Um navio sem sombra

Um navio sem sombra

O meio do caminho. Limiar da existência saudável e início da queda abismal. Na luminosidade crescente do ponto, em direção as margens do último túnel.

O suicídio assistido de todas as células. No relógio sem ponteiros onde não é possível trocar bateria. A melancolia irracional e sem colágeno. O sono em todos os lugares, os sonhos condicionados à seis números.

Um resumido preâmbulo do fim, que não é começo de nada. Nada que precede nada! A despedida “prolongada” dos sentidos, que não irão titubear no abandono. Despropósito da extensão, que não abre espaço pros pares não paridos. O egoísmo biológico de uma autopreservação sem sentido.

O estopim da força natural que rouba o som, as cores, as ideias, as lembranças... Os ideais de outrora que não te pertencem mais. Um fosso fosco, oxidado, quase esquecido. Uma vírgula indiferente antes do ponto final.

O nó crescente no estômago que ricocheteia nas entranhas, mas, não sai pela garganta. A cordilheira de arrependimentos que soterra tudo aquilo que nunca será capaz de admitir. Os erros submersos, profundamente inalcançáveis pelos braços da redenção.

À espera do derradeiro “resgate” – a moeda para pagar o barqueiro. Caronte e a viagem na embarcação sem âncora. Sem porto. Sem ponto. O tripulante marcado do Navio sem sombra.

RSollberg
Enviado por RSollberg em 20/04/2014
Código do texto: T4776271
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