A HORA DOS LOBOS CAP. 11

11. Ainda viva

Pude sentir o sangue escorrer pelo meu pescoço e empoçar por debaixo de minhas costas; o sangue estava quente...

Pude sentir minha respiração indo aos poucos fraquejando, respirava com muita dificuldade...

Pude sentir minha visão esmaecendo, deixando tudo em volta, mergulhado num breu completo...

Por fim, pude ouvir as asas da morte baterem,aproximando a cada segundo,de mim...

Parecia que estava dormindo num sono há muito desejado, um sono represado, que agora como um dique, de repente, se rompera inundando tudo...

Estava imersa num sono profundo...

O único dos sentidos que ainda funciona em meu corpo mesmo com certa dificuldade, era a audição...

Conseguia ouvir em minha volta os sons do ambiente... Os lábios de Valerie em meu pescoço como uma sanguessuga faminta...

O trilar dos grilos...

E um rosnado...

Se aquilo fosse algum pesadelo queria despertar imediatamente dele. Não, já estava na hora de acordar!

Bastava!

Aquilo tudo bastava!

Vamos acorde!, Dizia eu consigo mesma, Vamos desperte deste pesadelo!Vamos Tabatha...

Porém, nada acontecera...

Nada...

Ainda estava nas trevas; apenas ouvindo os ruídos lá de fora.

Inclusive, pude ouvir o que Valerie disse ao desgrudar repentinamente de meu pescoço:

—O que você está fazendo aqui lobo desgraçado? — perguntou ela com raiva para os rosnados incessantes que agora eu sabia se tratar de um lobo... —Acho que eu sei de quem se trata... — falou farejando o ar. Minha audição apesar de fraca, de alguma forma, manteve-se aguçada o suficiente.

Em reposta, Valerie recebera rosnados ainda mais altos.

—Então é você Tyler Black?

Era aquilo mesmo que eu acabei de ouvir?Tyler... Então ele recebera as minhas mensagens... De repente, sou tomada por uma onda de ânimo; mas do mesmo lugar que essa onda surgiu, ela voltou...

— Veio se juntar a essa humana? — perguntou zombeteira.

Depois uma explosão de gargalhadas.

Farfalhar de folhas, asas batendo e o rosnado do Tyler, do lobo...

— Você vai morrer desgraçado... —berrava a vampira do alto. —Depois, terminarei de matar a humana...

A voz dela estava fina e cortante.

O que aconteceu a seguir eu não consegui compreender muito bem... Foi uma verdadeira mistura de gritos e rosnados... Com certeza, Tyler e Valerie brigavam...

Se tivesse forças suficientes para me levantar do chão eu teria partido para aquela briga, ajudaria Tyler...

Alguns minutos se passaram até que não consegui ouvir mais nada.

Apenas o silêncio reinava...

Adormeço.

***

Não sei se fiquei desacordada por muito tempo, só sei que acordei ao som de pés se aproximando...

Seria Tyler ou Valerie...?

Só de pensar meu coração se partira ao meio...

A pessoa parou perto de mim... Agachou-se, aproximou a respiração ofegante e perguntou:

—Você está bem?

Aquela voz era de Tyler. Eu queria me levantar e abraçá-lo e dizer que estava...

Mas como havia dito antes, estava sem forças.

—Oh, céus... — exclamou ele. —Não se preocupe te levarei para casa. Meu pai saberá o que fazer... —disse ele me erguendo do solo, me carregando em seu colo.

Abri os olhos e o vi tão belo quanto antes... Havia manchas de sangue por sua boca e por uma parte de seu pálido e forte peitoral...

Os olhos aqueles olhos verdes como esmeraldas tinha uma tonalidade completamente diferente agora...

Sorrio.

E volto a dormir.

***

Assim que despertei, percebi pela cama que deitava e o quarto que estava que aquela não se tratava de minha casa. A cama de madeira toda em talhada e os moveis todos de bom gosto e refinamento, afirmavam isso. Principalmente, o quadro que ficava à minha direita acima dum aparador que trazia na pintura três homens. Tyler lindo como sempre à direita e Bastian com um sorriso cínico à esquerda, no meio ficava um homem de cabelos grisalhos e queixo grande, quadrado.

Aquela casa era a casa de Tyler.

De repente, tudo que acontecera na noite anterior me veio à cabeça numa sucessão de flashes. Era como se eu assistisse num telão a uma macabra exposição fotográfica...

Lembrei de Valerie, de Tyler, da carta, de tudo...

A janela a minha frente pude ver que era dia. O sol brilhando num céu azul sem nuvens ao som de pássaros que comemoravam o dia ensolarado.

De repente, lembrei-me da minha mãe...

Será que ela...

—Não se preocupe... — disse Tyler. —Ela está em casa...

Com sede, meus ouvidos seguiram na direção daquela voz. O dono dela se encontrava sentado numa poltrona xadrez em vermelho e verde ao meu lado esquerdo...

Como não o havia percebido antes?

—Como você está?

—Bem... — disse lembrando a marca que deve ter ficado dos dentes de Valerie. Viraria vampiro? —Acho...

Minha voz soou fraca...

Droga!

— Por que você não me contou? — perguntou ele irritado.

— O quê? — disse como se não soubesse do que se tratava.

—Deixa de graça... —nunca o vira falar tão sério. — Porque você não contou que Tyler tava te ameaçando?

—Eu não podia... —disse a verdade.

—Como assim não podia? — questionou nervoso...

—Se eu tivesse contado a alguém que eu ia me encontrar com ele, Bastian mataria mãe... Por isso não te contei...

Ele ficou quieto.

Olhava para mim...

Queria perguntar pra ele se ele tinha raiva, mas meu orgulho não deixou... Ora, essa eu não tinha culpa se o irmão louco dele fizera minha mãe de refém...

—Descanse... Depois conversaremos... —disse ele levantando-se da poltrona e dirigindo-se para porta do quarto sem olhar para mim.

Fechou a porta e logo após adormeci...

O cansaço voltara...

***

Era noite.

As estrelas brilhavam no céu. E eu ainda estava naquele quarto...

Tentei me levantar, mas não consegui. Estava ainda muito fraca. Eu deveria ter perdido muito sangue...

Tento me levantar de novo da cama. Fiquei por alguns momentos sentada na cama.

Estava ainda zonza...

Bastava olhar para penumbra daquele quarto para que eu começasse a ficar tonta...

Esperei alguns minutos até que meu corpo convalescente se acostumasse para poder dar os primeiros passos como uma criança que aprende a caminhar. Só que eu não tinha o auxilio de meus pais pra me ampararem caso eu caísse.

A sensação de uma pessoa mordida por vampiro é a de estar seca... A cada mover de músculo travava uma grande batalha com meu corpo que parecia atrofiado...

Apoiei-me na parede de madeira e no pequeno criado mudo até que eu conseguisse chegar a porta.Quando cheguei a maçaneta minhas costas estavam banhadas de suor.

Torço a maçaneta e dou de cara com um corredor escuro e vazio.

Olhei para os dois lados antes de seguir a direita e fechar a porta atrás de mim.

***

Quando cheguei ao corrimão da longa escada de madeira eu arfava. Sabia que ainda estava fraca por que a pouca distancia que percorrera até ali era mínima além de que eu fizera o percurso todo me apoiando na parede.

Comecei a descer os degraus que rangiam a cada degrau que eu descia. Parecia uma daquelas escadas de filme de terror em que o assassino está à espera da personagem logo embaixo, com uma machadinha na mão pronto matar...

No meu caso não houve assassino algum, porém ao olhar pro espelho que ficava acima dum aparador no lado esquerdo, ao final da escada, eu me assustei.

Aquela figura que tinha como reflexo não podia ser eu... Estava irreconhecível!

Rosto magro, com olheiras quase roxas como se eu não tivesse dormido há séculos e lábios rachados... Além de que usava uma camisola pérola de cetim ridículo que nem minha avó usaria.

Literalmente eu estava acabada...

Sai de frente do espelho e passei por um cômodo que deveria ser uma sala de estar. Estava em penumbra e erma.

Saio desta sala e rumo para um corredor iluminado por luzes bem fracas, que fizeram com que eu apertasse os olhos para enxergar o caminho a minha frente.

Sou atraída por uma porta entreaberta. Um facho tênue de luz saia de dentro dela...

Aproximei-me sorrateiramente dela e pude ouvir a seguinte conversa:

— Você tem certeza que ela não vai se transformar num vampiro, papai? — perguntou Tyler preocupado.

Eu não o pude vê-lo muito bem, pois a poltrona em que estava sentado ficava de costas para mim. A pessoa com ele conversava (o pai dele) também não dava para vê-lo, a poltrona verde de veludo estava disposta de frente a do Tyler, impossibilitando desse modo minha visão.

Mas o papo continuou:

—Não se preocupe... Você fez tudo como eu te falei? —perguntou a voz da poltrona de veludo.

— Sim, fiz... Dei meu sangue para ela beber... — disse com a voz um pouco distante.

—Tyler, você tão bem quanto eu que se você não tivesse agido dessa maneira, sua namorada a essa altura estaria morta ou teria se tornado uma vampira...

—Sei bem disso... O problema é que... É que eu não queria que ela se transformasse...

—Foi o único jeito de salvar a vida de ela, isto é, mesmo tendo transformando-a em lobo... — depois de dizer tais palavras a sala que deveria ser uma biblioteca ou escritório, ficou em silêncio.

Aquelas palavras soaram como socos em meu ouvido.

Eu me tornara um lobo?

Aliás, eu era um lobo?

De repente, como num flashback dum filme comecei a me lembrar de uma determinada cena:

“—Vamos, beba Tabatha... — disse ele me colocando sob a cama de casal e me dando o sangue escorria de seu pulso. - Isso beba...

Eu tomava de bom grado, porém, tomava meio que inconsciente estava muito fraca provavelmente...”

Precisa saber a verdade...

Saindo do flashback e voltando ao peso da realidade, empurro a porta da biblioteca, surpreendendo Tyler e seu pai.

Contudo, não pude ver ou ouvir mais nada.

Pois caia desmaiada no chão.

CONTINUA

O capítulo odze já pode ser lido no meu blog oficial : www.raffaelpetter.blogspot.com

Raffael Petter
Enviado por Raffael Petter em 27/04/2013
Reeditado em 28/04/2013
Código do texto: T4262799
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