O menino e os monstros

 (Luiz Cláudio Santos)

 
Louise vivia em Austin, no Texas, e tinha setenta e cinco anos. Sua secura e as profundas rugas que carregava no rosto não condiziam com a imagem da mulher jovem e linda que todos os dias ela via refletida no espelho.  Os cabelos brancos eram substituídos por uma cabeleira ruiva com cachos sedosos que lhe caíam nos ombros, os olhos, de um verde pálido, ficavam violeta, e os lábios murchos inflavam até se tornarem sensuais e sedutores como os de certa artista de cinema.
 
A cada aniversário Louise se achava mais jovem. Tinha uma vitalidade que causava inveja a muitas velhinhas que estavam condenadas a passarem o resto da vida com um terço nas mãos, pedindo a Deus perdão pelos pecados da juventude. Louise tinha uma mente aberta. Ela acompanhava as tendências da moda e, além de jazz e blues, curtia Heavy Metal, Trash Metal, Hardcore, Grunge, Punk e outros seguimentos desse estilo. Louise adorava shortinho e camiseta e não se importava com o frio, dizia que estava sempre quente. Tinha Piercing na língua e na pelanca onde embaixo estava escondido o umbigo. As tatuagens em seu corpo estavam em constante transformação. Tinha uma rosa no ombro esquerdo que quando mandou fazer era apenas um botão, mas, graças ao enrugamento da pele, milagrosamente se abriu. O gato que tinha na perna se transformou em um cão buldogue, e o peixinho na virilha sumiu.
 
Louise tinha verdadeira aversão à gente velha. Uma vez foi a um baile geriátrico acompanhar uma amiguinha de vinte e poucos anos que faria companhia a avó, e ficou apavorada. A música tinha uma batida fúnebre e os idosos que lá estavam moviam-se em câmera lenta e, de vez em quando, enfiavam umas balinhas na boca, que depois ficou sabendo tratar-se de pílulas para controlar a pressão arterial. Alguns velhinhos de maca, pilotadas por enfermeiros, mexiam o dedão do pé e outros vitimados pelo diabetes usavam óculos escuros tipo gatinho. Louise estava encolhida em um canto pedindo a Deus para que aquele pesadelo terminasse quando o ambiente cavernoso se transformou. Um globo de vidro pendurado no centro foi alvejado por canhões de luzes e enquanto girava lançava raios multicoloridos para todos os lados.
 
 Um tal de Senhor Jin, depois de anunciado, surgiu na pista de dança e logo foi ovacionado pelas velhinhas mais descoladas. Era um homem com cara de maracujá de gaveta, alto e esguio, que usava um bem cortado terno grafite. Não fosse uma corcova logo abaixo da nuca seria até elegante. De repente,"I Will Survive (Gloria Gaynor)”, para delírio de todos, começou a tocar estrondosamente. O idoso de terno grafite, calça preta e sapatos que pareciam terem sido projetados exclusivamente para matar baratas no canto da parede deu um show. Começou meio tímido, tremulando as longas pernas e os braços abertos como se estivesse em pleno milharal totalmente entregue às carícias do vento. Aos poucos foi se empolgando numa dança frenética, tal qual uma minhoca no asfalto quente. Após levantar o paletó fez uma espécie de quadradinho violento projetando para fora os ossos dos quadris em movimentos robóticos e sensuais, e terminou o espetáculo com uma sucessão de piruetas acrobáticas como se estivesse possuído por uma entidade demoníaca.
 
Louise foi ao delírio e atraída como a um ímã correu para perto do velhinho dançarino. Ela trajava uma microssaia de napa preta e um casaquinho verde limão.  A coleguinha de Louise, sabendo de sua preferência eclética, mandou que colocassem um Rock pesado.  Em pouco tempo Louise e Jin colocaram a velharia toda para mexerem o esqueleto.
 
Acompanhantes, enfermeiros e caçadores de dotes enlouqueceram ao ritmo infernal que adentrava pelos ouvidos como lanças afiadas. Eles pulavam ensandecidos e gritavam acompanhado o solo de guitarra como se estivessem endemoniados. Louise rodopiava, e depois de pular nas costas do velho começou a cavalgá-lo metendo os calcanhares nas costelas do infeliz como se estivesse com esporas invisíveis. A corcunda dele parecia excitada e se mexia em baixo da saia dela forçando as partes pudendas com movimentos ritmados e firmes. Só quando começaram os desmaios senis foi que pararam a música. (Os que sofriam de mal de Parkinson ainda continuaram tremelicando). Os demais estavam sendo abanados exaustos e inertes. Maciças doses de anti-inflamatório e sedativo foram rapidamente administradas aos da melhor idade, que começaram a reclamar de dores em todas as células do corpo.
 
Louise ainda estava cheia de gás. Mas notou que, apesar de Jin estar de pé, ele tinha os olhos arregalados e um fio de sangue escorria pelo nariz. Então, falou mostrando preocupação:
– Senhor Jin, o Senhor está passando mal?
 
Rapidamente ele começou a desabotoar o paletó e depois a calça. Louise ficou perplexa. Havia um rapaz magricelo feito um parasita alienígena grudado nas costas do velho.
 
O jovem tomado pelo vitiligo começou a gritar com voz fina e estridente enquanto tentava desatar os nós que os uniam num só corpo.
 
Frank contou que ele e Jin faziam esse tipo de espetáculo há quase dois anos, mas que infelizmente o velho coração de Jin não aguentou tamanha estripulia. Louise era a única que não sabia da exibição a qual esteve sentada na cabeça dura de Frank.
 
Louise recebia pela previdência e fazia luxuosos bichinhos de pelúcia. Vivia em sua típica casa americana com direito a bandeira na sacada. Apesar de ser meio doidinha o seu jeito descontraído agradava a todos. Os jovens entravam na pilha dela e a faziam acreditar que realmente ela era aquela mocinha linda e apetitosa. Os rapazes fingiam estarem todos apaixonados. As moças simulavam ciúme e maldiziam a sua beleza. Louise sentia-se um copo d água fresca no deserto, um pinto no lixo. Tanta beleza assim não era pra qualquer um. (Pensava). Ela ainda era “BV” e jurou que só beijaria na boca se estivesse mesmo apaixonada.
 
Bill apareceu na boate como em um passe de mágica. E pela primeira vez Louise foi beijada. Quando tirou a jaqueta de couro surrada, as tatuagens coloridas sobressaiam sobre os braços brancos. Os cabelos escuros e lisos em constante desalinho lhe dava um ar de vocalista de banda de rock.  Bill começou a dançar embalado por um jazz suave. Ele iniciou olhando para o chão e abrindo os longos braços tal como uma ave em um ritual de acasalamento. O corpo esguio e de músculos exatos, parecia levitar entre os harmoniosos acordes.
 
Louise era autodidata nessa arte e seu corpo obedecia a qualquer ritmo. Com a leveza de uma garça foi em direção ao rapaz e, após se abraçarem, começaram a rodar. Quando se afastaram a expressão do corpo dos dois era fascinante. Parecia que aquela coreografia havia sido ensaiada durante anos. Os membros dos dois seguiam o mesmo movimento de maneira precisa e graciosa. Depois, Louise pulou sobre as costas de Bill e caiu com a suavidade de uma pluma. Quando se aconchegou enlaçando os braços finos no pescoço dele. Bill abaixou-se e começou a rodopiar com os braços abertos. Louise também abriu os braços deitada sobre o dorso de Bill e lhe segurou os pulsos. Numa fração de segundo Bill levantou-se e a puxou para dentro de si, forçando o frágil corpo de Louise em seu quadril rijo. Pouco depois os corpos começaram a se contorcer de forma lenta e sensual até que sentaram com as pernas abertas e os joelhos levantados. Eles se olhavam com sensualidade quase palpável e foram se afastando enquanto se arrastavam no chão sem tirar os olhos um do outro. Depois tocaram as mãos no solo e em perfeita sincronia giraram num impulso enquanto jogavam os braços e a cabeça para trás. Após ficarem de pé, Bill permaneceu parado com expressão facial de dor. Louise virou-se duas vezes e fez movimentos como se fosse partir. De repente, como uma gazela, deu um salto no pescoço de Bill, que a enlaçou com seus braços fortes e a beijou com volúpia á procura da língua fina e áspera que se escondia tímida em um canto qualquer da boca, cujos lábios de lagartixa tremiam de excitação.
 
Bill e Louise estavam no centro do salão enquanto centenas de jovens os observavam perplexos. A coragem do jovem em beijar aquela mulher que todos sabiam que além de idosa e feia não batia bem da cabeça, fez com que todos pensassem que, na melhor das hipóteses, ele era um viciado à procura de uma velha para sustentá-lo.
 
Catherine, a coleguinha de Louise, ficou preocupada, mas uma coisa tinha que concordar: Aquele cara com os braços pintados com tinta de péssima qualidade, que escorria com o suor, e que usava peruca, dançava muito. Até ela que era mais boba pegava...
 
Todos sabiam das limitações de Louise. Era notório que ela sofria da Síndrome de Peter Pan, que tem a ver com certos traços da personalidade que se caracterizam pela imaturidade psicológica e o narcisismo.
 
Bill e Louise começaram a morar juntos. Bill era visto com frequência cortando a grama e com pregos e martelo consertando a cerca. Louise disse a Catherine que Bill a tratava com carinho, mas que não a forçava a nada, que o único problema era que ele ainda urinava na cama.
 
* * *
 
O Chefe do Departamento de Homicídios, Richard Gordon, estava em sua mesa fazendo palavras cruzadas quando o Oficial Oliver Pacce entrou afobado:
 
Senhor, novidades sobre o crime. A vítima foi encontrada amarrada em cima da cama. O autor usou fios de aparelhos domésticos. Ela estava em adiantado estado de putrefação e tinha setenta e dois anos.
 
Richard Gordon tinha uma barriga imensa e uma papada que ficava totalmente entremeada por finos vasos sanguíneos quando ele ficava nervoso. Levantou-se com estardalhaço trazendo a cadeira agarrada em seu volumoso traseiro e disse parecendo usar um grosso colar cervical vermelho.
 
Tenente, já é a oitava vítima em menos de dois anos. Temos de pegar esse assassino. Ele age em várias cidades e sempre escolhe mulheres idosas e indefesas. O sofrimento imposto a elas, segundo o laudo da perícia, é fruto de uma mente doentia. As vítimas são torturadas e algumas têm objetos introduzidos nos órgãos genitais. Conseguiram arrolar alguma testemunha?
 
A vítima era viúva. Segundo vizinhos, o filho se casou e foi para Washington. Uma amiga, que se recusou a ver o corpo, disse que um rapaz de aproximadamente vinte e cinco anos estava morando com ela. Só a encontraram porque o cheiro que o cadáver exalava era insuportável. Um homem, segundo um garoto que pulou pela janela, estava agarrado ao corpo. O garoto disse que ele arrancava a carne podre dos dedos do cadáver e mastigava os ossos fazendo um barulho nojento. Ao ser surpreendido o homem começou a rir e a falar com voz fina como se fosse uma criança. 
 
O Chefe do Departamento de Homicídios deu um soco na mesa fazendo com que vários papéis voassem, inclusive a revistinha de palavras cruzadas, e falou exibindo um sorriso gordo:
 
Então prenderam o assassino?
 
Houve um fato interessante, meu caro Senhor Gordon. Antes de a Polícia chegar, alguns curiosos entraram na casa. Entre eles um médico que resolveu aplicar uma injeção no rapaz. Segundo o Doutor John, o homem tinha escoriações pelos braços, e o contato com a carne putrefata com certeza lhe traria graves infecções. Ao ver a agulha, o rapaz agiu como uma criança traumatizada e começou a chorar e a gritar alto: “Vovó, agulha não! Vai doer e sair sanguinho”. Dois homens o seguraram e o Doutor John deu início ao procedimento.
 
O Tenente Oliver parou de falar e foi até a janela. Lá fora a nevasca havia pintado tudo de branco. Instintivamente ele ajeitou o cachecol de lã marrom e foi até a garrafa de café que estava em uma mesinha no canto, ao pegá-la o Chefe Richard Gordon berrou:
 
Tenente, o café pode esperar! Diga logo, o que aconteceu?
 
Segundo o médico o rapaz teve uma convulsão, que por pouco não o perdeu. Que depois da crise ele ficou sentado no sofá. Os olhos estavam fechados, mas a pressão arterial e os batimentos cardíacos estavam normais. Quando ele abriu os olhos fixou-se na televisão que estava ligada. Um dançarino famoso fazia sua exibição. O jovem levantou-se e começou a dançar pela sala imitando o artista. Todos estavam entretidos com a dança quando ele chegou até a porta e saiu correndo pela rua.
 
Como conseguiu? Richard Gordon falou com voz desolada.
 
O Tenente Oliver coçou a cabeça e disse:
 
Eram pessoas comuns, e devido à forma com que o rapaz agia, acharam tratar-se de um doente mental que ficaria por ali, boiando, até a nossa chegada.
 
E quais são suas características?
 
Fisicamente, em todos os casos, parece a mesma pessoa: Branco, esguio, de 1.80 a 1.85 de altura, cabelos castanhos claros, olhos da mesma cor mais afastados que o normal. O que muda são os sinais particulares aparentes, como cicatrizes, tatuagens e defeitos físicos. Em uma das ocorrências o suspeito claudicava. Os dados de todas as ocorrências foram cruzados e chegamos a um suspeito.
 
Temos de detê-lo com urgência. Fale-me sobre ele.
 
Trata-se de Eddie Meeks. Atualmente ele está foragido e tem vinte e dois anos. Nasceu no condado de Dallas e foi criado pela avó até ir, antes de completar cinco anos de idade, para um abrigo para menores. A avó, que morava com ele, foi brutalmente assassinada e molestada sexualmente. A criança, sem cuidados, durante muitos dias alimentou-se do cadáver. A que tudo indica o menino presenciou tudo. A criança foi internada, e para surpresa dos médicos, tinha agulhas espetadas por todo o corpo. Ele teve de passar por várias cirurgias para retirá-las. Meses depois o assassino foi preso e relatou que era amigo do menino, que viu a velha lhe espetando as agulhas. Seu último desejo, antes de ser executado, foi comer um prato de batatas fritas.
 
Imagine se não fosse amigo. O monstro ainda queria jogar a culpa na pobre mulher. Disse Richard Gordon fazendo careta.
 
Depois Eddie foi adotado por uma professora aposentada, que antes de morrer passou sua guarda para uma irmã, também idosa. Eddie fugiu depois de matar e esquartejar a pobre senhora. A mulher, antes de ser assassinada, relatou a uma testemunha que Eddie tinha pavor de injeção, que bastava uma vacina para que ele tivesse uma convulsão que quase o levava a óbito. O estranho era que algum tempo depois da crise, ele adquiria outra personalidade e esquecia completamente quem fora anteriormente, que certa vez, depois de precisar tomar uma injeção antialérgica, começou a tocar piano com perfeição, em outra ocasião começou a jogar basquete, disse ainda que ela demorou a perceber que o transtorno psicológico a qual Eddie sofria estava relacionado ao trauma que sofreu na infância.
 
Richard Gordon abriu a gaveta de um arquivo de aço, pegou uma maça que estava entre a papelada, e a enfiou na boca de uma só vez. Enquanto mastigava como um cavalo disse:
 
Sem dúvida é um caso interessante. E o que disse as testemunhas das outras vítimas relacionadas?
 
Quase sempre a mesma coisa, que a mulher era idosa e que vivia só, e que da noite para o dia estava morando com um jovem desconhecido que tinha idade para ser seu neto. O que me chamou a atenção foi que, em cada homicídio, o jovem era descrito com o mesmo tipo físico, porém, a maneira de vestir, o cabelo e a habilidade para as artes ou profissão era outra. Esse fato nos atrapalhou muito a chegar a Eddie Meeks.
 
Richard Gordon estava entalado com a maça, equando falou lançou fragmentos da fruta para todos os lados a transformando em uma granada orgânica:
 
Tenente Oliver, quero que faça o retrato falado. E através de todos os meios de comunicação divulgue e alerte toda população. Qualquer suspeito deve ser imediatamente abordado e identificado.
 
                                         ***
 
Catherine estava esperando Louise acabar de pregar os olhos em seu ursinho de pelúcia quando Bill entrou correndo pela sala. O rapaz estava tremendo e com a mão direita apertava os dedos da mão esquerda.
 
– Bill. Disse fazendo careta: Estourei meu dedo com o martelo.
 
Louise começou a gritar e a correr feito uma barata tonta.
 
– Calma: Disse Catherine. Quero ver isso.
 
Bill fechou os olhos para mostrar o ferimento. A pancada foi forte. A ponta do dedo estava esmagada.
 
– Bill. Você vai ter de ser forte. Falou Catherine com tom irônico. Precisamos ir ao hospital fazer um curativo. Se você se comportar direitinho tem uma grande chance de sobreviver. Venha, te dou uma carona.
 
 Após quinze minutos Catherine, Louise e Bill chegaram ao hospital. Depois de feito o curativo, Bill entrou em pânico quando viu o enfermeiro com a injeção. A antitetânica era necessária. O rapaz não sabia dizer se já era imunizado. Bill teve uma crise convulsiva que colocou toda a equipe médica à sua disposição. Após se restabelecer, Catherine teve que assinar um termo em que se comprometia a entrar em contato com o hospital caso notasse algum tipo de alteração no paciente. Bill estava sem documentos e Catherine, ao fazer a ficha, disse ser irmã dele e neta de Louise, e que já estava acostumada com as crises do irmão. Tudo era motivo para Catherine mentir. Ela se divertia quando conseguia enganar alguém.
 
Ao regressarem para casa, Bill estava quieto, com os olhos vagos. Catherine se perguntou se havia feito a coisa certa. Louise, após sentar Bill no sofá, ligou a televisão. Estava passando um filme de terror.  Bill por alguns minutos permaneceu estático, até que diante de uma cena levantou-se fixo na tela. A íris esquerda tremia dentro do olho. Catherine ao se aproximar, arregalou os olhos e levou à mão a boca. As imagens do filme eram refletidas na íris esquerda e rapidamente sugada para o interior. O olho direito estava totalmente branco.
 
Eddie Meeks agarrou Catherine pelo pescoço e, como no filme, bateu com a cabeça dela na parede até o crânio se abrir. O cérebro em convulsão foi devorado ainda vivo. 
 
Louise estava desmaiada quando o olho esquerdo do psicopata se fechou, e ao abrir o direito, disse com voz infantil:
 
– Vovó, que coisa feia. Dormindo no chão?
 
O homem a ergueu nos braços e a levou para cama.
 
                                        ***
 
Johannsson Howard chegou em casa às seis e quinze da manhã. O enfermeiro, devido a um grave acidente ocorrido pela madrugada que vitimou dezenas de pessoas, estava mais cansado que o habitual. Após tomar banho e tomar um copo de chocolate quente foi para o quarto endireitou-se, depois virou de bruços, e pegou o controle remoto da T V que estava sobre o carpete ao alcance do seu braço. Acionou o Power e programou para que desligasse em trinta minutos. Na tela estava sendo exibido o retrato falado de um assassino.
 
 Johannsson era bom fisionomista e teve a impressão que já o havia visto, apesar dos retratos falados do Texas serem uma merda. Os olhos afastados no rosto oval não eram estranhos. A repórter falava sobre um Serial Killer em que o assassino escolhia mulheres idosas e tinha medo de injeção. Johannsson passou por um cochilo. De repente, saltou da cama. A televisão já havia se desligado automaticamente. Não sabia se era sonho ou realidade. Correu para o computador e encontrou a reportagem.
 
                                        ***
 
Louise abriu os olhos e o assassino estava sobre ela. Eddie Meeks a penetrou de forma violenta. Os movimentos bruscos lhe invadiram de forma insana causando dores terríveis e inimagináveis. Louise gritou, mas Eddie continuou a lhe revirar as entranhas até que gemeu e lançou para dentro dela um liquido quente e viscoso.
 
Louise estava paralisada pelo medo. O homem saiu de cima dela e falou com voz de criança:
 
Vovó, o meu novo amigo te machucou. Sempre que eu arrumo um amigo ele te deixa machucada. Foi porque ele te viu enfiando as agulhas em mim? Eu juro que não vou mais fazer xixi na cama...
 
Eu não sou sua avó. Sou uma jovem linda. Você acabou com a minha pureza. Disse Louise em frangalhos.
 
Eddie Meeks falou com um risinho perturbador nos lábios:
 
Você é uma velha imunda.
 
Louise foi arrastada até a frente do espelho da penteadeira. Ao ver a imagem refletida disse:
 
Você está mentindo, eu sou linda.
 
Eddie desgraçou a rir e falou:
 
Só há um jeito de te provar que digo a verdade, velha doente.
 
Eddie Meeks pegou uma faca e arrancou em poucos minutos a pele enrugada que cobria a face de Louise. O sangue brotava dos ossos escorrendo pelos olhos imensos desprovidos de sobrancelhas e pálpebras. Eddie colocou a máscara flácida nas mãos de Louise, que de frente para o espelho tinha um sorriso ensanguentado desprovido de lábios.
 
Louise estava anestesiada pelo pavor, e antes de tudo escurecer, ainda se viu refletida no espelho. Bill havia mentido, ela estava ainda mais bonita.
 
 ***
 
Graças a Johannsson Howard, o enfermeiro que ganhou as manchetes dos jornais, Eddie Meeks foi preso. Johannsson ligou para a Polícia que checou o endereço do suspeito através da ficha do hospital. Pelo menos, quanto a isso, Catherine não havia mentido.
 
Quando a Polícia chegou Eddie Meeks estava com a língua toda enfiada no orifício onde antes estava o nariz de Louise. Ele tinha uma enorme faca na mão.
 
Durante a tentativa de fuga, Eddie foi alvejado e perdeu a visão do olho esquerdo. Quando acordou no hospital dois policias faziam sua escolta. O prisioneiro falava com voz de criança e, quando perguntou pela avó, um policial grandalhão disse:
 
– Vamos parar com essa palhaçada. Você não engana mais ninguém.
 
Eddie Meeks foi condenado. Como não houve apelação, passou poucos meses no corredor da morte. Durante esse período agiu como um menino de menos de cinco anos. Chorava de medo da avó sempre que urinava na cama.
 
Um carcereiro lhe trousse um carrinho de plástico, outro um bichinho de pelúcia. Na solidão da cela, ele conversava com seus amigos invisíveis, e lhe perguntavam por que haviam machucado a avó.
 
Algumas semanas antes da execução, Eddie Meeks, por causa de uma infecção, perdeu também a visão do olho direito. Ele, como de praxe, foi entrevistado por funcionários da prisão, incluindo psiquiatras, assistentes sociais e um Pastor. Todos inteligentes para se deixarem levar por um psicopata.
 
No dia da sentença Eddie estava feliz. Um dos funcionários lhe deu um grande bolo de chocolate e ganhou roupas novas. Enquanto passava pelo corredor, sorridente com o bolo nas mãos, todos os detentos batiam palmas e cantavam parabéns. Pouco depois foi ligado a um monitor cardíaco e levado para a câmara de execução. Eddie foi amarrado em uma maca e, em gritos, teve tubos intravenosos inseridos em duas veias. (Uma adicional como segurança). Logo após, Eddie Meeks foi autorizado a dizer suas últimas palavras para as testemunhas sentadas junto à câmara de execução. Ele apenas disse cheio de medo:
 
Acenda a luz.
 
O guarda responsável recebeu a ordem e o processo teve início...

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Contadores de Histórias
Enviado por Contadores de Histórias em 29/06/2014
Reeditado em 19/07/2014
Código do texto: T4862579
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