Visitante Estranho- DTRL 23

- Bagunçaram novamente a plantação dos Ferreiras. Uma moça no caixa fala com um senhor de meia idade.

- Ouvi dizer que foram os garotos do Ricardo. Responde o homem.

- Foi o que ouvi também.

- Algo mais Jonas?

- Apenas isso Maria. Até mais.

- Até Jonas.

O homem de meia idade sai com suas compras da pequena mercearia, coloca as sacolas no banco traseiro de sua pick-up e vai embora. Roberto que escutava a conversa apenas o observa.

- Bom dia Seu Roberto.

- Bom dia Maria.

- O que aconteceu na propriedade dos Ferreiras? Pergunta Roberto.

- Estão estragando a plantação de trigo dele. É a terceira vez este mês, só pode ser aqueles delinquentes.

- É. Talvez.

Roberto paga suas compras, cumprimenta Maria e vai em direção ao seu jipe rumo sua casa.

Ele é um pequeno agricultor de trigo no município de São Luiz Gonzaga, noroeste do Rio Grande do Sul, uma bela cidade, tranquila, que sobrevive basicamente da triticultura e pecuária, sobretudo do cultivo de trigo.

Há cem metros de sua propriedade ele avista seu filho caçula Ryan brincando com Maxx, o cão labrador da família, próximo do pequeno celeiro que a família cria algumas vacas e cavalos.

Em casa, beija sua esposa Cristina, coloca as compras sobre a mesa e servindo-se de uma xicara de café pergunta.

- Onde o Daniel esta?

- Acho que no quarto ouvindo música.

- Soube de algo nos Ferreiras amor?

- Não querido, ainda há pouco o Filho mais velho do Ferreira, Claudio, passou de moto a toda velocidade, por quê?

- Ouvi uma conversa estranha na mercearia agora a pouco. Bom não é nada demais.

Após o café, Roberto vai ao quarto dos garotos no segundo andar da casa e chama Daniel, seu filho mais velho para ajuda-lo em um conserto no telhado do celeiro.

Durante a tarde, pai e filho trabalham sobre a casa enquanto o jovem Ryan corre por toda a propriedade junto com Maxx. Ao longe, Roberto vê uma caminhonete de cor vermelha aproximando-se de sua propriedade, rapidamente desce do telhado e vai ao encontro do motorista.

- Seu Ferreira, boa tarde.

- Tarde.

- Soube que aprontaram em suas terras.

- Pois é, porem isso acaba hoje. Responde apontando para um Rifle Puma calibre 38 encostado no banco do carona.

- Acho que esta exagerando.

- Exagero? Uma ova. Já perdi muito dinheiro com esses atentados na minha terra, se pisarem o pé novamente lá, vão comer chumbo.

- Mas Ferreira...

- Você faria diferente Roberto? Te conheço desde pequeno, você sempre foi mais esquentado que eu.

- Você tem razão. Mas acho que deveria trocar algumas palavras com eles antes.

- Não sei. Bom preciso ir Roberto. Boa tarde.

- Boa tarde Sr. Ferreira.

Roberto observa a caminhonete do Sr. Ferreira desaparecer na estrada de terra, voltando-se para casa, vê Cristina acenando para ele e os garotos. É a hora de jantar.

Na cozinha Cristina já deixa a mesa pronta, Ryan, Daniel jantam desejosamente enquanto Roberto e Cristina conversam.

- Acho que darei um pulo na casa do Ricardo após o jantar, o Ferreira esta com os nervos à flor da pele, acho que o pior pode acontecer se ele pegar algum dos garotos do Ricardo.

- Você tem razão Roberto, mas tenha cuidado e, por favor, não fique fora até tarde.

- Tudo bem.

Após o jantar, Roberto fala para seus garotos irem para cama, despede-se de sua esposa, que esta lavando a louça, pega um casaco, as chaves do carro e cai na estrada.

Ricardo Nunes é pai solteiro de três garotos, o caçula com 15, o do meio com 19 e o maior com 21 anos, sua esposa falecera durante o nascimento de seu terceiro filho, desde então algo parece ter mudado nele, e a displicência para com seus filhos e si mesmo passou a ser muito grande. Raras são as ocasiões em que é encontrado sóbrio no seu simples casebre no alto de um morro nos confins da cidade.

Roberto conhece Ricardo desde garoto, ele era uma boa pessoa, e no fundo quer acreditar que ainda é. Ele tem plena certeza de que Ricardo é apenas vítima, que teve sua vida destruída por um infortúnio e até hoje não conseguiu recuperar-se.

Próximo à casa de Ricardo, numa mata não muito longe, Roberto vê uma iluminação de cor alaranjada, pensa que pode ser uma fogueira ou um acampamento talvez e sem importância, segue para a casa de seu velho amigo.

De frente ao casebre, Ricardo esta sentado em uma cadeira de balanço, com um engradado de cerveja e uma lata na mão ouvindo um velho rádio. Com uma expressão jovial cumprimenta Roberto.

- Vai uma latinha, Roberto?

- Com certeza.

E os dois bebem e começam a conversar. Roberto com muito tato, explica sua preocupação sobre a fazenda dos Ferreiras, e surpreende-se com a postura de Ricardo.

- Perguntei aos meus garotos se eles tem alguma coisa a ver com a bagunça que fizeram nas terras do Ferreira e todos me disseram que não tiveram parte nisso. Inclusive nos dias que ocorreram os fatos, um deles, o caçula estava doente, o do meio cuidando dele o tempo todo e o meu mais velho estava com a filha da Maria fora da cidade. Não foram eles, disso tenho certeza. Diz Ricardo tomando uma golada servida de cerveja.

- Acredito em você, velho amigo. Responde Roberto.

E os dois passam horas relembrando a adolescência, riem e bebem não somente um, mas dois engradados de cerveja. Em certo ponto da noite, Roberto olha para o relógio e diz:

- Putz, quase três da madruga, acho que vou indo.

- Foi um prazer Roberto, minha casa está sempre aberta a recebê-lo.

Abraçam-se na despedida, Roberto liga o carro e volta rapidamente para casa. Na entrada de sua propriedade, seu caçula Ryan esta de frente para a plantação de trigo, o garoto esta de pijamas, imóvel. Roberto vai rapidamente ao seu encontro:

-Filho?

O garoto não responde.

- Ryan?

Nada.

Roberto agacha-se na altura do garoto, seus olhos estão abertos, seu rosto não demonstra nenhuma expressão. Ele passa a palma da mão diante do rosto de Ryan, e nenhum reflexo é percebido, o garoto sequer pisca. Roberto então percebe que seu filho esta em uma espécie de transe, sonambulismo talvez. Roberto pega o no colo e o leva pra casa, na sacada de casa, ele vê Maxx, dentro do canil, rosnando furiosamente, o cão está raivoso, algo que nunca presenciara antes. Roberto leva Ryan de volta para cama.

Pela manhã, com a família reunida para o café, Roberto pergunta para Ryan se ele lembra de algo da noite passada.

- Não papai, apenas dormi e acordei agora a pouco.

- Você por acaso não foi lá fora ontem à noite? Talvez brincar com o Maxx?

- Não papai. Dormi bem rápido e tive um sonho ruim.

- Tudo bem filho.

Pela manhã, com a xícara de café na mão, ao passar de relance pela janela da cozinha, Roberto percebe algo estranho fora de casa. Uma deformidade no trigo desperta a sua atenção. Dez metros adentro na plantação, um circulo é formado, simétrico, perfeito. Com cerca de seis metros de diâmetro, o que causa mais estranheza para ele é que o trigo aparenta ter sido manipulado suavemente, sem nenhum galho quebrado ou sequer amassado. Apenas um maquinário especializado e um profissional igualmente qualificado poderia ter feito algo daquele tipo, e levando em conta que ele chegou às três da manhã da casa de Ricardo e agora não passa das oito da manhã, pouco mais de cinco horas não seria tempo suficiente para um trabalho dessa misteriosa beleza. Fora o silêncio, já que não ouviu barulho algum, muito estranho pensa enquanto observa intrigado a enigmática formação.

- Estragaram nosso trigo. Roberto diz para Cristina.

- O quê?

- Alguém bagunçou com nossa terra Cris.

- Meu Deus.

- Raios! Pragueja. - Vou à delegacia.

Na entrada da Delegacia de Policia Civil, Roberto vê Seu Ferreira e mais outros proprietários de terra, todos discutindo exaltados. Encosta seu carro e junta-se aos demais fazendeiros.

- Não me diga que na sua plantação também. Pergunta Ferreira.

- Se for os círculos, sim. Responde Roberto.

- Alguém está de palhaçada com a gente, aposto que são nossos concorrentes de cidades vizinhas, bem sabia que isso iria acontecer cedo ou tarde. Esbraveja Ferreira com o rosto vermelho de raiva.

Neste momento, tentando mediar à situação chega o Delegado Pires, pedindo para que todos entrem na delegacia. Na recepção do Distrito cada um conta sua história, e todos os relatos tem o mesmo grau de mistério, durante a calada da noite sem mais nem menos, os círculos apareceram nas plantações, entretanto o que o velho Hanz, fazendeiro mais antigo da cidade conta, deixa todos verdadeiramente assustados.

- Meus cães estavam latindo demais na noite passada não me deixando dormir de forma alguma, então resolvi levantar e tomar um chá na cozinha, quando avistei há uns trezentos metros adentro do meu campo uma luz alaranjada pulsando como uma grande fogueira, peguei a minha espingarda, um lampião e fui investigar, não antes de soltar meus dois pastores alemães. Confesso que tremia de medo, mas fui. Quando me aproximava, a luz se tornava mais intensa, eu sentia um cheiro muito forte, parecido com o cheiro de solda industrial. Meus cães foram na frente e mal pude ouvir o latido deles quando um clarão ofuscante me lançou a uns cinco metros de distância. Sei que acordei um tempo depois deitado no chão e meus cães até agora estão desaparecidos.

O silêncio foi geral no momento.

- Tenho certeza que seus cães estão por ai Hanz. Pires responde um tanto quanto desconcertado e prossegue argumentando:

- Pessoal não vamos nos precipitar, deve ser algum vagabundo sem ter o que fazer e resolveu sacanear com a cidade. Eu pessoalmente investigarei o caso a partir de agora. Manterei os senhores informados.

Roberto agora tem mais perguntas do que respostas. Como alguém faria círculos em plantações em diversos cantos da cidade, silenciosamente e em um curto espaço de tempo, e por que faria uma coisa dessas? Com qual objetivo?

O restante do dia segue calmo. Apesar dos estranhos acontecimentos, a família de Roberto janta tranquilamente evitando até mesmo comentar sobre o assunto.

Roberto tem dificuldades para dormir, rola para de um lado para outro da cama diversas vezes, Cristina cutuca-o com o pé. Ele fecha os olhos, mas simplesmente o sono não vem, até que, em um momento Roberto percebe uma iluminação alaranjada vindo da janela e resolve investigar.

Da janela de seu quarto no segundo andar da casa, ele pode enxergar facilmente toda a extensão de sua propriedade e a cerca de uns vinte metros adentro de sua plantação, uma luz alaranjada pulsa, como se tivesse vida de dentro do trigo. Voltando seus olhos para próximo da casa, vê Ryan parado de frente ao campo. Um arrepio gélido percorre sua espinha.

Trajando apenas uma calça e camisa, Roberto desce rapidamente as escadas e em instantes ocupa o lugar que Ryan estava a momentos antes, o paradeiro do jovem agora, é desconhecido.

Desesperado Roberto avança em direção à luz, e algo diz que lá encontrará seu filho. Ele nota um odor muito forte similar ao de solda, como o velho Hanz havia relatado, e a cada passo que avança, o cheiro aumenta até que um flash o atordoa temporariamente, quando seus sentidos voltam a controlar o seu corpo, o breu da noite é tudo o que ele vê.

O local de origem da luz deu lugar para mais um círculo, dessa vez muito maior. Com cerca de quinze metros de diâmetro, e no centro do circulo esta Ryan, de pé, imóvel.

- Filho, tudo bem?

O garoto mais uma vez esta em um estado catatônico.

- Ryan. Roberto balança-o pelos ombros.

- Ryan! Ryan.

De repente o garoto sai do estado, e responde aos comandos do pai.

- Tudo bem filho?

- Tudo sim papai.

- Por que está aqui filho?

- O hominho me disse com os olhos para vir aqui.

- Quem filho?

- O hominho que aparece no meu quarto papai. Ele é meu amigo.

Roberto pega o garoto e volta rapidamente para casa. No quarto dos jovens acorda Daniel aos solavancos. Com os olhos fechados o jovem apenas resmunga.

- Você viu alguém aqui?

- O que? Responde Daniel ainda com os olhos fechados.

- Eu perguntei se tinha alguém aqui no quarto com vocês.

- Claro que não.

- Você esta pregando alguma peça no seu irmão?

- Não pai. Por quê?

- Moleque, castigarei você se estiver mentindo, esta brincado com ele ou não?

- Você esta doido pai, estou dormindo desde o jantar, não faço idéia do que você esta falando. Deixe-me dormir.

A expressão sincera de Daniel convence o pai, Roberto então coloca Ryan na cama, cobre-o carinhosamente e fala.

- Filho, quando o homenzinho aparecer novamente chame o papai ta bom? Pode gritar que eu venho correndo.

- Tá bom papai, combinado. Responde o garoto.

Roberto passa o restante da noite em claro. O sono parece fugir dele assim como as respostas fogem de suas perguntas. Logo cedo, resolve ir à mercearia comprar pão e algumas outras coisas e ao chegar ao local, diversos moradores estão discutindo fervorosamente. Moradores relatam todo tipo de insanidade. Sinais no céu noturno, animais agindo de forma estranha, campos de trigo marcados por círculos e até um ou dois relatos de pessoas desaparecidas.

Roberto tem a nítida certeza de que algo esta errado, a cidade esta um caos e acredita que não é obra de algum desocupado qualquer. O Delegado Pires, encosta sua viatura e se junta aos populares.

- Senhores, senhoras, bom dia. Recebi inúmeros telefonemas esta noite a respeito de fatos estranhos ocorrendo por toda a cidade. Peço que mantenham a calma que tudo será esclarecido o quanto antes.

- Mas você não tem nem ideia do que está acontecendo? Uma voz em meio ao grupo grita.

- Sim... não... Na verdade...

- Estamos perdidos, o delegado não sabe o que acontece na cidade sob seu comando! Outra voz esbraveja.

- Pessoal, calma. Sem jeito e com o rosto corado Pires tenta colocar alguma ordem naquela discussão.

Sabendo que a conversa não vai levar a lugar algum, Roberto faz suas compras rapidamente e volta para casa. No caminho ele tenta se convencer de que há alguma explicação plausível para tudo isso.

Tem que haver ele repete em voz alta.

À medida que o dia se esvai e a noite se aproxima, Roberto fica cada vez mais agitado, ele sente que seja lá quem ou que esteja fazendo isso, o faz durante a noite, e ela esta cada vez mais próxima. Roberto está em sua quarta caneca de café enquanto pita um cachimbo compulsoriamente, alternando com goladas de café preto.

A família janta normalmente na cozinha e apesar do esforço, Roberto consegue disfarçar seu nervosismo e contando algumas piadas, consegue tirar boas risadas de seus filhos.

Após o jantar, seus filhos vão para cama assim como sua esposa Cristina, Roberto permanece na sala, pitando fumo. O tempo avança cada vez mais na madrugada, o silêncio do campo e o tilintar do relógio da parede da sala fazem com o que o sono pouco a pouco domine Roberto.

Ele cochila por algum tempo.

O som do cachimbo batendo contra o piso de madeira desperta Roberto, esta claro do lado de fora e por um momento pensa que dormiu durante toda a noite, entretanto ao olhar atentamente o relógio da sala, uma onda de desespero toma conta de seu corpo. O relógio marca três e quinze da manhã precisamente, e o que esta iluminando a parte externa da casa certamente não é o Sol.

Roberto pensa em seus filhos que estão dormindo no segundo andar e velozmente corre em direção ao quarto. Ao abrir a porta vê Ryan de frente para a janela segurando seu lençol com figuras de animais, completamente envolto em um misto de luz e névoa alaranjada. A bruma que envolve Ryan parece ter vida, ela o rodeia suavemente desde os pés até a cabeça. Subitamente seus movimentos ficam mais acelerados, o que assusta Roberto e em um momento de desespero corre em direção a Ryan e o abraça. Um turbilhão de sensações permeia a mente de Roberto, ele sente a respiração de seu filho, a pureza de seus pensamentos, até mesmo lembranças do pequeno Ryan vem à sua mente com nitidez cinematográfica. De alguma forma ele tem a certeza de que esta conectado a Ryan a um nível de sentir até mesmo os pensamentos mais simples do garoto. Subitamente ele sente seu corpo estremecer, um calafrio percorre sua espinha e estranhamente sente um formigamento por debaixo de sua pele, ele de algum modo pode sentir a inquietação de Ryan. Um zumbido ensurdecedor começa a ser ouvido, e parece que quanto mais o formigamento aumenta sob a pele, mais o zumbido aumenta, até que se torna insuportável de tal forma que a visão de Roberto escurece junto com sua consciência. Neste momento um clarão toma o quarto.

Roberto esta em uma superfície fria, o que lembra tanto em cor como temperatura alumínio. Uma espécie de lençol com uma textura similar a látex recobre-o dos pés a cabeça, ele não consegue distinguir muito o ambiente em sua volta devido à visão obstruída pelo lençol e principalmente por causa das escuras paredes, iluminadas apenas por pequenas lâmpadas rodeando o em formato de círculo. Conclui que esta em uma espécie de sala com não mais de dez metros quadrados.

Quando Roberto recobra completamente os sentidos, apenas uma pergunta invade sua mente.

Aonde está Ryan?

Ele sente que seu filho não está longe, sente as pontas de seus dedos frias e molhadas devido ao suor e de uma forma inexplicável, pode sentir a respiração ofegante dele, seu coração bater freneticamente, Abruptamente uma onda da adrenalina percorre o corpo de Ryan, esta com medo, ele teme algo.

Ao tentar levantar da superfície, o lençol de látex o puxa fortemente de volta a maca de alumínio. Quanto mais Roberto se esforça, mais o lençol o prende. A sensação de inutilidade desola Roberto.

Sua laringe começa a vibrar, ele grita o grito de seu filho, e o som abafado devido ao lençol é horrível, uma agulha toca o braço esquerdo de Ryan e consequentemente o de Roberto. Ryan hiperventila, Roberto também. A sensação de terror de seu filho faz Roberto ter ânsia de vômito.

Tudo o que ele quer é se livrar do lençol de látex e salvar seu garoto, mas cada vez que tenta se levantar, inexoravelmente é puxado de volta.

Roberto começa a ouvir algo parecido como uma broca de dentista, e ele vê através dos olhos de Ryan um vulto com uma maquina cheia de fios e diversas luzes piscando em tons magenta, azul e amarelo. Ele sente Ryan movendo-se brutalmente e devido ao movimento de seu corpo, percebe que seu filho esta envolvido com o mesmo material que o aprisiona na superfície gelada da maca de alumínio. Eis que o objeto toca o pescoço de Ryan fazendo um pequeno furo com pouco mais de 0,5 milímetros, Roberto sente seu filho entrar em choque, sente com toda intensidade possível, todo o medo, todo o horror de seu pequeno. É indescritível. Neste momento o vulto aproxima-se do rosto de Ryan e pelo seu olho ele vê uma cabeça que pouco lembra à fisionomia humana, olhos grandes e negros como a noite e um tom de pele acinzentada, a criatura toca a testa de Ryan, ele sente o dedo gelado tocando a testa de Ryan Neste momento o vulto aperta uma combinação de botões do objeto que fez uma perfuração no pescoço do jovem e o sente sugando os fluidos de seu pescoço. Eles desmaiam.

Começa com um pingo, depois dois, três, aos poucos o rosto de Roberto fica totalmente molhado com os pingos de chuva que levemente trazem a consciência de volta para ele. O cansaço em seu corpo é imbatível e apenas após muito esforço, consegue virar-se e fica deitado de costas, copas densas das arvores obstruem a vista para o céu, um céu nublado e chuvoso de uma manhã cinzenta. Roberto abre a boca e deixa que a água da chuva matar a sua sede, assim Roberto passa por mais de uma hora, até que consegue reunir força suficiente para levantar-se e explorar o local. A floresta lhe é familiar, o barulho de uma buzina não muito longe de onde está, o faz levantar em busca do som.

Roberto anda se escorando nos troncos das arvores, e vez ou outra para por alguns minutos para descansar. Após quinze minutos de uma difícil caminhada, ele encontra a estrada que leva para a cidade. Espera por alguns minutos algum carro que possa lhe oferecer uma carona, porém em vão, então resolve caminhar em direção a cidade, de forma lenta e pesada.

Depois de dez minutos de caminhada, Roberto ouve ao longe o som de um veiculo pesado, possivelmente uma caminhonete, e quando se aproxima, reconhece o furgão que Maria usa para entregas em sua mercearia. O motorista para ao lado dele.

- Meu Deus Roberto. Exclama Marcio, filho mais velho de Maria.

- Me ajude... Roberto desmaia.

Quando Roberto recupera sua consciência, reconhece imediatamente o teto de seu quarto, sua esposa esta em uma cadeira cochilando ao seu lado e ao perceber o primeiro movimento de Roberto, acorda e abraça-o fortemente.

- Meu Deus amor! Pensei que nunca mais o veria.

- Quanto tempo eu fiquei desacordado?

- Você desapareceu faz uma semana, Marcio o encontrou ontem cedo. Você dormiu praticamente vinte e quatro horas.

- Cristina, por favor, me de um copo d'água.

Enquanto bebe o copo com água, Cristina continua.

- E onde esta Ryan? Depois daquela noite a cidade inteira ficou um caos. Onde ele esta amor?

Roberto esforça-se para recordar, sente no fundo de sua alma que algo não esta certo. Qualquer tentativa de lembrar algo sobre seu filho resulta em uma forte dor de cabeça. Após longos minutos pensativo, em tom de profunda tristeza Roberto responde.

- Eu não sei.

Tema: Pessoas desaparecidas.