tornei o Bate bola macabro.

Gabriel Almeida
Enviado por Gabriel Almeida em 31/10/2011
Código do texto: T3309620
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.