escravos do circo - DTRL21
Todos estavam eufóricos com a chegada de um circo naquela pequena cidade interiorana.
As crianças não falavam em outra coisa, e os pais estavam
animados pela oportunidade de fazerem um passeio diferente com os filhos.
Era noite e o céu estava limpo, todos se arrumavam apressados e em
poucos instantes as arquibancadas estavam abarrotadas. A música
ressoava alta e forte, os tambores tremiam o chão, sendo acompanhados
pelas palmas da plateia que seguiam o ritmo. Entraram em cena dois
palhaços; eram jovens, estatura mediana e logo começaram a gesticular
ordenadamente, em uma sincronia que divertia muito os presentes. Desciam
do picadeiro por alguns instantes, tocando a mão das crianças que
pareciam fora de si, rindo, gritando e pulando freneticamente. Passadas
essas apresentações, vieram os mágicos que fascinaram com seus jogos lúdicos.
Depois vieram números de equilibrismo, trapézio e acrobacias. Anunciou-se a última apresentação. As luzes se
apagaram e todos ficaram apreensivos com o que viria. Uma melodia de
fundo aumentava o suspense. Minutos depois tudo se iluminou e lá estavam
os palhaços novamente, dançando e agitando o público, que ria
incansavelmente, sem controle. Aqueles dois garotos que faziam a alegria
do povo então ficaram imóveis no palco e todos se aquietaram para ver o
próximo truque. Contudo as luzes mais uma vez se apagaram e risadas
sinistras sibilavam pelo salão, e as crianças passaram a imitar os sons
dos palhaços e davam gargalhadas arrepiantes. Os pais começaram a tentar
conter seus filhos, que não eram se quer capazes de
ouvi-los. Mais uma vez a luz voltou, e os palhaços estavam rodeados
por crianças que faziam expressões variadas e sorriam medonhamente.
Todos levantaram a mão simultaneamente e gritaram: vamos brincar!
Começaram a correr em volta das cadeiras e os adultos ficaram sem ação,
gritando o nome de seus filhos, mas tudo estava perdido.
Os pequenos começaram a atacar os pais com uma gosma verde que saía de
suas bocas delicadas. Assim que vomitavam aquela substância em algum
local, este se decompunha rapidamente.
Minutos depois o que podia se ver eram dezenas de corpos estirados no
chão e gritos lancinantes de dor. Alguns já estavam sem braços, outros
sem pernas, e outros se desmanchavam de forma rápida e dolorosa. Os
olhos, rins e órgãos em geral enfeitavam assustadoramente o chão. Os dois
palhaços apenas sorriam e vislumbravam o trabalho daquelas crianças
assassinas. Os garotinhos estavam com os corpos cheios de sangue e
sorriam malignamente, com aquela carinha de quem acaba de fazer travessuras
divertidas. Os dois palhaços voltaram a falar em conjunto, anunciando:
apenas dois de vocês vão sair daqui para trabalhar conosco. A criança
que mais tiver causado mortes e sofrimento será por nós levada. Os
pirralhos então se posicionaram em fila, e com o olhar parado,
fixavam seus adorados palhaços.
estes mais uma vez se expressaram: venham aqui agora a primeira e
terceira criança da fila. Vocês foram escolhidos. Os outros permaneceram
em silêncio e estáticos, e segundos depois começaram a gritar. Eram
gritos desesperados, de dor e angústia. Seus olhos se esbugalharam e seus
corpos entraram em combustão espontânea, e as chamas os consumiram
lentamente, trazendo-lhes longos minutos de puro horror. Os quatro seres
restantes se entreolharam e então disseram harmonicamente: agora somos mais fortes.
Onde será a próxima parada do circo da morte?
tema: palhaços