Isabelle

Faltava um quarto de hora para meia-noite, Jonah e seus dois irmãos, Marcos com treze anos de idade e Sophia com onze anos de idade, eles estavam sentados em volta da pequena mesa de café da sala, não havia energia no bairro e tudo o que tinham era um punhado de velas, Jonah o mais velho lembrou-se que seu avô foi um grande escritor e sempre tinha as melhores histórias. O garoto aproveitando a ocasião implorou para que seu avô contasse uma história bem assustadora. O velho pensava em não fazer isso, porém acabou cedendo à vontade de seus netos.

O velho disse a eles:

- “Prestem atenção, pois a história que lhes direi não é uma história qualquer, já relatei esta mesma história para diversos amigos...”.

Em seguida o velho fazendo o sinal da cruz proferiu as seguintes a palavras:

- “Que Deus os tenha!”. Logo a história se iniciava...

- “ Tudo começou em um inverno de mil novecentos e quarenta e sete, não foi um dos mais rigorosos que eu já havia enfrentado, porém foi o pior de todos, aconteceram muitas coisas naquele inverno, mas foi em uma determinada noite, que eu me lembro até hoje, que eu e meu melhor amigo, Matheus, naquela época nossas famílias estavam sempre juntas, eu o conhecia desde que eu era criança, cultivávamos uma amizade longa e duradoura... Mas como eu os dizia era comum que nossas famílias saíssem juntas, naquela ocasião estávamos na Igreja, como todo e bom cristão íamos para as missas aos domingos durante a noite, naquela noite em particular havia chegado ao bairro uma dama muito bela, ela voltava de uma longa temporada que passou na Inglaterra, disse-nos naquela ocasião. Ela havia nos presenteado com sua formosíssima presença aquela noite, Matheus e eu ficamos completamente deslumbrados com tanta beleza. Ela possuía longos cabelos ondulados, de um tom castanho levemente avermelhado, seus olhos... ah... Os olhos possuíam um verde tão belo e seus lábios não eram grandes e tampouco pequenos, porém eram bem contornados com um vermelho tão vivo, sua pele era branca como a neve, e aquele vestido vermelho o qual ela trajava era absolutamente chamativo, acompanhávamos com nossos olhos o seu avanço pela porta, era como se todos ali tivessem parado por um momento somente para vê-la passar, olhei rapidamente para o meu lado e Matheus estava completamente deslumbrado, seus olhos brilhavam tanto quanto os meus, ela delicadamente passou por entre as pessoas que estavam em nossa fileira e sentou-se ao lado de Matheus. Naquele momento eu o invejara bastante... A noite prosseguia e a missa também ao final a bela garota apresentou-se como Isabelle, como eu amava pronunciar aquele nome com aquele sotaque estrangeiro”.

- “Certo até agora só ouvimos o senhor nos dizer o quanto era bela essa Isabelle e onde está o terror?” – interrompeu extremamente chateada e com a face fechada, a pequena Sophia.

- “Tenha calma, meu anjo...” – disse o velho tão sereno.

- “Como eu estava dizendo, a noite prosseguia e já havíamos retornado para as nossas casas e minha mãe e minha tia comentavam sobre a chegada da formosa jovem...”.

-“Você viu a forma como aquela garota se vestia?” – indagou a tia de Lucas.

- “Sim, e a forma como ela vestia e portava-se, um absurdo!” – afirmava a mãe do jovem.

- “ Certamente ela é uma meretriz!” – afirmava a tia com completa repulsa.

Após ouvir tamanha calunia sobre minha adorada Isabelle, parti para a sala em sua defesa, repreendi as duas que falavam às costas da pobre jovem que não estava ali para defender-se de seus ataques maldosos, ambas chocaram-se com minha reação e tentaram fazer minha cabeça dizendo que ela já havia me seduzido, a discussão sem sentido estendeu-se por mais trinta minutos e então decidi por subir para meu quarto e não ouvir mais nada a respeito de Isabelle. Ao abrir a porta senti uma leve brisa gelada bater em meu rosto, resolvi fechar a janela de meu quarto, pois estava bem frio ali, deitei em meu leito e passei a relembrar o breve momento que tive ao lado de Isabelle na Igreja, junto às imagens dela ouvia os comentários maldosos a seu respeito e acabei acordando completamente suado e nervoso durante a madrugada, ouvi uma voz em um tom completamente doce chamar ao meu nome, aquela voz parecia-me familiar, resolvi levantar de minha cama e olhar através da janela, lá eu observava a rua, e não havia nada além de uma névoa muito densa e suspeita, pude ver nitidamente alguém mover-se por ela, mas não pude identificar quem era a pessoa, parecia ser um homem de estatura mediana e porte físico mediano também, por um segundo desviei meu olhar do local onde se encontrava a tal silhueta, e no instante em que olhei de volta não havia nada lá, repentinamente um enorme calafrio tomou meu corpo era como se começasse em minhas costas e subisse em direção a minha nuca, senti um agouro tão grande quando ouvi um uivo e era tão amedrontador e denso que todos os cães desesperados latiam e uivavam um após o outro. Fiquei em frente à janela durante uns dez, ou até mesmo uns quinze minutos para ver o que sucederia, em meio aos uivos ouvi um grito, um grito feminino, corri diretamente para os quartos para verificar se estavam todos bem, nada encontrei, pois todos dormiam em paz, resolvi por voltar ao meu quarto e deitar e fazer exatamente o mesmo que todos em casa. Depois de ter amanhecido, desci até o andar debaixo em direção à cozinha onde todos se encontravam, lá estavam minha mãe, meu irmão mais velho e minha tia...

- “Bom Dia a todos!” – eu disse.

E eles me olharam e não disseram completamente nada, provavelmente continuavam chateados após a discussão de ontem, o clima no café da manhã estava tenso, repentinamente resolvi quebrar o clima perguntando sobre algo da noite passada...

- “Por acaso vocês ouviram os cães uivarem esta noite?”.

- “Não.” – respondeu completamente seco o meu pai.

- “Inclusive eu ouvi o grito de uma mulher...”.

- “Deveria ter sido a esposa do padeiro...” – todos olhavam para minha tia. Logo ela completou... “ela adorava gritar e gemer todas as noites...”.

- “Não, não foi isso. Era um grito completamente diferente...”.

Após tanto tempo divagando sobre o que poderia ter ocasionado o grito, eis que recebo a noticia de que o filho mais velho do padeiro foi encontrado morto por sua própria mãe, assim que eu ouvi o relato relacionei imediatamente ao que vi na noite passada. Em seguida recebi a visita de Matheus, ele a meu ver me parecia um pouco abatido e veio relatar sobre o sonho que tivera.

- “Lembro-me de ter adormecido e no meio da noite levantei-me da cama, segui em direção à porta e era como se algo me chamasse... Desci as escadas até a porta da frente e em seguida eu a destranquei e fui em direção à rua, adentrei um nevoeiro que estava cobrindo toda a visão da rua e eu tive a sensação de que de longe alguém me observava...”.

Fiquei completamente surpreso com tal relato e em seguida em eu relatei minha experiência na mesma noite que lhe ocorrera o sonho.

- “Vi na noite passada um homem dentro do nevoeiro, me distrai por um instante e quando voltei meus olhos para a janela onde eu estava não havia homem algum na rua”.

- “Quais as chances de estarmos ligados no mesmo sonho?” – perguntava Matheus completamente pálido, impressionado.

- “Não sei o que pensar, nem mesmo o que lhe dizer...” – respondi ao meu amigo.

Matheus e eu passamos grande parte do dia indagando sobre estas possibilidades, porém nada nos vinha em mente, antes mesmo de anoitecer Matheus resolveu partir de volta para casa, pois sentia-se cansado. Mais uma noite havia caído e eu deitado em minha cama fiquei pensando em tudo o que aconteceu na noite anterior desde o encontro com Isabelle, a discussão com minha família, o acontecido com o filho do padeiro e até mesmo os relatos de Matheus, todos os esses pensamentos me deixavam mais cansado e lentamente minhas pálpebras pareciam ficar mais e mais pesadas, não consegui lutar contra o meu cansaço e acabei por adormecer com a porta e janela abertas. O mais estranho é que eu sonhava com uma mulher o qual eu não conseguia identificar, ela estava no meio do nevoeiro, o mesmo que cobriu a rua inteira na noite passada, ela chamava pelo meu nome, como se eu estivesse completamente em transe eu atendia ao seu chamado e me dirigia em sua direção, novamente acabei acordando com esta voz em minha mente e fui direto para a janela, olhei através dela para a rua e lá havia um homem parado olhando fixamente para algo dentro da névoa, porém vi outra silhueta dentro da névoa e percebi que algo estava errado, não parecia um sonho, resolvi seguir ambos, corri imediatamente em direção à porta de entrada da casa, decidi por seguir as duas figuras a fim de impedir que outro corpo seja descoberto, comecei a seguir uma das figuras, ele andava como se não quisesse ser visto e repentinamente notei algo estranho dentro da névoa, era uma forma grande como se fosse um cão com os pelos do pescoço até as costas eriçados, eu podia ver nitidamente os olhos vermelhos como fogo, olhos que pareciam atravessar-me. Em seguida ele começou a andar em minha direção, minha reação foi de correr para dentro de casa que não estava tão longe assim, olhei para trás para verificar se eu estava sendo seguido, não sei se foi sorte ou algo extremamente bizarro, mas não havia mais cão ou névoa, ela parecia estar mais adiante de mim ou apenas se dissipando. Entrei em minha casa estava completamente confuso com tudo o que havia acontecido, neste momento ouvi um uivo horripilante e ao mesmo tempo alguém gritando, soube exatamente o que isso significava.

- “E quem era próxima vítima?” – perguntou Marcos, extremamente afoito para saber o desfecho da história.

- “Infelizmente após algumas horas a notícia havia se espalhado rapidamente, minha mãe na ocasião havia entrado no meu quarto rapidamente, consegui notar no semblante dela toda aflição que ela guardara, resolvi então perguntar-lhe o que havia acontecido”. Em seguida ela desferiu palavras que me atordoaram e me deixaram sem qualquer reação possível, pois ela me disse que o irmão mais velho de Matheus, outra pessoa que cresceu praticamente comigo, foi encontrado morto, seu corpo havia sido destroçado, havia marcas de dentes, seu peito estava aberto, mas não havia sinal de seu coração. Pensei no primeiro momento que era alguma brincadeira de mau gosto, resolvi olhar pela janela mais uma vez, e de lá vi diversos carros encostados na porta da casa do Matheus, logo percebi que era a realidade que eu confrontara naquele exato momento.

Conforme as semanas passavam a situação ficava cada vez mais estranha, todas as noites um corpo diferente era encontrado, o último era o de uma menina de apenas dez anos. Antes de anoitecer a mãe de Matheus apareceu em casa completamente aflita, ela viera perguntar a mim se eu tinha alguma ideia do que acontecia com ele”.

- “Ele mal frequenta a Igreja, não compareceu mais ao serviço dele e passava praticamente o dia inteiro no quarto, certa vez o vi sair às três da manhã sem rumo dentro do nevoeiro.” – relatou a mãe de Matheus.

Resolvi acompanhar a mãe dele de volta para casa e tentar conversar com ele para saber o que estava ocorrendo, ao adentrar na casa dele fomos surpreendidos por ele completamente alegre totalmente eufórico.

- “Tive uma excelente ideia!” – afirmava Matheus em meio a sua euforia.

- “Que ideia meu filho?” – perguntava a mãe aflita e sem entender nada.

- “Eu a convidarei para jantar conosco. Vamos formalizar nossa união e eu gostaria que você, o papai e você também Lucas ficassem para conhecê-la!” – dizia Matheus com um sorriso estranho em seu rosto.

Não tive muita escolha a não ser aceitar o tal convite, ele exigia que todos estivessem pontualmente às nove da noite em sua casa e em trajes completamente formais.

Voltei para casa indagando sobre quem poderia ser a misteriosa esposa de Matheus, não me ocorrera ninguém, o que era estranho, pois ele haveria de ter contado se estivesse saindo com alguém, com todo esse devaneio a respeito da misteriosa mulher, eu havia me atrasado bastante e pior nem havia começado a me arrumar, Matheus o conhecendo bem como eu o conheço detestava mais do que tudo atrasos, e eu estivera completamente atrasado. Eu havia terminado de me arrumar e desci rapidamente para o andar de baixo da casa, corri e fui despedir-me de minha mãe e não encontrei ninguém, tranquei a porta rapidamente e segui em direção à casa de Matheus, eram nove e vinte e o tempo não estava a meu favor, o céu estava completo de nuvens escuras e relampeando, quando eu finalmente havia chegado na casa dele, fui surpreendido por meu pai que me aguardava ao lado de fora da casa.

- “Está atrasado meu filho...” – dizia meu pai me repreendendo.

- “Desculpe eu estava pensando em algumas coisas e perdi a noção do tempo.”.

- “Vamos entrar todos nos aguardam...”. - disse o pai com um tom meio apressado.

Finalmente entrei na casa e lá estavam eles, os pais de Matheus, minha mãe e o próprio Matheus e ao lado dele uma bela dama, quando fui cumprimentar-lhe fiquei pasmo, pois se tratava de Isabelle. Levei sua mão até os meus lábios e a beijei, senti sua pele fria e lhe disse que estava encantando. Em seguida perguntei-lhe preocupado:

- “Estais com frio?”.

- “Não, não. Obrigada pela preocupação!” – dizia suavemente.

- “Sua mão está muito gelada, pensei que estivesse com frio”.

- “Não precisa se envergonhar Isabelle. Posso buscar um casaco para você se aquecer.” – dizia Matheus.

- “Não é necessário, estou bem assim...” – afirmava a jovem dama.

O jantar havia sido um sucesso, todos não falavam outra coisa a não ser sobre os noivos, logo me dirigi para casa, estava evidente que eu estava completamente enciumado, passei pela Igreja, pois ao mesmo tempo me sentia mal com a tal noticia.

- “Sente-se bem meu jovem?” – perguntara Padre Roberto.

- “Sim. Sim, senhor, eu estou apenas um pouco atordoado com uma notícia que recebi”.

- “A noticia seria o casamento de Matheus?” – perguntava o padre.

- “De certa forma”.

- “Deveria estar feliz por seu amigo...”.

- “De fato. Mas sinto ciúmes deles...”. – respondi envergonhado.

- “É completamente normal sentir ciúmes, afinal viveram sempre juntos e Isabelle é uma bela moça”.

- “Isso é o que me deixa enciumado... Isabelle”.

Logo notei que o semblante do padre havia mudado e o questionei. “Está bem?”

- “Sim, meu filho. Apenas reze bastante para o Senhor e seu coração se aquietará. E reze também pelo seu amigo que também precisa muito das preces de alguém sincero como você”.

Sem entender o que ele quis dizer por ultimo fui para casa e antes mesmo de dormir, fiz exatamente o que o padre me sugeriu, ajoelhei em frente minha cama e comecei a rezar, em seguida em completa serenidade resolvi deitar-me e dormir. Porém esta paz foi quebrada com sussurros em meus ouvidos, eu ouvia nitidamente uma voz feminina chamar o meu nome, ouvia algo ricochetear em minha janela, levantei-me da cama e com muito pesar olhei para janela, ali vi um homem com uma túnica negra, reconheci imediatamente, era o Padre Roberto. Desci imediatamente para descobrir o que ele desejara tão tarde da noite, ele sem muitas explicações pediu para segui-lo. Distanciávamos-nos de casa e de qualquer lugar, eu começava a ter pensamentos sobre o que ele queria comigo a esta hora e tão longe de tudo. Repentinamente ele parou.

- “Vamos para trás daquela mureta.” – ordenou-me.

Sem entender fiz o que lhe me disse e nos escondemos ali.

- “Observe atentamente e entenderá minhas palavras mais cedo” – disse o padre em voz baixa.

Não demorou muito e a névoa começou a aparecer, foi tudo repentino, ela ficava mais densa e por um instante pude ver o mesmo cão enorme que eu vi há um mês, mais adiante vi a silhueta do mesmo homem, ele se aproximava mais e pude ver a silhueta tomando formas, como os trajes finos, notei que era um rapaz de minha idade, seus cabelos castanhos, suas costas largas, então o reconheci, quando resolvi chamar pelo nome dele, o padre de supetão, colocou sua mão sobre minha boca e ordenou-me ficar em silêncio, não demorei a entender... Vi o cão parado encarando o rapaz, minha vontade era gritar, foi neste momento que fui surpreendido pelos meus próprios olhos, vi nitidamente o cão tomar feições humanas, mais precisamente feminina, completamente nua, reconheci a mulher, era Isabelle, o rapaz que fora a seu encontro lhe agarrou imediatamente, começou a beija-la e em seguida ela colocou sua cabeça entre o ombro e a cabeça do rapaz, ficou durante um tempo naquela posição até que o rapaz desfaleceu em seus braços. Fiquei horrorizado com o que vi, para ser mais preciso, nem acreditara no que eu via, quando eu estava prestes a sair dali, senti algo me segurando pelo ombro e me jogando no meio da rua, quando dei por mim, isso em questão de segundos, vi Isabelle sobre o corpo do velho padre que segurava firme seu crucifixo. Ela simplesmente olhou para mim e sorriu em seguida me ignorou e sumiu junto com a névoa. Fui até onde estava o corpo do rapaz e o reconheci, felizmente não era Matheus, embora os dois fossem semelhantes. Não consegui dormir com tudo o que presenciei, esperei no canto direito do quarto longe da janela ou da porta o dia amanhecer, precisava alertar Matheus sobre o perigo que corria. As horas passavam devagar, eu vi o relógio apontar três, quatro, cinco, seis da manhã. Minha mãe veio até meu quarto dar a noticia sobre as vitimas da noite anterior, ela havia me encontrado sujo, com olheiras e não conseguia entender, eu simplesmente levei minha cabeça ao seu ombro e lhe disse: “Você estava certa!”. Levantei-me e fui em direção ao banheiro me lavar, deixei- a sem entender o que eu queria dizer, eu tinha um objetivo, tinha de avisar Matheus, antes de me dirigir até a casa dele fui ver se o padre Roberto estava bem, e perguntei ao padre João se ele tivesse visto o padre Roberto, ele me disse que ele havia arrumado suas coisas assim que voltou de sua volta noturna e não disse nada sobre para onde iria. Não perdi muito tempo, fui imediatamente até a casa de Matheus, meus assuntos eram de extrema urgência, foi o que aleguei a mãe de Matheus, que me deixou entrar sem entender nada, notei que em seu semblante havia preocupação, ela consentiu e permitiu meu avanço, atravessei a sala e fui até a escadaria que levaria até os quartos, lá encontrei a porta do quarto dele fechada, eu a abri com cuidado e então adentrei, lá estava ele deitado sobre os cobertores, completamente pálido, com os olhos fundos, assustei-me ao vê-lo daquela maneira.

- “Onde está Isabelle?” – perguntei-lhe.

- “Resolvendo alguns negócios.” – ele me respondeu completamente seco.

- “Que negócios são esses que são mais importantes do que a saúde de seu próprio esposo?” – indaguei.

- “ Negócios sobre o casamento.” – respondeu com dificuldade.

- “Você precisa desistir deste casamento, ela vai te matar, fará o mesmo que fez com o filho do padeiro, seu irmão e todas as vítimas até agora...”.

- “Você me inveja por eu ter conseguido uma mulher extremamente bela, estou feliz e em completa prosperidade, não necessito de pessoas que desejam que tudo dê errado.” – esbravejou.

Em seguida levantou cambaleando da cama, e andou em minha direção com muita dificuldade, ao tentar me empurrar ele caiu de fraqueza em meus braços e notei que ele possuía dois pequenos furos em seu pescoço.

- “O que é isso em seu pescoço?”- perguntei-lhe.

Ele levantou-se e cobriu o pescoço e pediu para que eu me retirasse. Fiz exatamente o que me pedira, acabei batendo a porta do quarto de raiva, sua mãe completamente paralisada me olhava sem entender o que acontecia, sai de lá completamente chateado e revoltado por ele preferir acreditar nela a que a mim, seu amigo de infância, também eu não podia esconder a preocupação, pois era evidente que Isabelle o consumia lentamente, porém algo não se encaixa, por que ela o consumia tão lentamente e ao mesmo tempo matava a outras pessoas? Aquela duvida crescia cada vez mais, eu não conseguia cogitar a possibilidade dela o amar de verdade, porém da mesma maneira ele estava morrendo. A fim de impedir que o pior aconteça decidi ficar na espreita para impedi-lo de encontrar-se com Isabelle, fiquei a noite inteira esperando um dos dois fazer seu movimento, até que após tanta espera fui recompensado, eram três da madrugada, a névoa indicava a aproximação de Isabelle, a névoa ficava mais densa à medida que se aproximava, pude ver claramente o enorme cão parar de frente para casa e assim como na noite anterior pude o ver voltando à forma humana, a névoa dissipava, ela nem precisou encostar-se à maçaneta, a porta se abriu com extrema violência e em seguida ela adentrou a casa, sai rapidamente do meu quarto em direção à casa de Matheus, lá vi a porta aberta, e entrei também, pude seguir os rastros de sangue, antes que ela pudesse entrar no quarto tentei impedi-la, mas nada havia no corredor, a porta continuava trancada e quando suspirei de alivio, algo me puxou com extrema violência e me arremessou para o outro lado do corredor, em seguida Isabelle estava sobre o meu corpo.

- “Você não cansa de ficar entre nós...” – dizia Isabelle irritada.

- “É você quem está entre nós” – respondi tentando me soltar

- “Deixe-me dizer uma coisa, ele já me pertence e fará de tudo para estar comigo”.

- “Por que o faz sofrer?” – indaguei.

- “Porque eu o amo” – respondeu a vampira. Em seguida ela cravou seus dentes em meu pescoço e aos poucos fui perdendo minha consciência, a última coisa que me lembro foi de ela entrando no quarto dele. Acordei antes do amanhecer, estava atordoado fui em direção ao quarto de Matheus, lá o encontrei inerte em sua cama, não havia nenhuma gota de sangue em seu corpo, ele foi consumido completamente junto com o amor que ele sentia por Isabelle.”.

As crianças após o relato de seu avô puderam notar em seus olhos algumas lágrimas descendo o rosto do velho e cansado. Sophia em um gesto de solidariedade abraçou o avô e logo adormeceu junto com os outros irmãos no colo do velho Lucas.

Nando Soares
Enviado por Nando Soares em 24/10/2014
Código do texto: T5010449
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