O quarto da torre

Tommey sempre foi apaixonado por Evelyn, sua vizinha, que morava na casa no fim da rua. Desde a primeira vez que a vira soube que ela era a mulher da sua vida. Porém, a menina tinha um pai muito difícil. Quase nunca se via a menina com os outros adolescentes na rua, brincando de ciranda e amarelinha. Nem mesmo sabiam-se quem eram suas amigas mais íntimas. Mas quando a viam, sempre era o colírio dos olhos de todos os rapazes. As outras meninas perdiam a graça perto dela. Mas, infelizmente, ela não falava com ninguém, apenas ficava sentada em sua varanda, com a expressão sonhadora, meio perdida em algum pensamento seu.

Certo dia, não mais aguentando viver longe de sua amada, sem nem ao menos poder dar-lhe um ‘oi’, Tommey foi bater na casa dela, procurando o homem que um dia pretendia chamar de sogro, para tirar satisfações. Ele tinha que deixar a menina se enturmar para que pudesse namorar com ela.

Ele reuniu toda a sua coragem, típica de um menino de dezessete anos, e bateu na porta da casa de Evelyn. Foi o pai dela quem atendeu.

- O que você quer? – perguntou, ríspido.

- Quero permissão para sair com sua filha, senhor. – falou, com todo o respeito do mundo.

- Fora daqui, moleque impertinente. – falou, grosseiramente e fechou a porta na cara de Tommey.

Ele não se conformou e pôs-se a bater na porta incessantemente, porém, após quase quarenta minutos sem resposta e os nódulos dos dedos em carne viva, ele finalmente desistiu e foi para casa.

Dias se passaram em que Tommey ia diariamente até a casa da amada, tentar reclamar seu amor, mas sempre sem resposta. Até que surgiu uma notícia na vizinhança de que a menina estava estudando em um internato, já fazia algum tempo. Por isso nunca era vista.

No começo, Tommey aceitou a história. Até que, louco de amor como estava, sua mente começou a clarear. Ele fez as contas e, as vezes que a vira, supostamente ela deveria estar na escola, e não em casa.

Ele tentou argumentar sobre isso com os pais, com os amigos, tentou fazer todos verem que havia algo de errado na história do internato, porém ninguém lhe dava bola. Ele estava conhecido como o doido do bairro.

Então, finalmente, em uma de suas noites em claro, ali estava ela. Evelyn, linda, ruiva, olhos verdes e grandes, corpo bem torneado, apenas de camisola, em seu quarto. Tommey não sabia se havia pego no sono, ou se aquilo era real. Ele sabia que estava acordado e acreditou nisso.

- Evelyn?

- Me ajude. – a menina falou.

- O quê? O que houve?

- Me ajude. – ela repetiu.

- É mentira não é? A história do internato. O que aconteceu? – ele perguntou, sem parar para respirar entre uma pergunta e outra, porém ela apenas respondeu:

- Eu preciso da sua ajuda. Você é o único que acredita. Me ajude. Eu vou ter que voltar para casa...

- Venha aqui. – ele falou e abriu espaço para ela ao seu lado na cama. Ela apenas se deitou com ele e passaram a noite se olhando.

Tommey percebeu como ela estava gelada e que nem a coberta a esquentava. Realmente fazia uma noite muito fria, então ele a abraçou. E assim, passaram a noite.

Quando ele acordou, ela não estava mais lá.

Louco de fúria, ele caminhou pesado até a casa da menina e socou a porta violentamente, até que alguém abriu.

Era o pai de Evelyn.

- O que está fazend... – ele começou, porém nunca terminou a frase, tamanho foi o soco de Tommey em seu rosto.

Após vê-lo deitado no chão, inconsciente, ele seguiu porta adentro, a procura do quarto de Evelyn. Temia por ela, podia estar trancada dentro do quarto e tinha que salvá-la. Porém, se ela fugira a noite, por que teria voltado? Ele simplesmente não sabia. Podia ser medo de ser pega pelo pai no meio da fuga. Ou não. Ele não conseguia pensar. Pela primeira vez acreditava que era o que o chamavam há meses, o louco.

A casa era enorme, mas uma longa escadaria no final do corredor dava em uma torre. E ele podia ouvir o choro que vinha de lá. Sabia que ela estava lá e que precisava dele.

Subiu as escadas correndo, com mais disposição do que no atletismo e lá estava ela. No final do corredor. Ia do chão ao teto. Toda de madeira de lei. Enorme e grandiosa. A porta. A única porta. E o choro aumentou. Aumento tanto que fazia doer os tímpanos, como se metal estivesse se arrastando em metal e fazendo um som terrível e agourento.

O vento também era enorme ali em cima. Isso ele não entendia como, pois era tudo fechado. Mas parecia que um tornado passava pela fresta da porta no chão. Era tão forte que ele mal conseguia andar na direção contrária, indo para a porta.

Mas ele fez um esforço. Deu o melhor de si. Evelyn merecia isso. Então venceu a distância e a força monumental do vento naquele recinto. E abriu a porta.

Porém, seu grito foi congelado pela eternidade e ele nunca teria tempo de entender. Ele simplesmente sentiu que ia cair e não poderia fazer nada. A última coisa que ouviu foi:

- Então se quer ficar com ela, que seja. – falou o pai de Evelyn, que havia recuperado os sentidos e o empurrara.

O empurrara no grande espaço vazio que nunca havia sido construído na torre e que, no fundo, trinta metros abaixo, jaziam os restos mortais de Evelyn, há mais de dezessete anos, idade de Tommey, morta pelo pai que a havia estuprado e jogado no quarto da torre, que nunca havia sido terminado de construir.

Ninguém além do rapaz nunca vira a moça e como o achavam louco nunca o disseram o contrário.

Mas pelo menos agora ele estaria para sempre perto dela.

Fim

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Já faz uns anos que não escrevo contos, mas esse veio na mente agora, assim, bem rapidinho. Acho que deu saudades rsrsrs

bjos

Camilla T
Enviado por Camilla T em 23/06/2016
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