As Cartas de Júlia - DTRL21

Um vento de través dificultava a aproximação do Sea Wolf. Junto ao gurupés, Richard recolhia a bujarrona para facilitar o posicionamento a sotavento. A proa do veleiro branco, dominado pelas mãos experientes de seu capitão, se alinhava aos poucos no rumo do cais. Em alguns minutos as defensas estariam posicionadas e o barco, finalmente, atracado.

Richard gostava daquilo. O sol, o cheiro de mar e o vento indomado eram o seu mundo. Desde pequeno ele viveu naquelas lidas. Filho de marinheiro, fez-se ao mar ainda muito garoto. Alto, forte e com pele queimada de sol, que contrastava com a cabeleira farta de um loiro muito claro, ele se distinguia nas reuniões de marinheiros na Ruminosh, taberna preferida pelos homens do mar de Horn Harbor.

Mas não era apenas pelo porte que Richard tinha o respeito de seus companheiros. Conhecido pela bravura e determinação, era visto como um dos capitães mais experientes e confiáveis quando a situação era enfrentar mares bravios. Cético de todas as lendas e monstros do mar que sempre assombraram os marinheiros, o capitão só acreditava em sua própria força e determinação. Mas nos últimos tempos suas noites começaram a ser visitadas por seres que alterariam os seus dias.

A sensação de afogamento tornava sua respiração ofegante, e a expressão de desespero denunciava os momentos de horror passados dentro de um espaço pequeno e escuro tomado por água em temperatura congelante. Invariavelmente, uma luta intensa passava a ser travada em busca da luz, do despertar, da fuga do sonho. Richard sempre vencia esta batalha... para, alguns dias depois, entrar em outra.

Os olhos abertos e envoltos pelo breu da noite tentavam enxergar mais do que o lugar em que ele se encontrava podia permitir: 513 era o número que sempre surgia como um clarão naqueles momentos de tensão. Mesmo assim, como um desaguar sereno, seu coração voltava, lentamente, ao ritmo normal enquanto ele tentava entender o motivo de tudo aquilo. Incontáveis vezes, Richard acordou assombrado pelo sonho recorrente. Os fantasmas da noite traziam algo que Richard queria esquecer. Um passado enterrado há muitos anos parecia querer se erguer da tumba que o sepultava. Richard buscava respostas.

Parecia evidente a relação com a expedição que estava em acertos finais. Os mergulhos de exploração preparatória poderiam ter sido o estopim, pensava o capitão: ele se lembrava bem dos momentos de tensão e da sensação estranha que percorreu seu corpo quando teve a primeira visão do enorme casco através das escotilhas do submersível de grandes profundidades Explorer Shiping II.

O submarino chegou à área do navio às 14:30. Manobras precisas buscavam oferecer uma visão mais nítida de uma das entradas pelo casco rompido. Richard começou a passar mal assim que o submersível alinhou sua proa com uma das cavidades do convés inferior. Sua visão ficou turva, as mãos se enrijeceram e tonturas ameaçaram o controle do veículo. Os sensores ligados ao seu corpo alertaram o pessoal do monitoramento na sala de controle do North Star, o navio de apoio alugado para servir de base. Por precaução, foi acionado o sistema de segurança da missão. O piloto automático assumiu o controle e o mergulho foi abandonado.

Um episódio tão insólito e inesperado não fazia parte dos planos da equipe, porém, não houve apreensão maior. Mero resultado da tensão, pensavam todos. Richard não pensava assim, mas tentava esquecer. Os pesadelos que começaram alguns dias depois, contudo, plantaram dúvidas na mente do capitão em relação as suas próprias condições para dirigir um projeto tão perigoso.

A idéia de criar uma empresa de turismo radical em águas profundas não era nova. Richard e seus companheiros sempre quiseram fazer algo neste sentido. A oportunidade surgiu por ocasião do encerramento de atividades de uma companhia de apoio a exploração de petróleo no Mar do Norte. O submarino, enfim, estava a disposição. Para começar as atividades em grande estilo, a visita ao transatlântico mais famoso do mundo, pareceu ser a escolha acertada. Quase dois anos foram consumidos nos preparativos. E, após o longo tempo de planejamento, testes e acertos, estava, finalmente, marcada a data da primeira viagem levando clientes para conhecer as profundezas geladas do oceano.

O primeiro telefonema da senhora Anne se deu mais ou menos um mês antes da data da viagem. A secretária, a princípio, tentou explicar que a lotação estava completa, mas, diante da insistência, acabou por passar a ligação ao chefe do projeto. Richard foi polido e firme: não poderia acomodá-la na embarcação. Dias depois, a senhora inglesa foi pessoalmente ao escritório da operadora. Apresentou-se a Richard e recebeu nova negativa.

Aquele nome não era estranho para o chefe da expedição, mas ele não conseguia imaginar onde se escondia o vínculo. Deu de ombros sem nenhum constrangimento. A velha senhora protestou com uma lágrima quando o capitão lhe deu as costas. Não desistiu. Na manhã seguinte, a mulher magra e alta que se apresentou como candidata a passageira do Explorer Shiping II estava novamente na ante-sala do capitão.

A princípio, Richard não queria recebê-la, a paciência, contudo, foi vencedora. Anne parecia uma mulher frágil. Os cabelos louros entremeados de fios prateados adornavam um rosto fino e comprido que já apresentava alguns sulcos do passar dos anos. Mas a aparência não correspondia ao que ela realmente era. Com uma determinação incomum, a senhora de Southampton não se retirou até que o chefe lhe deu atenção mais uma vez.

O Navio estava recebendo os últimos preparativos. Zarpariam em dois dias e não havia lugar para mais ninguém. Ao custo de cem mil dólares por pessoa, uns poucos turistas privilegiados teriam a oportunidade de ver de perto o majestoso RMS Titanic que descansava em seu leito escuro e gelado desde 1912. De nada adiantaria, então, ouvir os argumentos daquela senhora, pensava Richard. Porém, para encerrar definitivamente o assunto, Anne foi convidada ao escritório. Ele a recebeu com cordialidade, contudo, pretendia acabar logo com o incomodo.

-Sinto muito senhora Anne, mas não temos acomodações para mais ninguém. Nossa lotação está esgotada há meses. Quando a senhora me ligou havia a possibilidade de alguma desistência, por isso concordei em abrir uma lista de espera. Todas as reservas foram confirmadas, portanto, não há nada a fazer. – Disse Richard, com voz firme, determinado a encerrar o assunto.

-Eu não lhe disse tudo, capitão. Meu sobrenome é Stead, lembra? Isso lhe soa familiar?

-Sim. – Respondeu Richard, pensativo, tentando garimpar em fragmentos esparsos de memória a origem da familiaridade. – Mas não consigo me lembrar de onde conheço este nome. De qualquer modo, não tenho como encaixá-la.

-Mas não é só isto. – Insistiu Anne.

-Olhe, minha senhora, não temos por que prolongar esta conversa...

-513, senhor Richard...- Disse a candidata a exploradora, com voz calma e olhar doce, interrompendo a fala do capitão. – este número lhe diz algo?

Por alguns momentos Richard ficou sem saber o que dizer. Evidentemente, por mais que ele lutasse contra este tipo de pensamento, aquela frágil mulher tinha lhe acertado um direto poderoso. O simples mencionar daquele número o fez sentir todas as sensações incomodas que o perseguiam ultimamente. Anne percebeu o abalo e teve a certeza, naquele instante, de que teria o seu lugar no navio. Richard também.

Não muito longe dali, uma tripulação apressada tentava checar todos os itens indispensáveis na véspera da partida. A ausência do capitão criava uma atmosfera de tensão. Aquela viagem não programada os tornava, de algum modo, órfãos.

Após uma longa conversa, Anne Stead convenceu o capitão a visitar a antiga casa de William, seu antepassado, em New Hampshire. O automóvel preto parou em frente ao número 384 da Park Avenue pouco depois das 10 horas. Richard e sua guia, Anne, desceram do carro e se dirigiram ao portão. A casa em estilo vitoriano apresentava sinais de abandono. Um jardim tomado por ervas daninhas ainda tentava, em vão, adornar o caminho de entrada. A tinta descascada da porta principal, assim como o musgo verde vivo que se entranhava nos vãos das pedras, tentava apagar um pouco da história daquele lugar. Mas o passado estava impregnado naquelas paredes como se elas fossem erguidas por lembranças indeléveis.

Assim que o ranger da porta, choroso como o lamento de um moribundo, anunciou a chegada dos visitantes, um lufar fétido, carregado com o peso dos anos, veio dar as boas vindas.

Richard foi o primeiro a entrar. Anne ficou um passo atrás,

observando as reações de seu convidado. Ela sabia da intensidade daquele lugar. O andar do capitão foi ficando trôpego. Na medida em que avançava pelo salão, cambaleando em meio aos móveis empoeirados, Richard sentia outro corpo. Sua mente girava em uma pequena viagem impulsionada por passos curtos e arrastados, galgando anos, atravessando épocas. Quando finalmente chegou a porta do gabinete de trabalho e apoiou seu corpo no batente, já não sabia mais quem era. Sentado a frente da escrivaninha e encurvado sobre uma máquina de escrever Royal Stemp, ele dedilhava febrilmente o que seria a primeira versão de “O Trans...”. Os minutos pardacentos e nebulosos passavam arrastados. Após esta visão, Richard sentiu que as forças fugiam de seu corpo. Antes que chegasse ao chão, mãos suaves e decididas o ajudaram a sair da casa.

-O que é tudo isto? O que está acontecendo comigo? – Indagou Richard, ainda pálido.

-Era disso que eu falava, capitão. – Disse Anne. – Minha insistência em participar de sua expedição está ligada a sua própria história. Não sei bem o que se passou com o senhor, mas sei que há uma relação estreita com William.

-Foi William que eu vi lá dentro?

-Sim... Bem, mais ou menos...

-Como assim? Não estou entendendo.

-Poderíamos dizer que o senhor viu a si mesmo. – Disse ela, enigmática. –Mas preciso lhe mostrar uma coisa.

Anne passou a Richard uma carta manuscrita em um papel finíssimo, perfumada com odor de rosas. Em um inglês rebuscado, quase erudito, ela narrava fatos que desconcertaram o capitão. Principal impacto causou a parte em que a missivista falava de uma busca, ou de um pedido e no número 513.

Vendo o estranhamento de seu convidado, Anne contou a Richard a história de William. Embora W.T. Stead tivesse sido uma das maiores celebridades entre os passageiros do RMS Titanic e conhecido internacionalmente, Richard pouco tinha ouvido falar dele. Jornalista famoso, defensor de iniciativas sociais importantes e escritor, Stead marcou sua presença na sociedade Vitoriana. Escreveu romances e narrativas curtas. Entre seus contos havia um com um detalhe especial, antecipava a fatalidade que acabou por tirar-lhe a vida. Com o estilo marcante e peculiar de sua escrita, Stead descreveu o naufrágio de um poderoso transatlântico após o choque com um iceberg vinte anos antes de sua morte.

Richard não conhecia aquele autor nem sua obra, mas já lera, porém, o trabalho de M. Robertson que, em um romance macabro, também antecipou a tragédia e nominou o navio de sua história de Titan. Mas não era apenas o nome do navio que tinha relação com o que ocorreria oito anos depois. O porte da embarcação, a falta de barcos salva vidas e o choque com a montanha de gelo também estavam presentes na ficção de Robertson.

Após o naufrágio de 1912, houve quem dissesse que a história do Titan foi inspirada pelo conto de Stead, que seria, então, o real premonitor dos fatos.

Nada disto foi provado, contudo, um traço da personalidade e do interesse particular de William reforçava a crença em sua antecipação dos acontecimentos. Espiritualista convicto, ele usava sua sensibilidade especial para estabelecer contato com as pessoas que estavam do outro lado. Foi assim que surgiu a figura de Júlia. Cartas escritas pela jovem se materializavam suavemente através das mãos de Stead em sessões que atraíram a atenção de muitos iniciados... e o respeito dos céticos.

Richard desabou num choro convulsivo após ouvir os relatos da senhora inglesa. Parecia uma maldição. Aquela gentil e determinada dama acabara de trazer de volta, definitivamente, o fantasma que ele sempre lutou para afastar.

-Há um elo! – Exclamou Richard, entre soluços. O poderoso lobo do mar sucumbia, então, diante das forças que desconhecia. –Ela morreu na mesma área do naufrágio do Titanic. - Completou.

A morte de Susan apertava seu coração independente do tempo e do lugar. Sua namorada tinha partido numa manhã de setembro de 1978 para uma travessia solo entre a Europa e o Canadá em um veleiro de 15 pés. Richard tinha sido seu maior incentivador para a aventura, mas, semanas antes, sonhara várias vezes com o naufrágio do Only South no terceiro dia de viagem. Desconsiderando os presságios, ele nada fez para impedir a morte de Susan.

-Tenho que cancelar a expedição! – Exclamou Richard, afoito.

-Penso que não se trata disso, capitão. Seus sonhos estão relacionados com o Titanic e não com um perigo iminente ou específico. É, portanto, diferente dos sonhos anteriores... do que aconteceu no episódio do Only South.

-Mas há uma vinculação, tenho certeza! Espere ai, como é que você sabe da história do Only South? – Perguntou Richard, surpreso. Para ele era completamente impensável que alguém soubesse sobre suas premonições em relação ao naufrágio que vitimou Susan. Ele nunca tinha falado sobre o assunto com ninguém, nem mesmo com seus amigos mais íntimos. Era uma verdade que o consumia há anos, que o envergonhava... em segredo.

-Você não tem segredos para quem te visita. Isto vai além do que compreendemos.

Richard estava zonzo com tudo aquilo. As palavras de Anne pareciam fazer desmoronar anos de ceticismo como se fosse um punhado de açúcar que recebia sua dose de água morna. Mas as evidências estavam ali, fortes, implacáveis, e o capitão não tinha forças para fugir daquela realidade. E, vencido, decidiu que era hora de agir.

-O que devemos fazer, senhora Anne?

-Preciso ir com o senhor nesta viagem.

Richard abriu um largo sorriso e olhou fixamente para aquela mulher franzina que acabara de virar sua vida pelo avesso.

-A senhora vai comigo nem que eu tenha que arrastá-la, minha senhora.

Anne ficou satisfeita com aquelas palavras, embora tenha achado um tanto grosseiro o modo como o capitão, enfim, anunciou sua inclusão na lista de passageiros.

A tripulação recebeu com alívio a notícia de que seu comandante tinha retornado. Estava quase tudo pronto, apenas uma pequena alteração nas acomodações dos passageiros teve que ser providenciada de última hora. Ao final da tarde, como o planejado, o navio estava pronto para zarpar.

O dia raiou com sol forte e ventos fracos. Incomum para a época do ano naquelas latitudes, mas bem vindo para passageiros e tripulantes. O mar estava muito calmo, esperando seus convidados. Havia um clima de euforia e expectativa entre os exploradores do mar.

Ao final do terceiro dia de viagem, o North Star chegou as coordenadas 41º 43’ 35” N, 49º 56' 54" W. Ponto exato do naufrágio do navio da White Star Line. Na manhã seguinte, o gigante de aço seria visitado.

Após o jantar, Anne subiu ao convés e encontrou Richard junto a amurada. Com semblante calmo, ele contemplava o céu estrelado e o mar sereno.

-Amanhã tudo ficará mais claro, meu amigo. – Disse Anne, em tom amigável.

-Quase sinto a presença dela. – Murmurou Richard, sem tirar os olhos do horizonte. – Sinto uma sensação estranha, uma proximidade. É como se estivesse aguardando um reencontro.

O capitão do North Star falava baixo e com os olhos úmidos de emoção. Anne, por instantes, ficou calada, tentando perceber a profundidade do que ocorria naquele momento.

-Ainda não consigo entender o que está acontecendo, a razão de tudo isto. Mas este sentimento que aperta meu coração me diz para acabar logo com isto.

-Não se culpe, Richard. Muitas pessoas que tem sonhos premonitórios não percebem a importância deles. Isto é um dom, não um castigo.

-O que mais me dói, é que ela foi embora de repente, sem palavras, sem um adeus... nada. Desde aquele dia maldito, eu não me conformo. Lembro dos avisos de tempestade, lembro de captar o sinal de socorro do rádio dela..; mas não houve tempo para nenhuma palavra... não pude pedir desculpas.

Anne percebia o aumento da emoção na voz de Richard.

-Será que de lá onde ela está agora, é possível perceber o que a gente sente? O que tem a ver o Titanic com o que aconteceu com Susan? Ele afundou muitos anos antes dela nascer, não vejo relação.

-Talvez o lugar, ou os sentimentos... Estes desígnios são atemporais, meu amigo.

O capitão abraçou Anne e se retirou para sua cabine. Ele demorou a dormir, mas não teve pesadelos naquela noite.

O submersível foi colocado na água assim que o dia raiou. Em poucas horas ele chegou aos destroços do transatlântico. Richard estava tenso, mas Anne lhe trazia confiança. Com o coração acelerado, o capitão manobrou para alinhar com a entrada do convés inferior. Ficou meio zonzo, mas não recuou, penetrando no casco partido como se conhecesse cada palmo do navio. A escuridão gelada foi sendo vencida pelos holofotes do submersível que avançava por entre os ferros retorcidos. A pulsação de Richard disparou quando as luzes descortinaram o número da porta de uma cabine: 513.

-Controle-se, Richard. – Disse Anne, percebendo o abalo do capitão. – Você está aqui por alguma razão.

-Não é Stead! – Gritou Richard. – Não é Stead! – Repetiu com os olhos arregalados.

Anne podia ver que Richard estava em contato. Os olhos do capitão estavam revirados, apenas a parte branca podia ser vista e, mesmo assim, ele conduzia o submarino por entre os escombros com muita habilidade.

-É Edward... ele está aqui, ele me guia.

Richard chorava enquanto descrevia suas sensações. As mãos retorcidas ainda manejavam os controles fazendo com que o braço mecânico arrombasse a porta da cabine. A luz forte penetrou no pequeno aposento descortinando uma cena inimaginável. Tudo estava em perfeita ordem. Nada do que se via poderia sugerir os cem anos no fundo do oceano. Não havia sinal de Stead e a única coisa que estava ao alcance do braço robótico era uma pequena pasta, logo na entrada, como se estivesse ali à espera de resgate. Richard apanhou o objeto com a pinça mecânica. Poucos minutos depois, o alarme de segurança anunciou o final do mergulho.

Já no convés da embarcação mãe, Richard detalhou o que viu e o que sentiu. Não era W. T. Stead a alma atormentada que o levou até ali. Edward Smith, o comandante do Titanic, é que estava lá. As mãos retorcidas de Richard refletiam o que tinha acontecido com Smith no dia do naufrágio. Ele mandara confinar Stead em sua cabine por causa da insistência do passageiro em que navegassem devagar e com mais cautela. Diante da necessidade de manter as caldeiras a todo o vapor para bater o recorde de velocidade, o comandante desconsiderou. Porém, Stead protestou veementemente, tornou-se incômodo e precisou ser afastado. Depois do acidente, quanto quase todos já tinham abandonado o navio, Smith quis libertar o viajante, mas não tinha as chaves e acabou por ferir as mãos tentando abrir a porta.

Anne ouvia tudo com muita atenção, mas ficou um pouco frustrada por não haver contato com William. Só não estava mais desapontada do que Richard, que não conseguiu ver o porquê dos acontecimentos.

Quando um dos marinheiros passou levando a caixa de vidro com água do mar contendo o objeto tirado da cabine 513 para que se mantivesse preservado, ela acenou para que parasse. A expressão de seu rosto mudou assim que olhou para os objetos de dentro da caixa.

-Venha Richard! Olhe!

Ele se aproximou para ver mais de perto a pasta misteriosa. Na capa de couro marrom estava escrito em letras pequenas “Cartas de Júlia”. Porém, foi quando enxergou parte dos documentos que caiam para fora da pasta que o coração do capitão quase parou. Entre aqueles papeis de caligrafia rebuscada, se destacava um que começava com “Para Richard... com amor”.

Tema - Naufrágios

O S Berquó
Enviado por O S Berquó em 31/03/2015
Reeditado em 04/07/2020
Código do texto: T5190757
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