MÃO BRANCA

"Duas mulheres foram encontradas mortas no Beco da Gia, os corpos estavam perfurados na cabeça e apresentavam evidência de que tinham sido violentados sexualmente. A polícia acredita que o autor dos crimes é o Serial-Killer conhecido como Mão Branca... A seguir o novo episódio da série Supernatural. "

Daniel pegou o controle e desligou a televisão, encostou a cabeça no apoio da poltrona e fechou os olhos por um momento. Estava cansado, pensava sobre os últimos acontecimentos da sua vida.

Sua mulher havia o deixado há apenas alguns dias e ele ainda afogava as mágoas na bebida. Pegou a garrafa de Uísque e começou a beber no gargalo, não ia para o trabalho desde que fora abandonado, seus dias eram limitados a duas tarefas: Cuidar da filha e beber durante toda a noite.

Julia tinha deixado para trás a filha de apenas três anos. Mariana era uma menina muito bonita e meiga, seu rostinho angelical apresentava um semblante triste e solitário. Ela está assim desde que a mãe foi embora era o que pensava o bêbado, enquanto bebia mais um pouco.

No início eles eram uma família comum, todos os dias o homem saia de casa pela manhã e seguia em direção ao trabalho. Era editor chefe de um jornal impresso, passava o dia inteiro lendo e editando matérias. Quando chegava em casa a noite era recebido por sua mulher e filha, as duas estavam sempre sorridentes.

Essa vidinha rotineira durou exatos dois anos, até que a esposa começou a reclamar de que tudo na casa era normal demais, começaram as brigas e tudo foi piorando.

Até que ela desapareceu.

Foi um choque quando o editor chegou em casa e não encontrou ninguém, em cima da mesa estava um bilhete escrito a mão. Sua filha estava dormindo no quarto e parecia não perceber que a mãe tinha ido embora.

"Cansei dessa vidinha perfeita, quero aventura... quero emoção na minha vida. Adeus. "

A frieza da mensagem exalava através do papel e tudo o que fez naquele dia foi chorar.

Quando a garrafa de Uísque acabou o homem levantou e caminhou em direção ao seu quarto, girou a maçaneta vagarosamente e entrou no recinto. Observou a cama por alguns momentos, foi tomado por uma série de lembranças do tempo de casado, todos os momentos de carinho e até mesmo as brigas. Como sentia falta daquilo!

Deitou-se e ficou observando o teto, esperando o dia amanhecer. Fazia alguns dias que não dormia direito, sempre que fechava os olhos via o bilhete e a verdade que ele trazia.Eu sou um idiota! Foi basicamente o que ela quis dizer.

Naquele exato momento decidiu que não iria mais sofrer, decidiu que seria um novo homem, um homem que não tinha limites e que faria de tudo para ser feliz.. iria viajar, iria participar de festas e dirigir em alta velocidade. Mas e a Mariana? Ela não pode me acompanhar... Por um breve momento pensou em deixar sua filha com os avôs e fugir, mas imediatamente o pensamento abandonou sua cabeça. Não quero ser igual a Julia!

Quando a manhã chegou, levantou-se e foi preparar o café da filha. A cabeça doía e os olhos estavam cansados, mas mesmo assim conseguiu fritar alguns ovos e preparar uma salsicha. A menina entrou na cozinha e o pai notou nela algo a mais da tristeza habitual que a havia assolado nos últimos dias.

-O que foi meu anjo? Está parecendo tão triste. Perguntou o rapaz, enquanto servia o desjejum.

-Nada não, papai.. A garota olhou para baixo quando respondeu. Ela sempre faz isso quando tá mentindo.

-Tem certeza? Sabe que pode me contar tudo.. né?

-Sei sim.. não é nada não.

-Jura?

-Juro.

-Tá bem, coma logo que o ônibus do colégio já vai chegar. "Quando ela estiver pronta, me conta o que é." Pensava, enquanto preparava a mochila do colégio para sua filha.

Quando o transporte escolar foi embora, Daniel sentou-se no sofá e ligou a TV novamente. Buscou por um jornal e começou a assistir.

Nos últimos meses a cidade de Patos tem sido assolada por diversas mortes do misterioso assassino conhecido como Mão Branca.Foi confirmado que os corpos encontrados ontem no beco da gia foram vítimas do assassino.Contando com estes, o Serial-Killer já soma quinze assassinatos . Para se identificar o criminoso deixava uma luva branca em cima do corpo de suas vítimas.

-Mas que porra, parece que em todo lugar só se fala nesse louco! Quanto mais derem mídia pra esse assassino, mais ele vai matar! Dizia Daniel que começava a ficar bêbado, enquanto levantava-se e seguia e direção ao armário da cozinha, retirando mais uma garrafa de Uísque.

Depois de algumas horas o telefone tocou, a bina informava que era do jornal mas o homem simplesmente ignorou. Eles que se fodam. Pensou, antes de deitar e começar a dormir.

O sonho foi agonizante, ficava vivenciando repetidamente o momento em que leu o bilhete. Algumas vezes a imagem de Julia aparecia beijando outro homem, outras vezes ela dava adeus pra ele e depois começava a correr.

O pesadelo foi interrompido quando a campainha tocou. O rapaz levantou-se e deu de cara com o grande espelho do guarda roupa, que estava na frente da sua cama.A visão não era nada agradável, a barba e os cabelos precisavam ser aparados ao passo de que olheiras completavam a aparência digna de um morador de rua.

Só parou de se olhar quando a campainha tocou pela segunda vez, levantou-se vagarosamente e caminhou até a porta de entrada. Abriu e se deparou com Junior.

-Cara, que porra foi essa em você? Tá parecendo um mendigo!

Junior era um jovem colunista do jornal, escrevia sobre esportes e muitos o consideravam um prodígio jornalístico. Era muito extrovertido e gostava de tirar brincadeiras de mal gosto com os colegas de trabalho.

Certa vez recebeu uma punição salarial por ter tirado xérox da própria bunda e espalhado às imagens por toda a empresa, com a legenda "Limpo todos os dias”.

-O que você quer?Perguntou um aborrecido Daniel, não gostava daquele garoto e nem da maneira como ele falava.

-Só queria saber se você estava bem, estão falando que tua mulher te trocou por um bombadã.. A frase foi interrompida por um soco deferido pelo editor.O jovem visitante caiu no chão e ficou observando seu agressor por alguns momentos, depois levantou-se e começou a caminhar pra fora da residência.

-Que porra foi essa? Perguntou a vítima, enquanto levantava.

-Não quero você falando nisso..

O colunista atravessou a rua com passos largos. Gritava palavras em um tom de voz alto e grave.

-VAI TER TROCO!

O bêbado fechou a porta com um baque e entrou em casa tremendo, não tinha entendido o que havia acabado de fazer. O ódio simplesmente havia tomado conta de seu corpo e ele agrediu o colega de trabalho.

Ele não devia ter vindo aqui mesmo, moleque folgado

Começou a preparar o jantar, sua filha chegaria em casa daqui a algumas horas. Mariana estudava em um colégio integral, passava a manhã cursando o ensino fundamental e a tarde realizava atividades extracurriculares como aulas de dança, pintura e música.

As oito em ponto a garota chegou e saboreou uma lasanha junto com o pai. Começaram a conversar sobre o dia.

-E ai, a escola foi boa?

-Foi sim, papai. A menina ainda estava triste, olhava fixamente para o prato.

-Mariana, o que tá acontecendo? Você está triste desde manhã..

-Não é nada, papai.

-Eu sei que é... Por favor, me conte.

-É... É que tem um monstro no meu armário. De repente ela começou a chorar descontroladamente.

Depois de vários minutos tentando convencer a filha de que não existia um monstro no guarda roupas, ela aceitou se acalmar se ele prometesse que verificaria o móvel antes de ir dormir. Decidiram então, ir assistir televisão.

O aparelho estava ligado em um jornal de notícias e trazia uma reportagem ao vivo.

O assassino conhecido como Mão Branca acabou de matar uma mulher próximo a Rua do Prado. O crime ocorreu há algumas horas e pedimos a todos que fiquem em casa e não abram a porta para ninguém.

-MAS PAPAI, A RUA DO PRADO É AQUI PERTO! É A RUA DEPOIS DA ESQUINA! A criança estava histérica, começou a gritar e a pular.

-Calma meu anjo, tá tudo bem.. está tudo fechado. Ok? Ele não vai vir até aqui.. E se ele vier eu te protejo. O pai tentava consolar a filha, que se aninhou em seus braços e começou a chorar.

Depois de algumas horas naquela posição, a menina adormeceu e ele a levou pra cama. Quando saiu do quarto verificou todas as janelas e portas. A janela da cozinha estava aberta mas o adulto rapidamente a fechou.

Pegou a garrafa de bebida e começou a beber, ficou nessa ação por vários momentos, até que escutou um barulho no quarto da filha e foi verificar o que era. Chegou no cômodo e acendeu a luz.

Teve a maior surpresa da sua vida.

A menina estava deitada pra cima, com o estômago arranhado profundamente. Vísceras e órgãos expeliam-se pelos cortes ao passo de que uma luva branca pousava em cima do rosto da menina. Ao lado do corpo tinha um bilhete.

Deveria acreditar mais na sua filha.. PS: Eu te disse que ia ter troco.

O último som que o homem escutou foi da porta do guarda roupa se abrindo com um baque. A facada veio logo depois.

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 30/10/2014
Código do texto: T5017434
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