Devorador

Sentado em frente a um reduzido público, utiliza a lâmina da faca para perfurar a pele da mulher que serve de cobaia. Ela diz não sentir dor, como se aquilo fosse um truque de mágica. Ao reparar a perna do sujeito, uma cicatriz no mesmo local onde faz a incisão na vítima extasiada. Fica a dúvida da veracidade acerca do fato. Levanta-se e faz a demonstração de como se esfolam pequenos roedores, rasgando a pele próxima às pastas e puxando o pelo junto, como se fosse uma vestimenta, despindo os animais, deixando-os em carne viva. Prova um pedaço da carne crua, após arrancar um diminuto naco do ser que ainda se debate diante do impiedoso carrasco. Pelos menos cinco corpos de roedores estão jogados ao lado e as moscas acumulam. O corpo músculo e repleto de cicatrizes causam forte impressão. O sangue salpica-lhe o rosto e a língua sente o sabor de pequenas gotas de sangue. O livro em cima do balcão, com imagens de dilacerações, demonstra a prática aprimorado ao longo dos anos.

Agora estão sós. A mulher, paralisada de medo, tem a sua boca aberta. Seus dentes são arrancados, um a um. Utiliza a força das próprias mãos para as extrações e mastiga cada um dos dentes arrancados, como se fossem algum aperitivo crocante. O som da mastigação deixa a vítima ainda mais apavorada. Tendo sua arcada dentária consumida na sua frente, com os olhos do agressor vidrados nos seus. Amarrada, recebe mordidas no maxilar, tendo porções de carne arrancadas por furiosas dentadas, deixando os ossos à mostra. Gritos e lágrimas abafados em um porão. Os cabelos puxados e arrancados com a força das mãos truculentas que a faz debater. Devorada viva. Uma mordida na jugular faz o sangue jorrar e a vítima sucumbir com o corpo se contraindo. O corpo é abandonado no chão, junto aos dos roedores. Com uma faca serrilhada os membros são separados. Após o esquartejamento, as partes são embrulhadas em sacos de lixo e enterradas em uma área campestre. A cabeça é guardada. Uma coleção de partes formam um outro corpo.

O assassino monta um corpo, como se pretendesse fazer ressurgir um novo Frankenstein. Mas seu desejo de morte está além da ficção literária. Utiliza peças de arame para unir os membros de diferentes vítimas, montando sua criatura. Já havia montado outros corpos, criando uma coleção de esculturas bizarras, como membros desproporcionais. Pressente a batalha e se prepara. Escuta passos. Seu local de morte é invadido por agentes da lei, que tentam dar fim aos hediondos crimes. O primeiro policial é surpreendido por uma torção que faz soltar a arma e o estalo de seu pescoço quebrado. O assassino vai ao encontro dos outros invasores. Um disparo acerta seu braço, que alcança o atirador e arranca-lhe os olhos com os dedos. Mais disparos pelo corpo. Um agente é suspenso do solo e esfaqueado no abdômen. Uma luta é travada entre o suspeito e dois experientes investigadores. O primeiro tem a perna quebrada e o ombro perfurado por um punhal, o segundo um dedo arrancado a dentada e o rosto lacerado por uma sequência de socos. Descarregam suas armas contra o agressor, com os últimos disparos feitos na fronte do homem, que se entrega aos projéteis de grosso calibre. Morre um monstro e nasce uma lenda.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 13/04/2014
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