Os olhinhos brilhavam de curiosidade enquanto a cobra se aproximava. A criança de pouco mais de um ano nunca vira uma serpente antes, e julgava que se tratava de um brinquedo. Suas mãozinhas gorduchas se estenderam quando o bicho chegou mais perto. A mãe escutou um grito seguido de choro e ao entrar na sala viu a enorme jiboia toda enrodilhada no filho.
Há várias semanas ela vinha escutando o barulho de algo se movendo por entre as panelas debaixo da pia, mas não teve curiosidade de ver oque era. Imaginou se tratar de rãs já que por ali elas eram abundantes. Naquele domingo ela aguardava a visita da irmã e do cunhado para o almoço, e ao se abaixar para pegar uma caçarola ouviu o rastejar. Com mãos tremulas ela começou a afastar alguns objetos, e apavorada saiu gritando para a casa mais próxima. O vizinho que saíra em seu auxílio acabou descobrindo não só um réptil, mas muitos.
A mãe gritou pela filha durante vários minutos. Já procurara no quarto, na sala, na cozinha e nada da criança. Até na casa vizinha estivera e quando pegou no celular para ligar para o marido, escutou a vozinha infantil. Seguindo a direção da voz a mulher se aproximou do pequeno vão debaixo da casa. A menininha conversava com sua boneca de pano. O sorriso de alivio se apagou dos lábios da mãe quando ela viu a enorme cobra próxima aos pés da filha. O desespero a paralisou por alguns momentos, mas ao cair em si puxou a filha pela roupa. Chorando de susto a criança não entendeu o porquê de ter sido puxada, e nem chegou a ver a cobra voltando para o esconderijo debaixo das tábuas onde ela estivera sentada brincando.
O homem arrancava com as mãos os matos da pequena horta, quando foi mordido no braço. Sua visão era bem fraca, mas ele conseguiu ver a cascavel se preparando para dar o segundo bote. Sem tempo para pegar as muletas foi rastejando para fora da horta e gritou pedindo ajuda, mas o som muito alto dentro de casa impediu que fosse ouvido pela esposa e o filho. A cobra veio no seu encalço agilmente e voltou a picá-lo. Dessa vez no pescoço.
Fazia bastante tempo que a criança dormia e incomodada a mãe foi vê-la. A primeira coisa que notou foi que o bebê estava com o rostinho azulado, e em seguida viu a jararaca se mexendo debaixo do corpinho sem vida.     
Essas são histórias reais contadas por moradores da cidade de Bujari, no Acre.