“Os mortos voltarão”

Na manhã de sábado, Simão visita a mansão desabitada da família Galvão. Ao adentrar a casa, Simão observa a mobília coberta com lençóis brancos, alguns itens, como o belo piano alemão, esta coberto com um nobre linho branco, da mesma forma a harpa importada do Egito. Simão trajando um terno preto e um chapéu de aba curta, cuja parte da frente faz sombra em suas sobrancelhas largas e escuras, Simão fita seus olhos azuis em direção a janela no alto da sala. Ele tarda um pouco ao caminhar ate o dormente da janela, enquanto isso observa atento e com gesto melancólico a beleza mórbida da casa, cuja foi cenário de uma terrível tragédia, ate este momento inexplicável. Na parte de trás do enorme terreno aonde esta construída a casa, o prefeito, senhor Leônidas da Prefeitura da pequena cidade autorizou a construção de um cemitério, é meio estranha a visão que se tem da janela da sala de estar, a qual fica no andar superior da mansão, mas ao mesmo tempo, se misturam as sensações de paz e de pavor, isso de forma a nos prender a atenção ao cenário. A visão que se tem e de arvores e cruzes. Na manhã daquele sábado, as coisas começariam a se desvendar. Simão teria as respostas a muitas de suas indagações, principalmente sobre as mortes dos moradores daquela maguinifica mansão.

“Os mortos voltarão”

Enquanto Simão observa estaguinado o interior da mansão, ele sente um toque de leve na ponta do dedo polegar, como se uma pequena criatura lhe chamava a atenção sem dizer uma só palavra.

Simão olha para baixo sem deixar a expressão melancólica de sua face.

Ele contempla um pequeno garoto com aproximadamente quatro ou cinco anos de idade, ele tem a pele muito branca, pálido, lembrando a cor branca da parafina, os cabelos pretos e escorridos, uma mexa do seu cabelo escorre por entre os olhos negros assemelhados a cor de uma jabuticaba.

Simão o observa sem dizer uma palavra se quer, ele permanece em silencio por alguns segundos e novamente volta o olhar para o cemitério.

Simão retira com uma das mãos o chapéu deixando a vista à calva.

E apóia o chapéu no peito deixando a mão que o pequeno garoto tocara, inda baixada.

Lentamente Simão balbucia uma palavra; - vê o cemitério? O menino não o responde e vai em direção ao aparador, ele sobe para ter a visão que o homem lhe menciona.

Simão se aproxima pelas costas do garoto e ambos vêem a cena linda, embora um tanto assustadora.

Naquela manhã a neblina pairava sobre as sepulturas antigas, porem em boa conservação, gotas de água da noite pingavam das rosas sobre as cruzes encharcadas.

O acesso da casa para o cemitério não é muito fácil, visto que não tem uma passagem singular pelos fundos da propriedade, mas bastava dar a volta pela rua da frente da mansão que fica fácil, visto que o portão fica próximo da entrada da casa.

A impressão que se tem; é que a casa teria sido construída em um canto do cemitério, mas isso não é verdade.

A casa já havia sido construída quando o Prefeito construiu o cemitério.

Simão pergunta ao garoto; - como entrou na casa? Teus pais estão por perto? O menino continua sem falar.

Ele desce do aparador e pega uma folha em branco, Simão prestativo e gentil, logo lhe oferece um lápis.

O menino desenha a lua com raios de claridade.

Simão o indaga; - o que quer dizer? O teu nome é igual a este desenho? O garoto meneia a cabeça em sinal positivo.

E diz com as palavras embargadas; - eu sou a “lua brilhante”.

Simão; - igual os índios? Teu pai lhe deu nome de um índio? Pobre menino exclama o homem! O garoto toma Simão pela mão e o leva.

Ambos entram no cemitério, eles caminham por entre as sepulturas, Simão vê algo que antes não havia visto, embora conhecesse o local pela vista da janela da mansão, não havia entrado ali antes, tudo estavam sendo lhe reveladas agora.

Para a curiosidade do homem, as sepulturas eram de índios, toda aquela infra-instrutora, tudo planejado, tudo focado para sepultar índios.

Num tumulo ao lado de um jardim de rosas, havia uma foto, a foto de um índio jovem e forte, embora antiga a foto, percebia-se que o índio ilustrado teria sido morto há muitos anos, a foto já desbotada.

O menino aponta com orgulho para a foto, mostrando ao Homem gentil que o acompanha.

Simão; - é teu pai? Indaga ao menino.

O indiozinho meneia a cabeça em sinal de não.

E continua a caminhada, durante toda a manhã os dois visitam o cemitério abandonado, embora bem conservado.

Ao final da jornada o menino faz sinal de uma grande guerra, ele tenta chamar a atenção do homem.

Um grande e terrível assombro vira sobre os mortais e ele é a porta de entrada para os guerreiros voltarem.

Simão entende os gestos, um tanto confusos, mas compreendido.

Neste instante uma brisa com cheiro de canela selvagem invade as narinas de Simão.

Isso o faz tomar o pequeno índio pelas mãos e batem em retirada, Simão precisa sair dali imediatamente.

Ele sente que algo esta errado, ou que ele não compreende e isso lhe causa medo.

Simão retorna a casa e a seu lado o pequeno Índio.

Simão não percebe que seu mais jovem amigo não faz parte do mundo dos vivos. Talvez a solidão de uma vida longa de servidão o tenha impedido de perceber algo sobre natural, uma vez que a presença daquele menino é tão forte, tangível ao homem velho!

Simão estará morando na mansão ate que se desenrole uma ação na justiça sobre inventario de herdeiros, os Galvão deixa uma prole de herdeiros dispostos a irem fundo na lei para reverem seus direitos.

Simão é um procurador legal do primogênito dos Galvão.

Isso o torna num tipo de guardião da casa e seus pertencem.

A casa tem agora um ar sombrio, as noites revelam sombras que caminham pelos corredores e o pequeno índio começa a mostrar ao homem velho coisas que ate pouco tempo ele não percebia.

Toda noite o cemitério é palco de batalha sobrenatural.

Fantasmas saem à noite e invadem a casa.

O pequeno índio adverte Simão quanto o perigo que ele corre estando ali.

Simão, como legitimo procurador do primogênito da família Galvão, é herdeiro das graças e desgraças que lhe afetarão diretamente.

O índio desaparece misteriosamente no inicio de uma noite fria, Simão percebe sua ausência e sai em busca do garoto.

Ao passar pelo corredor da sala a foto do índio jovem e forte do retrato na parede, lhe desperta a atenção.

Um olhar lembra o pequeno índio.

Simão pega seu sobre tudo preto e seu chapéu de aba pequena e vai ao cemitério, ao chegar à sepultura que o indiozinho lhe mostrara, vê o menino sentado sobre ela e descobre que seu pequeno amiguinho é o índio jovem e guerreiro.

Simão sem pestanejar volta para trás, desta vez com arrepios no corpo.

A mansão esta tomada por espíritos indígenas, guerreiros saem das paredes da casa velha, pessoas sendo mortas e arrastadas por cavalos selvagens surgem por toda parte, Simão se vê perdido e aterrorizado por uma aldeia inteira de mortos vivos invadindo a casa e assombrando-o, ele que de nada tem entendimento.

Ele não entende o motivo de tanta maldade, tanta guerra.

O indiozinho se aproxima dele e derrepente toma corpo de um índio guerreiro e adulto.

O índio tem nas mãos uma carta escrita pelo governador daquele estado, e na carta esta escrita uma ordem para que o velho Galvão lidere uma guerra contra a aldeia de índios, e não deve ficar um sobrevivente se quer.

A ordem é cumprida e o massacre é terrível, para que os corpos fossem enterrados, o cemitério fora construído no sitio, deixando a mansão na frente.

O velho Galvão passou a procuração ao Simão, quando ele ainda era jovem, e na ânsia da morte, não teve tempo de contar a Simão a tragédia que assolou aquele lugar que nada mais seria, que um campo de guerra, uma guerra maldita, onde inocentes nativos perderam a vida.

A ultima coisa dita pelo velho Galvão ao jovem Simão na época, foi; não entre no cemitério, nunca entre lá.

Caso isso ocorra, despertara a ira dos guerreiros e eles retornarão.

Por isso, ele sempre evitou conhecer de perto o local onde descansavam os mortos.

Ate que um dia, a promessa do velho cacique se cumpriu; na ânsia da morte ele jurou que haveria um tempo que um guerreiro guardião do tempo indígena voltaria na forma de um menino e cobraria justiça.

Desta forma, o único com poder de reparar o mal, seria Simão.

Os herdeiros da fortuna do velho Galvão desistiram de lutar pelos seus direitos ao saberem que o lugar seria amaldiçoado por guerreiros fantasmas, e planejaram deixar o velho Simão com tudo para que morresse e sua morte aniquilasse o mal.

Mas isso não aconteceu, por que os espíritos dos índios guerreiros fizeram as pazes com o espírito do velho guardião, que herdou toda a fortuna.

Os herdeiros, alguns deles morreram misteriosamente enquanto dormiam.

O espírito do velho Galvão foi liberto, por ter sido descoberto que ele cumpria ordens superiores.

E os guerreiros descansaram em seus túmulos frios e encharcados de neblinas noturnas, a paz na mansão; bem, a paz existe, mas só para homens de coração puro e sinceros.

Como Simão já é velho para constituir família, e só nesta vida, divide o espaço com o pequeno índio “Lua Brilhante”, que de quando em quando, lhe visita para deixar um aroma agradável de canela selvagem pelo interior da casa velha.

Sempre que este perfume é percebido por Simão, ele sabe que esta com a companhia de um guerreiro indígena.

Isso alegram os dias do velho morador da mansão.

Joel Costadelli
Enviado por Joel Costadelli em 15/04/2014
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