Gritos No Cemitério

João trabalhava como pedreiro no centro da cidade. Para voltar à sua casa no final do dia, era uma longa jornada de quase hora e meia de bicicleta. Ele atravessava praticamente toda a cidade, ruas e avenidas movimentadas, até entrar por uma estrada de terra que ia dar direto no bairro de subúrbio onde vivia com a mulher e cinco filhos. E ali naquela estrada havia um cemitério, meio oculto entre as árvores antigas, mas mesmo assim dava para ver as cruzes e lápides ao passar. João não tinha medo de almas do outro mundo, mas pelo sim pelo não, sempre fazia o sinal da cruz ao passar ali.

Era um início de noite como qualquer outro, João seguia seu roteiro diário distraído, pensando nas roupas que compraria para as gêmeas de 3 anos quando sacasse a grana do Bolsa Família. Foi quando, passando diante do cemitério, ouviu uns berros de arrepiar, vindos lá de dentro... gritos de dor, de desespero, de agonia! João não tinha medo de fantasmas, mas dessa vez se arrepiou desde a sola do pé até a raiz do cabelo, fez o sinal da cruz e pedalou para longe dali o mais rápido possível...

Chegou em casa, tomou banho, comeu seu feijão com farinha e não comentou nada com a mulher, ela o chamaria de louco... mas, nos dias que se seguiram, todo dia à mesma hora, quando João passava diante do cemitério ouvia os lúgubres berros... ele já andava aterrorizado, mas não havia outro caminho para chegar em casa e, sendo um cara corajoso, um dia resolveu desvendar aquele mistério e ver de onde vinha aquele som. Quem sabe era gente viva, precisando de ajuda... assim, naquele entardecer João ao ouvir os arrepiantes gritos parou e desceu da bicicleta. Fez o sinal da cruz e, rezando sem parar o Pai Nosso e a Ave Maria, começou a andar em direção ao cemitério.

- Tem alguém aí? - perguntou, entrando portão a dentro.

Estava muito escuro lá dentro, o vento sussurrava por entre as árvores... João tropeça numa lápide, solta um palavrão, segue andando. Os gritos continuam, gemidos pavorosos, vinham bem do fundo do cemitério. Ele pega seu canivete de dentro do bolso, é super afiado e perigoso, sua testa está banhada de suor frio, mas ele não deixa de andar.

- Quem está aí? - repete - Se for de Deus fale, se for do Outro, me deixe em paz!

Nada... os gritos se transformam em soluços cortantes. Então João chega nos fundos do cemitério, onde ficam as covas rasas, e lá tem a visão mais pavorosa de sua vida! Debruçado sobre um daqueles montes de terra preta estava um vulto todo ensanguentado, desfigurado, mas mesmo assim ele reconheceu que se tratava do fantasma de seu vizinho, um rapaz de 19 anos viciado em drogas que fora morto pela polícia alguns dias antes. Ao vê-lo, a aparição estendeu os braços suplicante, e depois foi de alguma forma tragado para o fundo da terra, aos berros de desespero, e a terra ficou coberta de vermes fervilhantes!

João dá um grito de pavor e sai correndo com todas as suas forças... nem sabe como chegou em casa, fica em estado de choque e com muita febre por vários dias... era o Leandro, ele tinha certeza! Conta à mulher, ela manda rezar algumas missas por alma do garoto. E João nunca mais passou em frente ao cemitério...

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 17/12/2014
Reeditado em 19/12/2014
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