NUVEM NEGRA

Foi assim, aliás sempre assim, por muitas vezes Há muito tempo, ainda adolescentes, eu e meu irmão subíamos e descíamos o Alto da Boa Vista de bicicleta. Íamos parando de vez em quando, para recuperar o fôlego, beber das fontes cristalinas de água potável, apreciar, sem pressa nenhuma, a natureza dadivosa da rica Mata Atlântica, repleta de vida. Ouvimos falar que foi Dom Pedro II quem reflorestou muitas daquelas terras, revelando uma preocupação com as riquezas naturais e a biodiversidade.

Coisa de visionário. Pois bem, íamos parando para ouvir e ver os pássaros, os micos, outros animais silvestres, as vegetações.

Depois pedalávamos, até nos cansar de novo e assim transcorria nosso passeio, de forma muito tranquila. Adentrávamos pela floresta da Tijuca e tomávamos banho numa linda cachoeira.

Pois bem, certo dia, nós sempre tínhamos o hábito de, na descida, ir parando para comer os doces deliciosos dos despachos,

desta vez não foi diferente e era cada doce mais gostoso do que o outro, tinham uns até caros e importados, como não querer degustá-los?

E íamos descendo, até percebermos, por entre as copas das árvores, uma imensa nuvem negra se aproximando de nós rapidamente, quando vimos, ela já estava nos alcançando,

então, apavorados, pedalamos ladeira abaixo feito loucos,

com grande velocidade e a nuvem negra atrás de nós,

e de dentro dela ouvíamos milhares de vozes de crianças em coro dizendo repetidamente: " Ladrões, ladróes, devolvam os nossos doces, devolvam os nossos doces!"

Quando chegamos na Usina, as vozes repentinamente cessaram e ao olharmos para trás, a nuvem havia desaparecido. Aí é que nos demos conta: era dia de São Cosme e São Damião.
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 27/09/2016
Reeditado em 18/01/2017
Código do texto: T5774528
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