Fantasmas Existem?

Fantasmas existem?

Para Elisabeth Silva esta era uma questão bem importante. É que, se fantasmas não existem, então ela estava ficando louca, pois ela havia conversado com um. E não foi a primeira vez.

Não que ficar louco fosse realmente ruim.

Claro, nas outras vezes, ela só havia acenado, receosa, ou dado um ‘oi’ tímido. Mas hoje ela havia conversado mesmo, como se o fantasma fosse uma pessoa de verdade. Tão estranho ouvir a própria voz. Ela não falava com ninguém há décadas. Não havia mais ninguém vivo para conversar.

“Talvez seja melhor eu ficar louca”, ela pensou consigo mesma. “Qualquer coisa é melhor que ficar sozinha. É só meu cérebro inventando pessoas, depois de tanto tempo sozinha”.

Mas era melhor pensar que eram mesmo fantasmas. Ela já não tinha medo deles, como nos primeiros dias em que os viu. Quanto tempo atrás? Semanas, talvez meses. O que eles iriam fazer? Matar uma velha, sozinha e abandonada em um mundo vazio? A esta altura seria um alívio.

Não, ela não tinha medo dos fantasmas. Às vezes, passando pelos corredores de uma casa abandonada, procurando alguma comida enlatada que ainda não tivesse estragado, ela via um deles. Muitos estavam doentes, como deviam estar nos últimos dias da epidemia, talvez revivendo eternamente a agonia dos dias finais.

“Pobres fantasmas”, ela pensou, “sem ninguém para assustar além de uma velha. E pior, uma velha que não se assusta facilmente”. E Elisabeth riu sozinha.

E então fechou os olhos para dormir, e sonhou com o mundo de antes da epidemia, o mundo de quando era criança e seus pais ainda estavam vivos. O mundo em que ainda havia pessoas além dela.

E sonhou que um dos fantasmas era sua mãe, que veio para consolá-la.

“Por que todos me abandonaram, mamãe? Por que só eu sobrevivi?” Ela perguntou com a voz da garotinha que havia sido quando o mundo era cheio de vida, mas, em seu sonho, o fantasma de sua mãe apenas sorriu e nada disse.

* * *

- Que cara é esta, querida – seu marido perguntou para Sara assim que ela chegou em casa – o dia foi muito ruim hoje?

- Não, não. Só estranho. Sabe aquela idosa do asilo, que perdeu os pais quando criança, e que nunca mais falou com ninguém?

- Que que tem ela?

- Ela conversou comigo hoje. Do nada. Faz meses que estou trabalhando no asilo, e ela nunca nem olhou para mim. Hoje, ela simplesmente começou a conversar quando entrei no quarto, como se fizesse isso todos os dias. Ela nunca tinha conversado com ninguém desde que a mãe morreu de câncer quando ela era criança.

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Ashur
Enviado por Ashur em 21/04/2015
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