O caminho para a morte - parte 3

Quando Tatiana acordou, não lembrava muito bem do que havia

acontecido. Sentiu que estava deitada sobre uma poça de algo, que a

princípio julgou ser água.

Tentou se mexer, porém percebeu que seus braços e pernas estavam

amarrados. A menina abriu os olhos, e precisou piscar algumas

vezes para ter certeza de que estava acordada. Pedro estava bem a sua frente, e ela não estava aliviada por encontrá-lo, pelo contrário, estava apavorada.

Ele parecia ter saído direto de um filme de terror, ou de seus pesadelos.

No lugar dos olhos estavam dois buracos negros, e metade de seu cabelo, juntamente com o couro capilar não estavam mais ali.

Seu nariz estava parcialmente arrancado, e nenhum dente mais se

encontrava em sua boca sangrenta. O menino estava coberto de sangue da

cabeça aos pés. Todos os músculos do corpo de Tatiana paralisaram.

De súbito lembrou-se da visão que tivera dias atrás, enquanto retirava suas roupas da mala.

Olhando em volta constatou com pavor que o cenário de sua visão era o mesmo em que se encontrava agora.

-- Acordou, princesinha? -- A voz soava como a de Pedro, mas não o Pedro que ela conhecia desde a infância. Era mais assustadora, demoníaca.

-- O que.. O que aconteceu contigo? -- A menina disse com a voz trêmula.

Pedro apenas riu:

-- Crianças... Você não deveria ter vindo aqui, Tatiana. E a propósito, gostou do presentinho? Guardei-os para você. Sabia que um dia seria você a vitima.

O estômago da menina revirou, e ela pensou que vomitaria. Lembrou-se dos olhos azuis que havia encontrado, que pareciam-se tanto com os de Rodrigo.

-- Sabe Tatiana, se você não gostou, acho que terei de arrancar os teus, para dar pra alguém junto com os dele, o que acha? -- A coisa continuou.

Tatiana não conseguia abrir a boca para falar. Tudo estava acontecendo muito rápido e ela ainda não entendia o que Pedro tinha a ver com Rodrigo, ou como ainda

conseguia falar, naquelas condições.

Segurava o choro o máximo que era possível, porém sentia que logo ele viria.

-- Mas eu quis te salvar! -- Por fim conseguiu dizer.

Pedro soltou uma gargalhada que não poderia ser humana:

-- Quis me salvar? Vamos ver agora se consegue se salvar.

O coração de Tatiana acelerou de tal forma, que a garota podia jurar que sairia pela

garganta. Começou a se mexer, tentando desfazer os nós das cordas que prendiam seus pulsos e seus pés, porém por mais que tentasse não conseguia. Ambos estavam

presos a uma árvore, que estava ao seu lado.

Pedro se aproximou, mantinha o sorriso demoníaco no rosto deformado.

-- Deixa que eu te ajudo a se soltar. -- Disse com um tom assustador, e

antes que a menina pudesse pensar em dizer algo, sentiu a lâmina

cortar lhe os dedos, junto com a corda que os prendiam.

Tatiana gritou descontroladamente, enquanto sentia Pedro fazer o mesmo com os dedos da outra mão.

-- Pronto, está solta agora. -- Pedro disse, pegando um dos dedos e levando-o aos lábios.

A menina ainda gritava de dor, e olhava para as mãos decepadas incrédula.

O sangue escorria e ela tentava ficar de pé, queria correr dali.

-- Opa, ainda não está totalmente solta. -- Pedro observou, ainda mastigando o dedo.

Abaixou-se e com um golpe preciso, cortou as cordas que prendiam os pés

de Tatiana, retirando junto parte da pele e um pedaço de um dos dedos do pé esquerdo.

A garota gritava e chorava, sem saber o que fazer. Mesmo sabendo que ninguém a ouviria, clamava por ajuda.

-- Você pode gritar o quanto quiser, ninguém vai te ouvir. Ao menos que queira acordar os outros para me ajudar a acabar com você.

Ele deu alguns paços na direção de Tatiana, e levando um canivete até seu rosto disse:

-- Mas não faz isso, não quero ajuda. Prefiro te matar devagarzinho, a carne é mais gostosa quando a vitima sofre bem antes de morrer.

Camila olhou para os lados, procurando sua irmã. Onde diabos havia se metido? A cama de Pedro também se encontrava vazia, só que

diferente da de Tatiana estava intacta, como se ele nem ao menos houvesse se deitado.

Afastou lentamente as cobertas, todo o seu corpo doía. O dia todo fora

uma correria e ela ainda não havia absorvido a morte do avô.

Sentou-se na cama devagar, e calçou os chinelos.

-- Lucas, acorda. -- Dizia enquanto delicadamente empurrava os ombros do amigo.

O garoto reclamou um pouco, mas acabou por acordar.

-- O que foi Mila, isso são horas? -- Disse ainda meio sonolento.

Camila apenas fitou a janela fechada. La fora caía uma chuva forte, ela pôde ver.

No canto do quarto percebeu que a pilha de roupas de Tatiana estava

bastante revirada, mas não sabia dizer ao certo se estivera assim o tempo todo.

Voltou os olhos para Lucas, que olhava pensativamente as camas vazias.

-- Aonde eles foram? -- Ele perguntou.

-- Não sei. Eu só acordei com sede e vi que eles não estavam mais aqui. -- A menina respondeu, com uma expressão preocupada.

-- Relaxa, devem ter ido sei lá... Beber água, comer algo, e acho que deveríamos fazer o mesmo. -- Lucas falou, levantando e se dirigindo até a porta do quarto.

Camila concordou calada e o seguiu em direção a cozinha. A casa estava silenciosa, de modo que podiam ouvir o som das gotas pesadas que se derramavam sobre o telhado.

Olhavam tristemente os retratos de Mariano que estavam pregados por toda a parte, e desejavam tê-lo de volta.

Estavam tão perdidos em pensamentos, que nem notaram a figura que os observava.

Passaram pela sala, e em fim chegaram a cozinha.

Lucas acendeu a luz, e os dois se assustaram ao ver dona Jandira sentada a mesa com a cabeça baixa.

-- Vovó? -- Camila perguntou em um sussurro.

A mulher levantou o rosto, e os fitou. Toda a doçura que antes possuía se foi, dando lugar a uma figura sombria.

Sua pele estava pálida e ela aparentava ter envelhecido uns 40 anos. Mantinha uma faca em mãos, suja pelo mesmo sangue que manchava seu vestido na região do peito.

-- Eu não sou sua avó. Ela já se foi, vocês vão junto com ela.

As palavras saíam de sua boca, porém a voz era assustadoramente grossa.

O sangue que corria nas veias de Camila congelaram naquele momento, e a julgar pela expressão apavorada no rosto de Lucas, com ele não era diferente.

A mulher levantou da cadeira, ainda fitando os dois com um olhar ameaçador. Camila apertou mais forte a mão de Lucas, que tremia descontroladamente.

-- Vai ser tão fácil matá-los. -- Cantarolava com uma voz animalesca.

Continua na parte 4.