13 andares

"Elevador desativado para manutenção. Desculpe pelo o transtorno", dizia a placa colada na porta do elevador.

- Mas que droga! Não faz meia hora que o expediente acabou e já desativaram o elevador! - Esbravejei revoltado, porém, não havia alguém perto para ouvir.

Teria que subir treze andares pela a escada, não ia ter jeito. Tudo, simplesmente tudo, porque eu esqueci minha mochila dentro do armário. Precisava dela, pois meu trabalho ficou lá e precisava entregar na faculdade hoje sem falta. Abri a porta corta-fogo que dava acesso à escadaria e comecei a subir. Estou sedentário e hoje seria o dia que me arrependeria por não fazer exercícios.

1º andar

Subi os primeiros degraus e logo uma lâmpada automática acendeu, detectando minha presença. Tranquilamente atinjo o patamar com a placa anunciando o 1º andar. "Grande progresso", pensei ironicamente.

2º andar

Minhas pernas começam a sentir o peso de cada degrau conquistado. Sinto uma brisa fria, de onde veio?.

3º andar

Caramba, cada degrau faz a parte da frente das minhas coxas doerem mais. Estou suando, mas ainda sim sinto frio.

4º andar

A lâmpada automática não acende. Quase tropeço em um degrau e chego até a plataforma do andar. Balanço os braços para ver se o detector não me percebeu, mas nada de acender. Continuo assim mesmo, tentando iluminar com a tela do celular.

5º andar

Estou chegando à plataforma do quinto andar quando a luz do pavimento anterior se acende. Como assim? Por que não acendeu antes?

6º andar

Paro para descansar. "Caramba, ainda nem cheguei à metade"...Ouço um barulho. Passos. Alguém também está subindo as escadas logo abaixo. Será que eu espero? Talvez seja interessante ir conversando o restante dos degraus. Aguardo e a pessoa não chega. Os passos cessaram. Bem, o jeito é seguir em frente.

7º andar

Novos passos subindo as escadas. Resolvo não parar desta vez. Outro barulho, além dos passos. Parece uma corrente sendo arrastada. Continuo subindo, passo a plataforma do sétimo andar, aumento a velocidade. Sei lá, de repente ficou mais frio.

8º andar

Minhas pernas estão me matando! Paro novamente para descansar, os passos vão se aproximando, o barulho da corrente sendo arrastada e agora parece que estão batendo na parede enquanto andam. Melhor eu me apressar!

9º andar

Os passos aceleraram, começou a correr! O som da corrente retinindo em meus ouvidos. O baque na parede aumentando! Começo a correr também. Não sei de onde tirei forças, mas não vou esperar aqui para ver.

10º andar

Mais perto. Sinto a barulheira ainda mais perto. Preciso correr mais. Minhas pernas...

11º andar

Desequilibro e caio. Começo a me arrastar degrau acima e tento levantar. A dor é muito forte, mas consigo. Os passos agora estão no andar logo abaixo. "Só mais dois", penso.

12º andar

Sinto um frio na espinha. Sinto a presença ainda mais forte. Estão na metade do andar anterior, tenho certeza. Parece que não é só uma pessoa, tem várias. Todas subindo correndo, correntes arrastando, baques na parede, ouço o que parece ser uma lâmina sendo afiada. Caramba!

13º andar

Cheguei, finalmente! Vou entrar logo no escritório e me trancar lá. Corro até a porta, tento abrir, está trancada!!! Como isso é possível? Estas portas não tem como ser trancadas! Os passos sobem rápido, logo estarão aqui.

Silêncio.

Me encosto na parede, suando frio, coração batendo forte. Os passos, as correntes, os baques, tudo parou. Não ouço a porta do andar de baixo fechar. Não sei se entraram lá. Tento abrir a minha porta novamente e nada.

Passos. Novamente uma leva de passos recomeça no andar abaixo. Agora parece ser apenas uma pessoa. Foco o olhar na direção do som. Uma gota de suor escorre pelo meu olho esquerdo. A figura de uma criança aparece bem no patamar abaixo. Uma menina, segurando um ursinho, vestido branco, pés descalços. O cabelo comprido e emaranhado tampa seu rosto. Ela larga o ursinho no chão e afasta o cabelo com uma das mãos. Onde deveriam estar os olhos, dois profundos buracos me fitam sem qualquer expressão. Sinto tontura, minha cabeça gira, dói, minha pressão cai. Antes de desmaiar, vejo a menina puxando uma faca que estava fincada em suas costas. Ela limpa o sangue e começa a subir...

Luiz P Medeiros
Enviado por Luiz P Medeiros em 01/07/2015
Código do texto: T5296296
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