Milena – Gênesis (Capítulo XII – A última Dança)

Oito meses se passaram, estávamos todos ansiosos para a festa de formatura, Débora estava um tanto quanto enorme, eu não podia dizer isso perto dela, pois sempre ficava nervosa quando menciono, entretanto, Milena fazia questão de dizer a ela. Mamãe havia me emprestado o carro, para levarmos o pessoal para o tal castelo, ela não poderia ir, pois tinha um jantar de negócios. Iríamos com dois carros, o meu e de Tawan, em meu carro iria eu, Débora, Luís, Jhonatan e Luana. Com Tawan iria ele, Jack, Bill, Tamires e Ane.

- Estão todos prontos? - pergunto ajustando os últimos toques de minha fantasia.

- Benjo você esta lindo como vampiro - diz Milena dançando de um lado para o outro - Cadê o Jhol? Aposto como ele esta lindo como príncipe.

- Isso Mili - digo retrucando - vai lá com ele, e me deixa trabalhar em minha fantasia.

Sai para o corredor que dava para os outros quartos, Jhonatan ainda estava no banheiro, não faço ideia porque ele passa mais de hora trancado lá, parece até a Lua quando vai se arrumar, falando em Lua...

- Lua vai demorar ai? - digo batendo na porta do quarto dela - Vou indo e deixarei vocês para trás - ela abre a porta ofegante, estava com uma fantasia sexy de tigresa - você esta indo para uma festa de colegial mocinha e não para uma boate.

- E você acha que vou de qualquer jeito? Vou fazer os meninos pararem quando chegarmos lá - começou a rir, mas parou quando Ane saiu do quarto dela - Que fantasia é essa dona Ane? - perguntou Lua, tinha que concordar com ela, a fantasia de Ane era horrível, uma fantasia de fantasma do corredor, aquela menina de vestido negro com um ursinho na mão que aparece no corredor da escola - Cadê a fantasia que eu te dei?

- Luana, aquela fantasia era muito... Como posso dizer? Muito ousada, fica aparecendo oitenta por cento de todo meu corpo.

- Essa é a intenção Ane, agora vamos lá para dentro e se troque.

- Não temos tempo, já estamos indo - gritei todos para irmos pro carro.

- Já vamos? - Luís me pergunta erguendo sua espada, que fazia conjunto com sua fantasia de ninja.

- Sim, Já vamos irmão - caminho em direção ao carro, do outro lado da rua algo me chama atenção - Desgraçado - digo num sussurro, Fauzer estava do outro lado da rua, encostado em um poste olhando em minha direção, um ônibus passa, e ele não está mais lá.

- Que cara é essa Benjo? - pergunta Milena.

- Você viu? - perguntei a ela.

- Viu o que? A única coisa que estou vendo é essa sua cara feia, mas já estou acostumada com isso.

- Engraçadinha.

- Vamos logo Benjo - diz Jhol saindo com os cabelos molhados.

- Que lindo - suspira Milena.

- Vamos então - digo sentando no banco do motorista - Vamos parar na casa da Débora para pegá-la, Luís já foi ao banheiro?

- Aff Rogério, não sei se você percebeu, mas eu cresci - disse ele fazendo birra.

- E está muito lindo - completou Milena.

- Será que existe algum menino que você não ache lindo Milena? - perguntei em deboche.

- Tem sim, você! - respondeu ela.

- Esta bem - disse fazendo bico enquanto ligava o carro.

- Ah, sabe que te amo né? - falou ela.

Débora estava simplesmente deslumbrante em uma fantasia de cinderela, apenas estava um pouco fora de forma. Esta bem; é maldade falar isso, mas que posso fazer se sou sincero?

- Você está linda Débora - digo a beijando, realmente ela estava linda...

- Sério? - ela me olhava nos olhos - Achei que você não ia gostar, afinal estou gorda.

- Será que dava pra vocês falar de outra coisa que não seja a gordura da Débora? - reclamou Milena.

A viajem foi tranquila, avistamos o castelo na serra, depois de meia hora de viajem.

- Não aguento mais ficar dentro deste carro - reclamou Luana.

Estacionei o carro em uma vaga, próximo ao de Tawan, eles estavam encostados no carro esperando nossa chegada.

- Luís não fique muito longe - disse a meu irmão – Luana; estou de olho em ti, nada de aprontar.

- E você, nada de botar fogo na festa - ela diz sorrindo, e sai com Ane.

- Touche Cowboy - disse Milena seguindo as meninas.

A festa estava ótima, mas não havia nem escurecido ainda, Jhol parecia estar bêbado, vontade de puxar a orelha dele não faltava, mas não iria fazer meu primo passar vergonha, era difícil distinguir as pessoas ao meu redor, estavam todas fantasiadas.

- Olá - era uma voz de mulher, mas não conseguia saber quem era, e não reconheci a voz - Não tem como você escapar de nós agora gracinha - me assustei, quem era aquela menina? E porque iria escapar dela?

O som estava extremamente alto, a menina me abraçou e pude sentir o calor que ela emitia, era fora do normal.

- Vamos dançar? - continuou ela, ela me encaminhou até a pista de dança, percebi os olhares de Débora ao longe, Milena havia chegado próxima a ela - Que falta de educação a minha - continuou a menina - Sou Jennifer - ela passou sua língua em meu rosto - você deve ter muitos amigos aqui, não é?

- Quem é você? - perguntei tentando sair de seus braços...

- Escuta aqui - disse ela me abraçando com mais força - sou uma das sete, e a não ser que você queira que todos seus amiguinhos morram... É bom fazer tudo o que nós mandarmos. Ou isso aqui vai virar um banho de sangue – gargalha.

Ela saiu de perto de mim, pude ver seu corpo charmoso, seus cabelos negros e grandes que cobriam seus enormes seios; seu olhar era distante, ao mesmo tempo penetrava minha alma.

- Que você quer? – perguntei.

- Esta vendo aqueles ali? - ela apontou para o outro lado do salão, havia seis pessoas de aparências exóticas três deles já conhecia; Fauzer, Dieter e Billy.

- Eu não destruí aquele?

- Precisa de muito mais do que uma simples magia negra para destruir um anjo gatinho - diz ela ainda dançando - Falando em anjo, aparentemente o seu amiguinho anjo não veio com você.

- Ele está a caminho - menti, eu não fazia ideia de onde ele estava - O que você quer de mim?

- Preciso que você faça uma coisinha para nós, fomos enviados atrás de você, a única pessoa que pode dar liberdade a nosso chefe.

- Do que esta falando?

- Você é bem lerdo de raciocino.

- Milena sempre me diz isso, mas vindo de um Demônio é um tremendo insulto.

- Você vai dar sua vida para trazer Lúcifer, é o único com poder o suficiente para fazer isso, em baixo deste castelo tem um templo que era usado para adorar o demônio, já ouviu falar da chacina da serra?

- Sim, o que isso tem a ver?

- Tem tudo a ver, há 18 anos - ela fez uma cara dramática - pessoas se suicidaram aqui, para tentar abrir o portão do inferno, mas algo deu errado, é ai que sua amiguinha Milena entra na história. Apenas o seu sangue tem poder suficiente parar abrir as portas.

- Não estou entendendo nada.

- Você vai entender... Coincidência sua festa de formatura ser aqui nesse castelo, não é mesmo? – ela riu, o som de seu sorriso me fez estremecer.

- Vocês tramaram tudo – falei entre dentes, a raiva estava tomando conta de mim.

- Vamos descer lá para baixo? – falou ela me puxando pelo braço.

A anja má colocou uma de suas mãos em minha cintura e começou a me levar de onde estávamos, não podia dizer não, não podia simplesmente travar uma batalha na festa de formatura, meus amigos, minha família, estavam todos correndo perigo. É preferível sacrificar uma única vida para poupar milhares de outras.

Passamos por uma porta de madeira que dava em uma extensa escada espiral que ia para baixo, estavam todos próximos a mim, os sete anjos negros.

- Se você fazer tudo o que mandarmos... - ela riu - talvez deixemos sua família viver.

- Se tocarem um dedo em qualquer um deles, juro que acabo com a raça de vocês - os sete riram.

- Você é valente garoto - disse um dos sete que eu não conhecia, ele tinha uma aparência bela, loiro, olhos vermelhos e dentes pontiagudos - Se parece muito com seu pai.

- Meu pai? Você conhece meu pai?

- Sim, ele tentou lhe salvar quando nasceu.

- Do que está falando? - perguntei novamente.

- Você sabia que os anjos te querem morto? - disse a outra garota do grupo.

- Sim, eles querem sua cabecinha - disse Jeniffer passando seus dedos em minha cabeça.

- Isso não é verdade - gritei - tenho amigos anjos, e porque eles iriam me querer morto?

- Simplesmente porque eles não querem correr o risco de você abrir o portão do inferno e liberar Lúcifer e todos seus subordinados, seu amiguinho Erick te contou isto?

Minha cabeça girava, não sabia o que pensar, fazia sentido, mas...

- Eu posso não ser mal, posso trazer a paz - disse em minha defesa.

- Eles não querem saber, anjos atiram primeiro e perguntam depois, eles não querem um apocalipse antes da hora.

- Chega de conversa meninos, vamos começar o ritual - disse Jennifer acendendo as tochas que haviam no local, pude ver a magnanimidade do local, como era enorme e luxuoso, esculturas de ouro, pérolas e na ponta uma estátua de um homem com cabeça de bode, uma mão apontava para cima e outra para baixo. Reconheci a imagem sendo de Baphomet, o demônio, aquele lugar me provocava arrepios, o cheiro de podridão do ar estava me sufocando.

- Sabia que estavam por perto! - Erick descia as escadas com uma espada na mão - Posso sentir o seu cheiro fétido a quilômetros de distância.

- Erick? - disse sorrindo - Você demorou.

- Então o pombinho veio? - falou a segunda garota arreganhando um sorriso enorme, seus dentes eram tão pontiagudos quanto o do loiro, entretanto havia algo diferente nela, seu olhar era mais maligno, seu cabelo era curtos e também negros, batia suas asas querendo levantar voo.

- Juliana Dark - disse Erick.

- Parece que a festinha aqui em baixo esta melhor que lá em cima não é pessoal? - Milena descia as escadas com o rosto fechado, Jhol e Débora a seguia de perto.

- Não senhorita - disse Fauzer - A festa vai começar agora - seu sorriso era tão medonho quando o de seus irmãos - Milena, a filha adotiva de Lúcifer? Fiquei sabendo que traiu seu pai?

- Não ouse me chamar assim novamente - gritou Milena, pulando em Fauzer, uma fúria jamais vista por mim havia tomado conta de minha amiga, ela estava socando a cara de Fauzer.

O Demônio voou para trás e deu um tapa em Milena que caiu em meus pés.

- Desgraçado - gritei, não podia ajudar Milena pois não podia tocá-la.

Erick criou uma Luz com as mãos que fez os anjos negros se afastarem me dando chance de sair de perto e correr para o lado oposto.

- Se encostarem um dedo no Benjo, juro que mato vocês, cada um de vocês - disse Milena se levantando.

- Porque o defende? - disse Fauzer - Você é a ponte que o liga com o mal - ele sorria - você sabe como vai ser o fim, não é? Não adianta lutar contra nós.

- Não sou como vocês - gritou Milena.

- Não? - dessa vez quem falava era Juliana - O único propósito de você estar aqui é acabar com ele, e agora você quer virar anjo?

- Do que ela esta falando Milena? - perguntei caminhando até minha amiga.

Não podia acreditar no que aqueles demônios falavam! Milena, minha melhor amiga, a pessoa que sempre esteve comigo não importava o que acontecesse era quem eu realmente devia temer?

- Jamais faria mal a ele - berrou Milena, seus olhos estavam vermelhos, e lágrimas escorriam.

- Milena? - eu disse ainda olhando sem saber o que pensar.

- Ela não teve culpa Benjo - disse Erick caminhando à frente empunhando sua espada - Acho que esta na hora de você saber...

- Podemos deixar isso para depois? - disse Billy que permanecia inquieto ao lado de seus irmãos - Antuérpia comece o ritual.

Os sete anjos caminharam lentamente em ordem para o altar, onde cada um sentou em uma poltrona, minha cabeça começou a doer, minhas pernas caminhavam contra minha vontade.

- Rogério volte - gritou Erick - use seu poder, lute contra o mal que há em você.

- Me desculpe pessoal - a dor de cabeça era tremenda nem conseguia pensar, muito menos lutar contra algo que não podia ver.

- Ajude-o - falou Débora.

- Use o livre arbítrio, Deus te deu o auto-controle. Não vá´- Grita Jhol me puxando pelo braço, mas era em vão, continuava andando contra minha vontade

Do chão saíram duas espécies de lanças quebradas, todo o chão havia cavaletes como aqueles para levar água da chuva para os bueiros, esses cavaletes passavam pelos pés da gigantesca estátua e formavam uma estrela que conhecia bem; a estrela de Mazus, meu corpo levita a alguns centímetros do chão e caem me pondo de costas nos chãos e meus braços enfincados nas lanças, como se estivesse crucificado no chão, as lanças sobem me colocando na mesma altura da estátua, meu sangue escorria pelos meus braços caindo no cavalete, ele andava por todo o caminho, a estátua ficava vermelha.

Cinco anjos caíram em pé ao lado de Erick, um deles eu conhecia, era Brendo, um outro senhor alto, com asas maiores que a dos outros disse em vós alta:

- Chegamos em tempo?

- Não senhor, o ritual para abrir a porta do inferno está quase completo - disse Erick.

- Devo interferir Uriel? - Ouvi Jhonatan perguntar.

- Sim, não podemos deixar abrir o portão - falou o homem mais velho.

- Ok! Vamos... Jhol tire seu primo de lá antes que ele morra, e deixe os anjos negros conosco - disse Erick.

Os anjos levantaram voo e vieram para meu lado.

Jhol se movia em uma velocidade impressionante, quando chegou até mim, um dos sete anjos pulou entre nós, não deixando meu primo encostar em mim que já estava completamente sonolento, estava perdendo muito sangue.

- Preciso de ajuda aqui - disse Jhonatan pulando para trás.

- O que esta acontecendo aqui? - Meus irmãos haviam decido até nós seguidos por Tawan e Jaqueline.

Uriel se movimentava como um relâmpago, mal conseguia acompanhar os movimentos dos anjos. Sinto um calor muito grande me invadindo, a porta para o inferno estava começando se abrir.

- Vou te tirar daqui Benjo...

- Milena? - Minha amiga estava puxando meu braço - como você...

- Sem perguntas Benjo - seus olhos estavam encharcados de lágrimas - Não se preocupe, não vou deixar nada acontecer com você.

- Milena eu... Aaaaaaaaaaaai - ela havia tirado um de meus braços perfurados, a dor foi muito grande.

- Me desculpe - ela sorriu.

- Seu sorriso cura minhas feridas Milena - disse tentando acalmá-la.

- Então melhor eu continuar sorrindo - ela mal acabou de dizer e puxou meu outro braço. Caio da altura de uns dez metros, antes de chegar no chão um anjo me segura.

O portão que havia começado a se abrir parou no mesmo momento, eu estava fraco, havia perdido muito sangue. Os anjos continuavam em uma batalha sem trégua, preferia não olhar, não queria ver nenhum de meus amigos feridos.

Me arrastei até a ponta da escada onde os outros estavam, Tawan correu para me ajudar, Débora se ajoelhou ao meu lado e segurou meus pulsos onde estavam feridos.

- O que está fazendo? - perguntei.

- Às vezes acho que você se esquece de que sou uma sacerdotisa - Os buracos se curaram instantaneamente.

- Pelo menos se seu filho se machucar não vai precisar de mertiolate - disse Milena rindo.

- Não - gritou Antuérpia quando viu que eu havia escapado.

- Foi à garota - berrou Fauzer.

- Milena, você traiu sua própria raça - grunhiu Jennifer.

- Não faço parte de nada que esteja envolvido com vocês - gritou Milena - Não quero vingança...

- Vingança? - perguntei sem entender...

- Benjo, você sempre quis saber como foi minha vida, não é mesmo? - disse Milena de cabeça baixa - esta na hora de lhe contar...

- Milena? - disse Erick.

- A deixe - falou Uriel colocando sua mão no peito de Erick, impedindo o garoto de andar.

Bonbenjo
Enviado por Bonbenjo em 20/10/2014
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