INCINERADA

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Teresa era moça feita, com seu trejeitos meio engraçados, resíduo genético de seus avós italianos, era alta, sua tez clara contrastava lindamente com seus cabelos negros. Bem acomodada de corpo, com um acréscimo de ancas que enlouquecia os homens, dona de enormes olhos verdes, sombreados por espessos cílios negros. Sua boca carnuda na medida certa, tinha um tom rosado que no abrir de um sorriso, faria congelar um vulcão. Todas as atenções sempre estavam voltadas para ela, o que causava alguma inveja nas menos privilegiadas e até rancor num certo rapaz de nome Roberto, bem apanhado, moreno claro de traços aquilinos, rico, com um enorme defeito, achava-se a último biscoito recheado de chocolate do pacote, para ele tudo tinha preço e se tinha preço, ele podia comprar, sem exceção, objetos, atitudes ou pessoas, poderoso no seu entender e sensibilidade, não era uma palavra que constasse em seu vocabulário.

Sua meta atual, era comprar o carinho, a atenção, a vida de Teresa, mas, ela nem lhe dava bola, não gostava de tipos canastrões como ele. Roberto ficava em chamas por não conseguir seu intento, sempre dizia que a faria arder por ele, mais dia menos dia, ela não perdia por esperar, estava cada vez mais louco por ela, não por amor ou desejo, dizendo melhor desejo sim, mas, de posse. Ele estava obcecado por isso. Já levara todos os foras em todos os locais e situações possíveis, Teresa estava de saco cheio das investidas dele, um cara insuportável que se achava o dono do mundo. E aquela estória, de dizer aos quatro ventos e pelos quatro cantos, que faltava muito pouco para que ela ardesse por ele, a deixava de mau humor.

Num dia meio nublado à beira do lago, bem próximo ao Campus da Universidade onde estudavam, um latão com chamas altas, ardia com forte aroma de sândalo. O cheiro foi invadindo os espaços, com o clima seco ele se espalhava fácil e atraiu muitas pessoas para o local. A cena era surreal, um Roberto todo desgrenhado rindo escandalosamente, um riso insano, com a cabeça de Teresa pingando sangue, pendurada pelos cabelos em sua mão, um latão em chamas, incinerando os restos de Teresa, era um tanto acre o odor de carne queimada e sândalo que se sentia, pessoas estupefatas olhando com horror aquela mórbida cena e um Roberto, com as roupas ensanguentadas, descabelado no auge da loucura, rindo e gritando para a cabeça de Teresa
- Eu não disse que você iria arder pra mim, vadia!!!
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 24/09/2016
Reeditado em 26/09/2016
Código do texto: T5771164
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