O trem

Eu nunca irei esquecer-me daquele dia, os meus cabelos embranquecem e rareiam, fatos e momentos apagam no tempo, mas a lembrança daquele dia isso não se apaga vão me deixar mais.

Era uma sexta feira, quando meus colegas iam para o happy hour eu fiquei no escritório para terminar um relatório que meu chefe havia pedido, já deveria ter passado quando sai de lá, ao caminho da estação do trem parei numa loja de lamén, pois ainda nem tinha jantado e a fome apertando, sentei junto ao pequeno balcão, pedi uma tigela caprichada e sake, outra coisa que nunca esquecerei é o gosto daquele lamén foi o melhor que comi em toda minha vida.

Com a barriga forrada e meia garrafa sake depois, paguei e fui para estação, durante o tempo em que esperava o trem na plataforma, percebi uma nevoa baixa se formar cobrindo os trilhos e a área em volta da plataforma, naquela hora pensei estar numa cena de filme de terror, era o único lá deduzi que deveria ser por causa do horário.

Comecei a ouvir o som do trem se aproximando, era um trem pequeno, parou e ao entrar percebi que era o único alem de um condutor, o uniforme não era o tradicional, estava vestido com um traje negro, de aparência seria e taciturna, senti um frio na espinha ao vê-lo, procurei sentar no meio do vagão longe dele.

Sentia-me cansado, o sono começando a bater, mas não poderia cochilar com o perigo de perder a minha parada, mas acho q devo ter dado uma piscada, pois quando o percebi já estava sentado ao meu lado, tentando conversar comigo.

- É a primeira vez que pega essa linha?

- A linha não, mas esse trem sim, nunca tinha visto antes – respondendo de forma educada.

- Ah sim, trem não te muitos usuários, só em ocasiões especificas – não entendi muito que ele quis dizer, mas não queria prolongar a conversa então nada falei, mas acho que ele leu a minha mente.

- Ele roda todos os dias em horários diferentes, tem dia que não entra ninguém, tem dia que só vem um e outras que lota, mas são sempre só uma viagem, poderia dizer que só de ida.

- Há muito tempo que faz isso? – começava aflorar uma curiosidade, desse estranho homem, de aparência sinistra, mas de voz suave.

Sorriu mostrou quatro dedos, deduzi que ele queria dizer quatro anos, por ele não aparentar ser mais velho do que eu naquela época.

- Sou Kotani Koichi - apresentei-me habito que tinha sempre que tinha uma conversa com alguma pessoa.

- Pode me chamar Shini – disse com uma leve inflexão na voz, como se quise-se enfatizar a primeira silaba do nome.

- Prazer.

- Prazer o meu, mas você disse chamar Kotani Koichi, né.

- Sim, isso mesmo por quê?

- Nada não, achei interessante.

Ele levantou a cabeça e soltou um suspiro e falou.

- Sua estação esta chegando.

Foi então que percebi que realmente estava chegando nem percebi o tempo passar, peguei minhas coisas meio desajeitado agradeci pela conversa, ele me acenou com a cabeça e deu um leve sorriso.

Desci do trem e fui para casa, ao chegar foi nesse momento dei-me conta que havia esquecido minha pasta no trem, pelo horário saberia que não conseguiria resolver nada então fui dormir e deixei para manha seguinte para tentar resolver o meu problema.

Na manha seguinte tomei um café e fui ver se acharam a pasta, cheguei à estação e fui buscar informação, mas nada foi deixado lá, conversei com um encarregado, e recebi a mesma resposta de que nada havia sido entregue lá, ele me perguntou em que trem e horário que havia esquecido, ele ia consultar se não foi deixado nada na estação final.

Comecei a falar que peguei o trem por volta da meia noite, ele ficou me olhando com uma cara estranha e disse não havia nenhum trem nesse horário que o último passava lá às onze da noite, disse que não era possível que eu tenha pego nesse horário, foi nesse momento, passei a descrever a composição em que esqueci a pasta, no mesmo instante ele colocou o telefone no gancho e me olhou assustado.

- Meu jovem, recomendo que você deva procurar imediatamente um templo e fazer uma oferenda de agradecimento.

- Mas por que, não compreendo?

- Por sua vida, por estar vivo.

- Como? - falei aturdido, sem entender o que ele queria dizer.

- Esse trem que você descreveu não existe, mas várias pessoas já o virão e até o pegaram.

- Como não existe e as pessoas podem usar como eu?

- Você ainda não compreendeu, quem o pega só faz viagem de ida.

- Desculpe, mas não compreendo mesmo.

- Esse trem é chamado de densha jigoku (trem do inferno).

Quem ficou assustado fui eu, senti o mundo rodar a minha volta, se não fosse o encarregado segurar teria ido para o chão, recuperei-me e agradeci e fui fazer o que ele falou, passei no primeiro templo que vi, fiz uma oferenda, e pedi para um sacerdote fazer uma benção.

De volta em casa, foi quando tive o maior choque, pois se encostava à porta de entrada estava a minha pasta com um bilhete, entrei em casa e fui ler o que foi escrito.

“Kotani Koichi, acho que você esqueceu sua pasta no meu trem, nossa conversa foi breve, mas espero que tenhamos outra oportunidade de conversar.” As pernas tremeram quando li a assinatura estava escrito “Shinigami”, após ler o bilhete desapareceu em minhas mãos.

Nunca esqueci o dia que andei no trem do inferno e falei com o próprio anjo da morte...

Osukaa
Enviado por Osukaa em 05/02/2016
Código do texto: T5534471
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