45 Dias em Casa - Dia 1 - Uma nova Casa

Um novo dia, uma nova casa, uma nova cidade. Correr dos problemas, dos vários problemas, Eu, meu pai e a pinscher.

É uma cidade normal, mudar de Belo Horizonte para Montes Claros, que cidade pacata, meramente um bom lugar para se viver, se a rua não fosse considerada perigosa a noite, as árvores tampassem os postes de luz fazendo-a ficar escura. Droga. Bem, uma casa bonita, grande, mas para dois caras. Minha mãe morreu a bastante tempo, somente hoje seu testamento foi levado a observação e separação dos bens que deixou, uma mulher nervosa e mãe da fúria, mas ainda sim uma mãe, minha mãe.

A casa era separada por vários cômodos, dois banheiros, seis quartos, duas salas, uma cozinha, dispensa. Realmente muito grande para dois homens e um cachorro. Fiquei com o menor quarto, bem bonito, tinha um espelho numa das paredes, já meu pai ficou com o grande, o cachorro ficou com a parte de fora, onde a cozinha era separada por um corredor lateral médio que levava a parte de trás da casa, a parte de fora. As lâmpadas eram antigas, piscavam e ainda sim uma coloração amarelada simples, coisa de época. Um barulho. Um latido. Corremos para ver, mas o gato ferido que morava num dos quartos correu para nós, ou melhor, para a saída. Alarme falso.

Meu nome é Lucas, meu pai Renan e também Anna, a pinscher. Uma família normal, tirando os casos de alcoolismo, drogas e muitas brigas, um belo motivo para fugas. Minha mãe Maryanna morreu num acidente de carro, sinto saudades dela. Talvez. É realmente uma boa casa que ela nos deixou como herança, na verdade, lembrança. Não havia nada na casa ainda. Muito menos camas, teríamos que dormir fora, ou no chão dependendo do meu pai apegado ao dinheiro. Os alarmes funcionavam, isso era garantido, presente da seguradora pelas condolências. Andando pelo corredor dentro da casa ouço barulhos, pequenos estalos, não deve ser nada, mas na verdade, o sensor apita no painel do corredor, estranho. Bem, deve ser um problema, nada demais.

Meu pai estava no carro do lado de fora, eu estava colocando as últimas caixas dentro da casa, olho meu armário, havia um pedaço de papel, guardo no bolso. Deve ser algum rabisco do antigo morador, abro as gavetas. Vazia, vazia, vazia, emperrada. Faço força, parece algo meio pesado, uma estátua? Que estranho. Não tenho tempo para me preocupar com isso, Foda-se. Vou para a porta, meu pai buzinou três vezes, que saco! Olho para trás de relance, senti alguma coisa, nada demais. Vou para o carro.

Um sonho, algo realmente bizarro, uma pessoa, uma coberta e eu estou de olhos abertos deitado no chão, eu... estou respirando? Bem, deve ser apenas um sinal de insônia, as aulas estão começando, junto com a prova de admissão atrasada. São 20:15 da noite, estamos na casa, que sorte de um amigo trazer as camas. É realmente chato dormir numa casa que não está acostumado, mas seria minha nova casa, eu ligo a música com o fone de ouvido. Não tem nada pronto ainda, nada mesmo, tudo que eu vejo são caixas, junto a uma figura pequena em cima de uma delas, eu pego o telefone, 20:17, isso só pode ser uma piada certo? Tem uma pequena estátua de um holandês com a mão na boca, como se chamasse alguém ao longe, só pode ser uma piada do meu pai, eu viro para a parede. Durmo.

Acordo. Que dia chato para um sábado. Começo a montar meu computador, uma máquina totalmente desatualizada mas que ainda roda os melhores jogos, depois que percebo que a estátua não está no quarto, ele deve ter tirado para me assustar. É chato ter que ficar em casa sozinho, nunca tive medo do escuro e muito menos de fantasmas, são coisas de filmes para nos assustar, mas ainda não descarto a possibilidade de sua existência. Eram 9:15 da manhã, meu pai viajou a negócios, sempre foi assim, eu sozinho em casa enquanto ele estava trabalhando, sozinho. Ouço o barulho de uma luz se acendendo, ouço também as patas de Anna passando pelo corredor, está na porta da cozinha, deitada no sol da manhã, olhando para o corredor, nunca gostei daquele corredor, ainda mais que não usamos a parte de trás da casa.

A tarde era quente, Minas sempre foi quente. Uma porta bate com toda a força, quase morri do coração, só que fiquei mais intrigado de ter batido sem nenhum vento, o clima estava seco e parado, É uma casa meio estranha, eu olho para aquele papel que achei no armário, tem uma foto colada num papel duro. A foto mostrava os antigos moradores, no portão laranja que a gente ainda nem pintou de verde, estava uma mulher, um homem e uma criança. Todos abraçados na frente da casa com a porta de entrada aberta, a porta da sala de estar do fundo está fechada, bem no corredor estava escuro, mas, tinha alguém lá no fundo, com toda certeza é alguém. A porta que se bateu está aberta, será que foi outra que bateu? Bem, prefiro tomar um banho.

18:49 da tarde, eu dormi isso tudo?

A casa está um breu só, vou até o corredor, totalmente escuro e sem nenhuma vista, ando nele apalpando suas paredes a procura do interruptor. Luz. Acendo e vejo que a casa está totalmente montada, As quinquilharias do meu pai estão na parede, a mesa com as coisas de trabalho em cima, vários papeis e decorações, a cozinha com suas coisas de cozinha, óbvio. Meu pai montou tudo isso enquanto eu cochilava, ou melhor, dormia. A estátua estava em uma das mesas, essa estátua novamente. Meu quarto não está pronto, só falta colocar as roupas no armário e tudo está completo. Eu pego-as, abro o armário e lá tem mais um papel, eu coloco as roupas e pego em minhas mãos, a mesma foto, bem, deve ser só um jeito de me assustar, continuo colocando as roupas no armário, um barulho eletrônico. O ar condicionado se liga. Sozinho? Isso sim me assustou, ligo a música e acendo a luz do lado de fora, tranco a porta e vou para o meu quarto. 19:19.

Eu me deito, mesmo sendo apenas 19 horas já está a noite, e ainda sozinho em casa, Anna não latiu muito hoje, milagre. Mas ainda assim eu mexo no celular, alguns dos meus amigos me desejando uma boa viajem. Tanto faz. Enquanto estou no quarto eu me sinto desconfortável, a porta aberta só me deixava ver o outro quarto, o quarto do meu pai e um estranho Cabideiro que ficava lá, era simplesmente uma estaca de aproximadamente dois metros, como pequenos pinos de boliche rodeando num total de oito na circunferência e dois na estaca, aquilo parecia exatamente alguém em pé, eu ainda tinha minhas superstições. Fecho a porta. Só havia duas televisões naquela casa, a do meu pai e a da sala. Não gosto dos programas de hoje, são uma perda de tempo. Prefiro assistir ao que quero no computador.

São 23:15, a bateria do meu celular se esgotou. Agora vou dormir, cansado eu abro a porta, vou até o painel que tem do lado da minha porta e digito minha senha, o alarme liga. Eu olho para o quarto do meu pai e lá está o maldito Cabideiro. Mas não vou me importar com isso. Eu vejo as fotos dos antigos moradores em cima da mesa, eu olho para as duas. Mas, eu vejo algo estranho. A sombra que estava no corredor, na segunda foto estava mais perto. Isso só pode ser uma palhaçada do meu pai. Fecho a porta. Durmo.

Um sonho preto. Simplesmente um sonho de uma imagem em preto. Não havia nada. Nem preto e muito menos um sonho.

Acordo. Estou cansado ainda. Olho para as caixas no meu quarto, a estátua está em cima delas. Isso é brincadeira do meu pai. Ligo o telefone, há uma mensagem.

“Oi filho, eu cheguei de madrugada e já tive que voltar para o trabalho, adorei que você arrumou a casa, até colocou os meus troços no lugar que eu queria, estou realmente orgulhoso de você.”

Espera, se ele não arrumou a casa. E muito menos eu. Quem colocou as coisas no lugar? Quem colocou essa estátua aqui?

Isso realmente me assustou. Vou começar a acender mais luzes a partir de agora.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 26/04/2015
Código do texto: T5220902
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