Das Profundezas

Sempre acreditei que a noite, escura, silenciosa e fria, guardava no seu íntimo os piores medos da mente humana. Mas estava enganada. O medo, invasor sinistro de nossa quietude diária, não tem noção das coisas, pode vir a qualquer momento, seja dia ou seja noite.

E foi num belo dia, quente, divertido e de céu azul, que ele me visitou.

Na praia lotada estava eu, diversos banhistas curtiam o verão, verão atípico, mais quente e seco que o normal. Mas para nós era como uma benção, dias e dias de tempo claro, sem nuvens, o Sol irradiava toda sua força estelar sem obstáculo algum, as pessoas riam, se divertiam, não se preocupavam com coisa alguma.

As ondas baixas traziam as águas frias das profundezas do oceano, crianças, jovens e adultos brincavam e se refrescavam. Era um dia belo, um belo dia.

E eu entrei na água, pulava as pequenas marolas, molhava o corpo, os cabelos, me entregava ao sabor do mar. E então ele surgiu.

Senti suas garras em minhas pernas, penetrando na carne como faca na manteiga, senti dor e quis gritar, mas o grito foi abafado pela água que invadia minha garganta. Rapidamente fui arrastada, levada para longe da praia, sugada para as profundezas.

E num relance olhei para meu algoz. Seus olhos vermelhos, suas barbatanas costais, suas garras enormes e sua mandíbula cheia de caninos. Tinha o tamanho de um homem, a anatomia de um homem, mas não era um homem.

E seja lá o que for me levou com ele, acima de mim via apenas um azul celestial salpicado pelos raios de Sol que teimavam em invadir as águas do mar. Abaixo, somente o frio e a escuridão, até meus sentidos se perderem. Agora não era nada, apenas uma presa de um monstro das profundezas.

Alicia Alves
Enviado por Alicia Alves em 25/01/2015
Código do texto: T5114224
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