O telefone

Samira estava em casa, numa noite, sentada em frente a tv. Ela assistia um filme qualquer até que o sono viesse. Então, o telefone começou a tocar, já eram quase dez da noite. " Quem liga para os outros às 10 horas da noite?" pensou ela.

Ela atendeu o telefone, mas do outro lado da linha apenas um chiado. Como ninguém respondia ela desligou, para no instante seguinte o telefone tocar novamente. Ela atendeu. O mesmo chiado. Mais uma vez ela desligou, e mais uma vez o telefone tocou.

Agora ela já estava começando a ficar impaciente. Seria algum trote? Alguma brincadeira de mal gosto? Então uma voz estranha sussurrou: Samira. Com o coração disparado ela desligou. Por algum motivo aquilo foi meio assustador. Mas a voz disse o nome dela, então devia ser a brincadeira de alguém, ela pensou. Ainda assim, no fundo, ela não estava tão segura. E ela estava certa.

Depois de semanas veio mais uma vez o telefonema. Dessa vez era uma tarde monótona de um feriado prolongado. Samira estava arrumando o guarda-roupa quando o telefone tocou, e do outro lado da linha aquele mesmo chiado e depois um sussurro - Samira.

Ela desligou e telefone, que começou a tocar novamente, mas dessa vez ela não atendeu. Aquela brincadeira era muito sem graça.

E não parou por aí. Na terceira vez que aconteceu ela começou a procurar amigos e família, até conhecidos sem muita afinidades, tentando achar o autor da brincadeira de mau gosto. Mas ninguém parecia saber do que ela estava falando. Até que um deles deu a ideia dela instalar um identificador de chamada, afinal podia ser algum tarado por aí que ficava animado em assustar mulheres jovens.

Logo o identificador de chamadas estava instalado. Na quarta vez que aconteceu, o identificador de chamada estranhamente mostrou o próprio número dela. Quando Samira antendeu ouviu o mesmo chiado estranho e logo em seguida a voz sussurrante.

Ela bateu o telefone no gancho e desligou o telefone, para logo em seguida ele começar a tocar. Pela primeira vez a mente dela registrou toda a estranheza da situação. Era como estar preza num clichê de filme de terror que nunca acabava.

Ela nunca sabia quando ía receber uma ligação, cada vez que o telefone tocava o coração dela disparava com medo de ser a voz estranha, mas na maioria das vezes respirava aliviada quando identificava o número de um amigo ou do trabalho.

As ligações continuavam e sempre no mesmo padrão. Sempre três tentativas. Algumas vezes Samira via o próprio número no identificador de chamada e não atendia a ligação. Porém no dia seguinte, e no outro e no outro ela recebia as ligações estranhas. Era como se ela fosse obrigada a atender pelo menos uma vez e ouvir a voz sussurrando seu nome.

Depois de meses assim, ela não aguentou mais. Cancelou o telefone fixo e ficou apenas com um celular, mas para o terror de Samira, as ligações continuaram. Na tela do celular sempre aparecia o antigo número do telefone fixo dela.

Samira estava começando a ficar desesperada. Começou a procurar médiuns, centros espíritas ou qualquer um que prometesse ajuda. Mas as ligações continuavam.

Porém, sem que ela se desse conta, as ligações pareceram parar. Terminou tão subtamente quanto começou. Por muito tempo, cada vez que o telefone tocava, ela sentia um frio na espinha. Mas quando reparou, meses haviam se passado sem nenhuma ligação. Os meses se tornaram anos.

Samira deixou tudo isso para trás. Era apenas uma história sinistra e sem explicação. Ela casou e se mudou com o marido para outra cidade. Um dia, na nova casa, o telefone tocou. Sem pensar duas vezes, ela atendeu. O velho chiado começou e a familiar voz sussurrante - Samira.