Noite de terror e pânico

Em uma noite fria e úmida de inverno após acordar de um cochilo, abri a janela do meu quarto. Ainda faltavam alguns segundos para que o relógio apontasse para meia noite, e em meio aos túmulos, Pryde vagava sozinho com seu machado na mão sob a forte luz clara da lua cheia que estimulava os uivos dos carniceiros coiotes. Um vento frio soprava e punha movimento na massa de neblina que atribuía à noite um clima macabro. Corujas e abutres mantinham-se acordados na esperança de se alimentarem. Nada era mais perfeito para esta alma que havia sido amaldiçoada pelo demônio, instantes antes de ser expulso do inferno após derrotar o capeta em um jogo de xadrez. E La estava ele, meu mais compreensivo amigo em busca do seu maior desejo naquele momento.

Foi vendo esta cena que me coloquei a pensar na estranha causa que havia tirado meu sono e me levado a abrir a janela. Busquei toda informação possível e impossível na minha memória. Vasculhei cada elemento de armazenamento de informação, de maneira meticulosa a fim de estabelecer ao menos um ponto de partida pra uma informação , mesmo que fosse a menos relevante. Não tive sucesso, em nenhuma tentativa.

Então eu continuei observando o vago e vazio olhar de Pryde, que naquele momento estava caminhando minha direção. Ele pulou o muro e se aproximou da minha janela e ficou frente a frente comigo. O convidei para entrar, mas se recusou, pois havia visto minhas duas gatinhas, Thifany e Bruna, dormindo confortavelmente em minha cama. Pryde era Sereno, calmo e atencioso, sempre disposto a me ajudar ou passar longas horas dispondo de sua agradável companhia. Ele me contava detalhes intrínsecos da personalidade do capeta, coisas totalmente diferentes das falsas histórias que a bíblia e a igreja nos impõem. Contava da sua vida como ser humano bem antes de ter sua vida abreviada na época da inquisição por ter tocado uma quinta diminuta em seu violino em um belo hino da igreja. Impiedosamente foi condenado a fogueira e mandado para o inferno. Confesso que fico chateado em ouvir histórias assim e é uma pena ver uma pessoa de alma tão bondosa ter sofrido injustamente.

Esqueçamos um pouco essa sub-rotina que me fez fugir do assunto principal. Pryde sabia que um micro ônibus lotado com algumas mulheres loiras iria parar naquela rua, vitimadas por um pneu furado. Ele sabia de muitas coisas que não temos capacidade de entender, e possuía muita inteligência sobrenatural e sabendo disso eu concordei em ajudá-lo a saciar seu desejo. Peguei minha foice, pulei a janela e corremos para trás do muro do cemitério. Fica mos aguardando o ônibus parar. Passaram-se poucos segundos e então um ônibus velho surgiu da esquinas exalando uma fumaça fedorentissima pelo escapamento e como Pryde imaginava, parou exatamente em nossa frente. Pulamos o muro e uma pobre e meiga menina de olhos azuis e cabelos da cor do girassol abriu a enferrujada porta da van. Ela se assustou com nossas faces de cães famintos e tentou escapar. Desviou-se do machado afiado de Pryde, mas suas canelas foram amputadas pela lamina da minha foice. Enquanto ela gemia Pryde dividiu sua cabeça em muitos pedaços e deixou uma trilha de sangue pela rua. Havia mais vitimas no Busão que amedrontadas seguravam a porta. Sim, todas elas viviam o maior drama de suas vidas. A pequena escada do ônibus acabava em uma rua escura de destruição e medo.

O pesado machado de Pryde derrubou a porta do ônibus. Ele invadiu o interior do veiculo e começou o massacre com machadadas certeiras destruindo os sonhos de todas aquelas estudantes de artes plástica da PUC de campinas, curiosamente, todas loiras. Eu entrei logo atrás dando suporte. Pryde deixava algumas vitimas para minha diversão. Em cada golpe que eu dava em cada grito que eu ouvia, era uma satisfação indescritível. Assassinar covardemente loiras estudantes foi o maior presente do meu melhor amigo. Pelo assoalho do carro escorria sangue e se derramava na rua como uma bica. Sangue torrencial se espalhando no chão. Que alegria! Tanto minha como de Pryde... Todos aqueles gritos ecoavam como uma promessa de um mundo melhor. Logo após beber um pouco do sangue e comer alguns pedaços de coração feminino, eu meu parceiro oferecemos os cadáveres para os coiotes, os urubus e as corujas que contemplavam nossa colheita. Isso que eu chamo de obra divina, algo que podemos nomear de santa ceia.

Naquele momento de felicidade plena e absoluta me despedi do meu amigo que seguiu para seu sarcófago. Voltei para meu quarto e deitei na minha cama, ao lado de Bruna e Thifany. Fechei meus olhos e pude ver todas aquelas meninas correndo felizes em um bosque, estavam livres, e sentindo-se completas... Graças a Bilu e Pryde.