Um navio sem sombra
Um navio sem sombra
O meio do caminho. Limiar da existência saudável e início da queda abismal. Na luminosidade crescente do ponto, em direção as margens do último túnel.
O suicídio assistido de todas as células. No relógio sem ponteiros onde não é possível trocar bateria. A melancolia irracional e sem colágeno. O sono em todos os lugares, os sonhos condicionados à seis números.
Um resumido preâmbulo do fim, que não é começo de nada. Nada que precede nada! A despedida “prolongada” dos sentidos, que não irão titubear no abandono. Despropósito da extensão, que não abre espaço pros pares não paridos. O egoísmo biológico de uma autopreservação sem sentido.
O estopim da força natural que rouba o som, as cores, as ideias, as lembranças... Os ideais de outrora que não te pertencem mais. Um fosso fosco, oxidado, quase esquecido. Uma vírgula indiferente antes do ponto final.
O nó crescente no estômago que ricocheteia nas entranhas, mas, não sai pela garganta. A cordilheira de arrependimentos que soterra tudo aquilo que nunca será capaz de admitir. Os erros submersos, profundamente inalcançáveis pelos braços da redenção.
À espera do derradeiro “resgate” – a moeda para pagar o barqueiro. Caronte e a viagem na embarcação sem âncora. Sem porto. Sem ponto. O tripulante marcado do Navio sem sombra.