NOITE MACABRA

Noite Macabra.

VINTE E SEIS ANOS ANTES

-Com quem está falando Jonas – pergunto a mãe, que mal podia ver o filho diante da escuridão de setembro.

Silencio.

-Jonas? Não me diga que está falando com o homem com o cachorro?

Silencio.

Jonas gritou para mãe.

-Já vou mãe, o homem disse que vai me dar um filho.

A mãe de Jonas já havia falado com um padre sobre aquelas coisas do demônio que vinham acontecendo com o seu filhos depois do acidente, mas agora ela tinha que cuidar do menino sozinha, ela sabia que Jonas era especial.

-Um filho?

-É - disse Jonas , que arrastava a perna esquerda depois do acidente e teve o órgão sexual dilacerado após o trágico acidente que matou o pai e a irmã mais nova – ele disse que eu vou ficar bom.

“Que coisa demoníaca” – pensou a mãe de Jonas.

DIAS ATUAIS.

-Poderia nos ajudar? – disse a mulher de cabelos escuros, rosto branco, palidez atraia Jonas, porém estava borrado do efeito da maquiagem densa desfeita pela água de chuva, maldita chuva de setembro.

Mulher pálida, alta , magra , como as modelos, gente de televisão, dentes alinhados e perfeitos, tinha um nariz fino, porém grande demais para o seu rosto, vestia preto com detalhes vermelhos, roupa transparente e intrigante, mostrava mais que escondia. Jonas poderia dizer que era bonita a um amigo no bar da cidade, mas não disse, não teve tempo.

Se a mulher estivesse sozinha a cena toda lhe atribuiria charme. O problema é que a musa não estava sozinha, ao seu lado um homem, vestido como um pastor ou diácono, Jonas demorou em perceber aquelas figuras distintas, porém estranhas.

O homem que acompanhava a musa, calado segurava o braço esquerdo dela, nem magro nem gordo, aproximadamente uns cinqüenta anos, usava o conjunto preto fechado, terno e gravata, colarinho de sacerdote e um chapéu que impedia a visão do seu rosto, sua roupa parecia estranhamente não estar molhada como a dela, tinha uma barba grande e prateada, cuidadosamente aparada de forma triangular,como um mandarim.

A figura dava medo em Jonas, então a sua perna aleijada doeu, e seu escroto parecia que ia explodir, nesse momento o agricultor pensou em fechar a porta e dizer que não ajudaria.

Jonas era o único herdeiro de uma família de fazendeiros de café, a casa que morava tinha mais de duzentos anos e pertenceu ao seu avô, porém ele nunca quis nada daquilo, sonhava em ser um viajante, lia livros e escrevia na maioria das vezes poesias.

Sem dinheiro para pagar o advogado que liberasse a sua herança, Jonas foi obrigado a casa com uma solteirona local, uma mulher com uma historia de maldades e bruxarias Amanda Morgana Coles, que disse a ele que também via o velho com o cachorro, o casamento com Amanda ocorreu porque ela tinha o dinheiro e Jonas à fortuna que precisava ser liberada, eles fizeram um acordo, porém no testamento o pai de Jonas disse que sua herança só seria liberada se ele fosse pai.

Amanda demorou alguns anos para engravidar, pois o problema com o órgão sexual de Jonas é que quando tinha ereção ele entortava e doía muito, assim o sexo para ele era um suplicio, ele tinha tentado todos os tratamento possíveis, agora vivia amargamente a dor de ser um homem incompleto, todos esses anos Jonas pediu a Deus que ela tivesse um filho, mas o foi o homem com o cão que prometeu e ele esperava, até que o seu filho Marco chegou.

A criança tinha apenas vinte e oito dias, quando pensou nesse numero sentiu um peso nas costas era um sinal de que o velho estava próximo, será?.

Jonas teve medo daquela gente e pensou em despachá-los com um desculpa, mas a mulher mexeu o corpo e ele conseguiu ver os seios pequenos, seu órgão sexual torto e dolorido parecia ter acordado e ele não sentia dor. Via o corpo dela através da roupa preta e vermelha, mamas com bicos grandes, que era transparente e estava molhada, então algo desligou na cabeça de Jonas.

-Pode me ajudar? – disse a mulher com um sorriso nos lábios e uma expressão de impaciência.

A chuva há três dias, se aproximava o dia doze de setembro, data detestada por Jonas pois representava a morte do pai e tudo o que lhe faltava, as goteiras no andar de cima deriva o ambiente úmido e quente, saturado por um vapor, a energia não havia voltado e toda a iluminação que tinham vinha de velas, pensou em tudo isso e respondeu a mulher.

-Sim claro – disse e abriu a porta – vocês estão molhados.

-Que gentil, nos convidar a entrar – disse sem um sorriso nos lábios.

-Foi um acidente, um buraco, essas estradas estão cheias de buracos. – disse Jonas escancarando a porta e olhando o homem de chapéu de canto de olho.

-Nosso carro quebrou, depois que meu irmão perdeu o controle, bateu no barranco – ela disse sem fôlego – eu e meu irmão estamos levando o nosso pai para a sua ultima casa.

-Tem mais alguém lá atrás? – disse Jonas, não dava para ver o carro, pois a chuva aumentara, parecia um caravan 74, boa de briga, Jonas teve uma em meados de dos anos 80, tinha a frente bem destruída, ia precisar de uma boa corda para puxar aquele veiculo até a garagem, Jesus Cristo! Era estranho ter mais alguém naquele carro antigo , um modelo do começo da década de oitenta.

-Meu pai, e o nosso cachorro – disse a mulher.

-Meu Deus, tudo parece estar tão quieto por lá – disse Jonas olhando mais atentamente através da chuva – não podemos deixar que fiquem lá fora, está chovendo muito.

-Estão mortos – a mulher disse e olhou para o homem de chapéu, ele nunca levantava a cabeça, parecia quieto, Jonas tinha certeza que o individuo tinha algum problema mental.

Dupla de estranho, parado na sua porta, sentiu o seu órgão ficar reto e sem dor e não para de olhar para a mulher, isso deu uma esperança a Jonas, pensou animadamente .

A mulher parecia inquieta e o homem não falava nada, continuava calado de cabeça baixa, Jonas não conseguia olhar , pensou na mulher e no filho recém nascido no quarto de cima, eles dormiam pesado, há dois dias a mulher não dormia por causa do bebe, assim era melhor deixar aquele pessoal ali em baixo, arrumava umas toalhas limpas, era só por uma noite mesmo.

-Vamos buscar o seu pai – disse Jonas – passam a noite aqui, deixamos o carro na minha garagem coberta.

Ela olhou para o irmão, mas ele não levantou a cabeça, então a mulher disse.

-Não podemos.

-Não?

-Sera suficiente para nós deixar o corro na garagem até que alguém venha , podemos fazer isso senhor?

-Jonas.

-Ele – ela engoliu as palavras – meu pais já morreu, mas não profanamos o corpo ainda, não está em um cachão, nossa religião não permite caixões nem cobrir o corpo de terra, está no deitado no banco de trás, o cachorro também, tivemos que sacrificá-lo, meu pai pediu como ultimo desejo ser sepultado com o cachorro, era um bom cachorro.

Ela viu o olhar de Jonas e concluiu o pensamento.

-Por isso estamos viajando a noite, sabemos que é ilegal.Se não quiser nos ajudar entenderemos.

-Tudo bem – disse Jonas, tinha certeza que o seu órgão estava ereto e ele não estava sentindo dor nenhuma.

Nesse momento o homem mexeu o ombro e levantou a cabeça, então Jonas pode ver os olhos cinza dele, suas mãos ásperas e depois abaixou a cabeça novamente, vendo o movimento de cabaça do irmão e a face assustada de Jonas, a mulher disse.

-É uma longa historia,tive outro irão, eles eram gêmeos, e Fidel se sente culpado, ele acha que foi o responsável pela morte do nosso irmão Fritz, me dê uma toalha e um café que eu conto tudo.

Jonas ofereceu lençóis e colocou o seu carro mais para frente para que a caravan 74, a frente estava arrebentada, mas os vidros escuros impediam que visse o interior, tanto faz, pensou Jonas, não quero ver defunto. As cordas e todo material usado fez com que a caracan 74 entrasse na garagem.

A mulher trocou-se no banheiro primeiro, pegou roupa secas provocantes, deixando o busto quase a mostra em um decote provocativo que tirava o fôlego de Jonas.

-Você disse que ele se sente culpado, tive uma irmã, ela morreu no acidente que matou meu pai, acho que me sinto um pouco culpado também, minha perna – Jonas mostrou a cicatriz na perna - é desse acidente, quando perdemos pessoas sempre sentimos alguma culpa, não é? – ele puxou assunto quando o homem foi ao banheiro.

-É... – ela sorriu e olhou para a ferida na perna com compaixão - Fritz, meu outro irmão, - ela suspirou – pessoas nada compreendem sobre o destino , não é senhor Jonas, a vida não têm um significado, nós viemos a este mundo para viver e escapar do perigos, então quem têm sorte igual a de Fritz e morre com onze anos não pode ser considerado uma pessoa, e sim uma ação da seleção natural, nem um indivíduo vitima do carma, apenas a vida é perigosa e bostas como essa acontece, resultado é que naquela noite perdi dois irmãos de uma vez só, um morreu em uma brincadeira de criança perto da sacada do apartamento da minha avó em Copacabana, caiu do décimo andar, Fidel empurrou, eles tinham onze anos, brincavam de luta grega, pessoas muito unidas pode se ferir muito mais que inimigos, as verdadeiras feridas são causadas por amigos.

-Isso é triste – disse Jonas – e você faz o que?

-Dou aula de arte na federal.

-Quis estudar historia – disse Jonas sem graça – meu pai achou estupidez, queria que eu cuidasse dos negócios da família, minha mãe manteve isso, depois da morte dela tive mesmo que cuidar de tudo.

Ela sorriu e novamente Jonas percebeu aqueles dentes brancos e proporcionais, teve uma simpatia, e esticou o assunto.

-A senhora parece inteligente, tem cara de professora de historia – ele mentiu, acha que a mulher tinha cara de uma puta safada e queria que aquele irão dela saísse pela porta para que ele pudesse falar abertamente quanto queria pelo sexo.

Ela colocou a mão sobre a dele e disse – Me chame de Beth. Não, não me considero alguém que foge dos problemas e é obrigada a cuidar da família, mas parece que você Jonas vive feliz aqui?

Ele ficou encabulado, mas tinha um forte impulso para sinceridade, quis falar o que sentia.

-Acho que está enganada – ele olhou para o topo da escada e continuou - Odeio esse lugar, odeio o meu casamento é que queria ser pai.

Ela sorriu. então Jonas sentiu que tinha uma simpatia pela mulher e perguntou.

-O que aconteceu com Fritz foi uma fatalidade, tivemos uma vida difícil, meu pai foi um homem muito rígido – ela sorriu e Jonas ficou um pouco mais animado, fazia três meses que não fazia Sexo com Amanda, pois quando o pênis ficava torto ele sentia muita dor, ela havia engordado na gravidez e ele não sentia mais nenhum desejo.

Um milagre parecia estar acontecendo naquele dia, o desejo voltou forte pela mulher de preto , Jonas ficou nas nuvens, ela o colocava nas alturas, olhava para os olhos castanhos dela e para as mamas no contorno da blusa, estavam perto e Jonas sentiu o perfume dela.

-É quase meia noite – disse Jonas – a senhora é muito bonita dona Beth.

-O senhor é uma pessoa muito boa senhor Jonas, mas tem uma vida que rejeita – ela suspirou e ele sentiu um hálito de enxofre, encostando a mão de unhas longas no seu ombro ela continuou - tem uma mulher que rejeita e um filho que lhe foi dado por um milagre.

Ela gemeu de dor e levou a mão no flanco esquerdo do tórax, fazendo uma face de dor e levando a mão de Jonas bem perto do seu seio – quando o carro bateu parece que machuquei uma costela.

Ela levantou à blusa deixando o seio a mostra e pediu que Jonas olhasse de perto para ver se a costela havia fraturado, Jonas fingindo olhar o flanco encostou o cotovelo no bico rígido do seio e teve um arrepio nas costas e depois ouviu um grito, assustado caiu do sofá, outro grito.

-O que é isso?

-É o Fidel – ela abaixou a cabeça – ele está fazendo uma oração.

-Assim aos berros? – disse Jonas suando e com uma dor imensa na perna e o seu órgão tinha entortado de vez e parecia sangrar.

-É uma oração forte senhor Jonas.

-Vão acordar minha mulher – disse Jonas e olhou para a escada, nem sinal de Amanda, “ graças a Deus” pensou.

-Melhor dormimos – disse Jonas com uma dor imensa e sangramento do órgão gotejando– pode pedir para o seu irmão sair do banheiro e deitar-se – Jonas ouviu outro grito.

-Mais o que é isso? – gritou Jonas – Mande-o parar.

-Ele está rezando, não podemos fazer nada – disse ela e se afastou de Jonas, parecia mais feia que antes e a sua face estava carcomida a esquerda, parecia feridas abertas.

-Rezando?

-É senhor Jonas, meu irmão tornou-se um homem religioso, depois da morte do Fritz.

-Ele está gritando palavrões!

-Ele está entrando em sintonia com ele - ela apontou para baixo.

Um grito bizarro, Amanda apareceu na escada com a criança no colo.

-O que está acontecendo? – disse com sono – quem é essa mulher no sofá?

Jonas ficou sem fala, na porta da cozinha estava um homem velho e careca, o mesmo que Jonas via quando criança e um cachorro negro de olhos vermelhos, Amanda desceu a escada devagar, Jonas tentou correr, mas parecia preso ao chão, sangrava muito pelo órgão sexual, a mulher no sofá não parecia ser tão atraente, o homem com o chapéu estranho andou até Amanda que parecia ainda estar dormindo entregou o bebê para Fidel.

Fidel entregou a criança para o homem velho e disse.

-Toma pai, para o sabá.

O homem agarrou a criança e com uma voz vinda das profundezas disse.

-Um presente - o cão do inferno latiu, Jonas queria gritar e sair de perto da mulher que agora parecia ter vermes que saiam pela sua boca, o cão latiu novamente – vou esperar no carro, matem todos, queimem tudo e vamos embora, essa chuva me acalma.

-A mulher está em traze – disse o homem de chapéu preto.

-Matem todos. – disse o velho

Jonas queria gritar, porém a mão da mulher apartou a sua cabeça com tanta força e pressão, depois de um minuto ele perdeu a consciência, não sabia que mãos tão magras tinha tanta força, então a cabeça sofreu um golpe e arrebentou-se em mil pedaços, deixando apenas um corpo sem cabeça caído no chão, Amanda para a frente de Fidel, virou o pescoço, como se estivesse seduzida , em transe, pessoas que freqüentam magia negra são mais fáceis de dominar, pensou Fidel,dominada por uma força satânica Amanda se entregou a Fidel que sugou seu sangue até que caísse pálida.

Os vizinhos não viram nada, os corpos foram encontrados carbonizados, mas ninguém sabe o que aconteceu naquela noite macabra, nunca acharam a cabeça de Jonas.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 28/08/2014
Reeditado em 28/08/2014
Código do texto: T4940440
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