PRESOS: O VICIO DE MATAR

Havia uma aldeia localizada em um local muito frio. Era inverno, a região era montanhosa e isolada. As montanhas estavam cobertas de neve. Pelo que parecia, aquele inverno seria o mais frio de que qualquer ancião da aldeia poderia se lembrar, e a comida já estava escassa. Não sabiam mais o que fazer, até que certo dia o líder tomou uma decisão: escolheu cinco caçadores famosos pela sua habilidade em caçadas e os mandou a uma expedição em busca de comida.

Desses cinco, um deles se destacava, era conhecido na aldeia, pelas costas, como Velho Urso, visto que corria na aldeia uma lenda de que ele, sozinho, havia certo dia com a ajuda de um machado acabado com três ursos sedentos por sangue. Apenas Velho Urso tinha outra arma se não uma lança de madeira, nem mesmo o líder da aldeia tinha qualquer arma com lãmina. Todos temiam Velho Urso, ele tinha mais ou menos dois metros e meio e devia pesar uns cento e poucos quilos. Seus braços tinham uma circuferencia que a perna da maioria das pessoas nem mesmo sonha em alcançar.

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Na manhã de uma terça feira, o grupo saiu confiante, porém sem perceberem o que os esperava. Talvez a neblina ajudasse a esconder que eles enquanto se distanciavam dos outros aldeões, se entragavam fielmente às garras do destino, e, consequentemente, para um caminho de morte e sujo de sangue.

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Caminharam por cerca de duas horas, até que alcançaram uma montanha coberta de neve. Esta montanha tinha uma abertura, que levava para uma caverna estreita, parecia um pouco mais quente e a luz entrava fracamente pela abertura.

Resolveram que lá almoçariam, e estabeleceram um pequeno acampamento. Comeram e beberam, parecia tudo calmo e todos conversavam como amigos, exceto Velho Urso. Descansaram ali por um tempo, e quando já se preparavam para seguir viagem, ouviu-se um barulho vindo da montanha, no lado de fora.

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Havia no grupo, um garoto com cerca de dezessete anos, não era forte, e sim magrelo, porém, era ágil e rápido. Atônito, ele correu até perto dos outros caçadores. 'Estão todos bem?'' - perguntou. Todos fizeram que sim, mas velho Urso correu para o lado da saída... Tinha ficado mais escuro, e foi aí que caiu a ficha para eles. Velho Urso voltou correndo e esbravejando, balançando seu machado:

'Estamos presos!'

'Calma... Tem que ter uma saída...' - disse o garoto mais jovem.

'Calma? Você me pede calma? Será que não perceberam? ESTAREMOS MORTOS EM TRÊS DIAS! A COMIDA QUE TEMOS NÃO DURA PARA SEMPRE'

Discutiram por um certo tempo, mas logo viram que teriam de achar uma saída, entretanto resolveram que fariam isso no outro dia, iriam dormir primeiro...

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No meio da noite, o garoto mais jovem se acordou, e com os olhos já acostumados com o escuro, viu Velho Urso com seu machado. Os outros todos estavam dormindo. O grandalhão olhou para ele e fez sinal de silêncio. Quando percebeu o que ele estava prestes a fazer, o grito de 'NÃÃÃO' do jovem caçador pareceu abafado pelo som macabro do machado de Velho Urso cortar o ar, antes de cortar algo mais sólido: o pescoço de um dos outros caçadores.

O grito acordou os outros dois, que se levantaram já com as lanças em punho. Não demorou mais do que quinze segundos até Velho Urso estar de pé, com o machado na mão, e os outros dois caçadores decapitados no chão. Tudo num raio de dez metros estava manchado de sangue.

O garoto levantou-se, e Velho Urso veio correndo para o seu lado com o machado, o garoto apenas fechou os olhos, esperando a dor do golpe, porém ouviu o som do machado caindo no chão, e abriu os olhos apenas para ver Velho Urso o balançando pelos ombros:

'Você ficou louco, garoto? Porquê gritou?'

'Eles eram nossos amigos!'

'Ah, garoto, tão jovem e ingênuo... A fome não tem amigos!'

'O que?'

'Não percebe? Temos de achar um jeito de sobreviver, e sem eles, duraremos muito mais tempo até escaparmos ou alguém nos resgatar!'

'E porque não me matou também?' - a pergunta pareceu mexer com Velho Urso, e ele apenas balbuciou:

'Eu.. Não sei.'

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Os dias foram passando, e a esperança acabando. Algumas vezes Velho Urso contava para o garoto sobre caçadas antigas com histórias que envolviam ursos gigantes jogados por ele de cima de montanhas. Essas histórias eram um bálsamo momentãneo para eles, mas sentiam a morte se aproximar. Os cadáveres dos outros caçadores não estavam apodrecendo, possivelmente por causa do intenso frio. Chegou o dia em que os recursos acabaram, e eles precisaram comer a carne de seus próprios amigos e beber a própria urina. Ia tudo de mal a pior, e eles sentiam a morte se aprossimar lenta e sorrateiramente, como um caçador pronto para abater sua próxima vítima.

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vinte dias se passaram. A neve à porta havia derretido, mas as pedras trancando a porta eram impossíveis de se retirar pelo lado de dentro, e não tinham esperança a não ser um resgate.

A carne dos caçadores estava acabando, e eles iriam morrer de fome não muito tempo depois. Então fizeram um trato: para não passaram o sofrimento de morrer de fome, um mataria o outro. O garoto pegou sua lança, e Velho Urso pegou seu machado.

Agora acabariam com aquilo, rápido, sem dor ou mais sofrimento.

Ficaram um de frente para o outro. O garoto ouviu uma agitada conversa do lado de fora.

Vamos acabar logo com isso!

Olhou para Velho Urso, e incrivelmente, ele sorria...

Vamos acabar logo com isso!

Tudo estava errado, era a fome que o fazia delirar. Sim, devia ser...

Vamos acabar logo com isso!

Não havia ouvido nada, não haveria resgate...

Vamos acabar logo com isso!

Velho Urso o havia poupado, era um amigo. Um amigo bom e fiel.

Agora, acabaremos com tudo...

Gritou até três, e fez tentativa de atacar Velho Urso... Ele desviou, mas por quê? E otrato? Antes que ele esperasse, Velho Urso o atacou com o machado. Ele estava morto, Velho Urso o havia traído... Antes que ele caísse no chão totalmente, a última rocha foi removida e a luz invadiu o local.

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Aldeôes conseguiram remover as rochas por fora, sorriam ao remover a ultima, mas logo pararam de sorrir, ao ver a caverna. A aparência do lugar era horrível. Havia um homem em pé com a boca suja de sanque humano seco, como um lobo que acabou de comer um coiote. Havia outro com a mesma aparência, porém estava morto ao chão, e se via ossos e restos humanos apodrecidos aos cantos, além de muito sangue por todos os lados.

Eles olharam para o homem, com medo, e ele foi correndo em sua direção, com um machado em mãos.

O homem era Velho Urso... Ele foi contaminado pelo vicio de matar, agora, estava dependendo disso, como um viciado depende de uma droga... Seu machado, era agora seu único e fiel amigo, e ele, era como um zumbi, que não controla mais seu corpo, via todos como parasitas a serem eliminados, e o sangue alheio era seu combustivel.

E nesse momento, ele está sorrindo por achar mais uma 'presa'.

Adeus, caro leitor, pois neste instante ele empunha seu machado atrás de você.