A HISTÓRIA DO GIGANTE GRÖGLY - DTRL25

" — Medo. Tenho medo — disse o garoto um pouco antes do ferro pontiagudo trespassá-lo pelo umbigo. O gigante levou-o à boca, como um pedaço de linguiça no espeto, e o devorou. "

— Pai, por que o gigante comeu ele?

— Porque os gigantes têm muita fome e precisam comer muito para manter o corpo enorme deles.

— Entendi… são que nem os animais carnívoros que comem os herbívoros porque precisam sobreviver, não é isso?

— Isso mesmo.

Ela sorriu.

— Pode continuar.

"A mocinha se arrumava no banheiro. Acabava de secar o cabelo. A festa seria boa. Quando terminou de passar o batom se perfumou e foi até a sala ver o namorado que deveria estar bravo por ter de esperar tanto tempo. Encontrou-a vazia.

— Rafa?

'Aonde será que foi?', pensou Renata segundos antes de ir até a varanda e ter seu corpo esguio varado pelo ferro comprido e agudo.

O gigante levou-a à boca, como um pedaço de gorgonzola no espeto, e, assim como engolira o namorado, a engoliu."

— Ela tinha um namorado?

— Tinha.

— O Grögly comeu ele primeiro?

— Comeu.

— Um dia eu vou ter um namorado?

O pai abriu um sorriso e acariciou o cabelo da filha antes de responder:

— Um dia vai sim, minha querida, só espero que demore um bocado!

Ela riu e disse para que continuasse a história.

"Começou a chover forte. Jorge se irritava dentro do carro. Fazia mais de uma hora que estava preso no trânsito. Caía tanta água no para-brisa que os limpadores quase não davam conta.

— Maldita chuva! — reclamou Jorge um pouco antes de sentir baterem na traseira de seu carro.

— Filho da puta!

Saiu do veículo sem se importar com o temporal e foi então que sentiu a barriga ser penetrada por um grande pedaço pontudo de ferro. Gritou horrores enquanto subia em meio à tempestade, mas os gritos terminaram assim que a boca de Grögly se fechou explodindo Jorge entre seus dentes como se fosse um tomate-cereja."

— Pai...

— O que foi amor?

— Jorge era um homem mau, não era?

— Por que você acha isso?

— Porque ele disse um palavrão!

— É… é verdade, devia ser um homem mau.

A menina balançou a cabeça satisfeita.

— Que bom que o gigante comeu ele.

"Frederico fazia sua caminhada noturna pelas ruas desertas do bairro onde morava. Caminhava distraído, havia acabado de lhe ocorrer uma ideia para um conto. Adorava escrever contos, já havia participado de alguns campeonatos literários e chegou a ter alguns de seus textos publicados em antologias. E que ótima ideia lhe ocorrera! Precisava externá-la! Sempre fazia isso quando uma boa ideia aparecia.

— Um homem caminhava por uma estrada escura quando...

Grögly espetou-o pelas costas, partindo sua coluna vertebral ao meio. O jovem escritor não gritou e nem sentiu nada. Morrera instantaneamente."

O pai olhou para a filha, aguardando um comentário, mas não veio nenhum.

"Um entregador de pizzas ia fazer uma entrega na zona norte da cidade. Passava por um túnel longo e espesso, não havia nenhum carro ou veículo à sua frente. Caminho livre! Acelerou mais a moto, de 70 km/h foi para 80, 90, 100… queria chegar a 110 km/h ainda dentro do túnel… 107… 108… VRUM! A moto continuou sozinha pela noite, sem o condutor acabou perdendo o equilíbrio. Ao cair arrancou uma chuva de faíscas douradas do asfalto antes de bater na guia. O motoboy, empalado por Grögly na saída do túnel, teve um destino muito pior.

A filha continuava quieta.

"Sempre na hora de dormir a garotinha ficava ouvindo o pai contar histórias e ela sempre fazia um milhão de perguntas sobre tudo o que ouvia e…"

— Pai! Você está inventando! Não tem essa parte na história!

O Pai riu.

— Só queria ver se estava prestando atenção.

"Os irmãos gêmeos, Caique e Kauê, comemoravam seu vigésimo primeiro aniversário na churrascaria do tio, 'A Churrascaria Dona Aurora'.

— A melhor churrascaria de Bragança Paulista!

A família reunida comemorava, era uma família grande e gorda, juntos deviam pesar mais do que dez toneladas. Os gêmeos só não eram mais gordos do que o Tio que pesava um pouco mais do que 220 quilos.

Terminada a festa os irmãos saíram da churrascaria, e foi nessa hora que Grögly pegou-os de uma só vez com o espeto, perfurando ambos pelo lado esquerdo do torso. Eles se debatiam e berravam presos ao ferro frio que os levava para a boca do gigante como se fossem duas azeitonas gordas."

— Eu adoro essa parte! — disse a menina.

— Eu também — concordou o pai — dá pra imaginar bem as perninhas se mexendo — e imitou com os dedos as pernas dos irmãos, movimentando freneticamente o dedo médio e o indicador.

"O tio dos rapazes saiu em seguida, gritando de horror. A família inteira berrava! Mas o gigante não lhes deu atenção, pois ainda saboreava a dupla na boca. Mastigando sonoramente e…"

— Filha?

Aproximou-se da filha e percebeu que ela adormecera. Deu-lhe um beijo na testa, carinhoso, com cuidado colocou o livro de Grögly na estante e apagou o abajur ao lado da cama antes de deixar o quarto.

A menina acordou meia hora depois. Sentia fome. Acendeu a luz do abajur e debruçou-se do lado direito da cama para alcançar um volume debaixo dela. Retornou com uma caixa de papelão branca tampada e a colocou sobre o colo.

Removeu a tampa e ouviu centenas de gritinhos saindo pela abertura.

— Não temam, não temam — disse com voz meiga. — Só vou comer um pouquinho.

Então pegou um alfinete em cima do criado-mudo e começou a comer.

...

Tema: Criaturas Fantásticas / Comida

Alexandre Royg Machado
Enviado por Alexandre Royg Machado em 17/11/2015
Reeditado em 13/07/2016
Código do texto: T5451665
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