A mulher e o caixeiro-viajante

João Bento, um jovem homem do interior do Ceará , trabalhava como caixeiro-viajante e era muito conhecido na cidade onde morava, por sua coragem de andar nas estradas , toda hora da noite. Ele andava sempre bem arrumado e adorava visitar seus amigos , principalmente quando voltava de suas longas viagens. Andava de dia e de noite e não tinha medo de nada, nem de gente viva nem de gente morta .

Um dia , João Bento saiu à noite para visitar um de seus amigos e esqueceu da hora de voltar para casa. Foi quando seu amigo, olhando em seu relógio , mostrou-lhe a hora. Eram onze horas e vinte minutos. Mas ele não era medroso e só deu uma risadinha. Despediu-se de seu amigo e saiu tranquilo. Afinal , João confiava na sua coragem ,e, principalmente , na proteção do santo de sua devoção. Então, João Bento pegou a estrada que, sem eletricidade naquela época, estava iluminada apenas pela lua cheia.

O caixeiro-viajante lembrou de algo que sua mãe sempre falava:

_Cuidado , João! Não deixe para voltar muito tarde da noite. Dizem que está aparecendo na estrada uma assombração.

_ Isso não existe, mãe. Quem morre não volta mais.Se eu tiver que me assustar , com certeza será de um vivo , não de um morto.

Ele continuou sua caminhada de volta para casa. Mas a voz de sua mãezinha não saia de sua cabeça. Ele cantarolou uma música baixinho e tratou de esquecer aquilo

A rua foi ficando atrás de João . Então ele passou o rio que cortava a estrada , por onde teria que fazer uma longa caminhada , até chegar em sua casa. Ele olhava aquela estrada longa e estreita, parecia que ela não tinha fim. Mais uma vez lembrou do que sua mãe lhe dissera, sobre a assombração , todavia ele não tinha medo e seguiu sua caminhada.

Quando o homem chegou na metade da estrada avistou um vulto , porém, não sentiu medo . João então pensou: “ Que bom que não vou passar essa estrada sozinho”. Apressou o passo e viu que era uma mulher. João se perguntou: “ O que essa mulher anda fazendo a essa hora da noite ?” Andou mais depressa ainda, pois agora ele estava curioso , e queria saber mais sobre aquela mulher. Mas ele não conseguia ver direito aquela mulher, pois a estrada estava iluminada apenas pela lua.

João Bento começou a olhar a mulher e viu que era uma mulher alta, magra, cabelo longo e parecia jovem. Na cabeça de João passou uma vontade de conhecer melhor sua companheira de estrada. Puxou conversa.

_Boa noite!

O silêncio parece que se fez mais presente do que antes.

_ O que faz uma mulher bonita sozinha , numa estrada como essa ,e a essa hora da noite?

Sua companhia parece que nem ouvia João. Mas ele como todo homem, insistente , continuou puxando conversa. Falou-lhe da lua , da noite , e nada . Ele então pensou: “ Acho que essa criatura é surda e muda, só sendo.” Pensou em tocar o cabelo da mulher, então se aproximou mais dela. Foi nesse instante que João sentiu um arrepio por todo corpo. Ele olhou melhor para aquela mulher que, agora mais próxima dele, olhava-o com um sorriso . João quase morreu quando viu o rosto da mulher. Ele agora estava diante de um rosto magro e muito feio, seus dentes não cabiam na boca . Ele quis correr mais suas pernas estavam presas ao chão, pois parecia que elas agora pesavam uma tonelada. A mulher deu uma gargalhada e ele assustou-se mais ainda. Ela então falou, depois de muitas investidas do caixeiro-viajante.

_Olhe, quando vires alguém caminhando sozinho, deixe-o seguir seu caminho . Não julgues ninguém , tampouco te aproveites de quem achas que está em desvantagem. E digo mais , quem procura acha.

A voz da mulher era muito feia , assim como seus olhos. E nosso amigo João teve força e correu , nesse momento ele parecia voar. E a sensação que ele tinha era que ela estava sempre ao seu lado.

Por sorte , ele avistou uma casinha branca, como todas as casas de sitio. Era a casa de um amigo dele. João não tinha inimigos, ele era querido por todos naquela região.

João bateu com força na porta de seu amigo, que assustado abriu aporta, pois reconhecera a voz do amigo. João contou o episódio , quase sem fôlego. E de longe a mulher misteriosa ainda olhava para João, que entrou na casa , com a ajuda do amigo.

Foi uma lição para ele , que sempre se achou valente e corajoso, e não acreditava nos mistérios de Deus. Depois desse episódio, ele nunca mais quis andar tarde da noite, tampouco puxar conversa com quem não conhecia .

João viveu muito tempo e sempre contava essa história para os que gostavam de andar nas estradas à noite.

Se João fosse vivo hoje, poderia contar pessoalmente essa história para os jovens que adoram andar feito assombração. Mas com certeza ,como João,eles também não acreditariam em histórias de assombração. E você, acredita?

Lu