UMA TEM VENENO

UMA TEM VENENO

MORTUÁLIA é quitandeira. Faz e vende, ela mesma, suas quitandas.

Nunca faz em excesso, pois a sobra é desperdício; e o desperdício é prejuízo.

Sempre faz poucas unidades de cada tipo de quitanda. Oito bolinhos de milho, oito pães-de-queijo, oito pasteis, oito coxinhas, oito empadas... ela é devota (para não dizer apaixonada) no número oito.

Naquele dia, por volta das 10:00 h da manhã, à mostra na vitrine e/ou escaparate e/ou redoma, como queiram, restavam três empadas, e outras quitandas.

Nisso chega um senhor berrando a pleno pulmões:

- Sua assassina! Você matou meu filho!

MORTUÁLIA, na sua calma que lhe é peculiar refuta:

- Eu, não! Ele se matou.

O homem ainda bravo, mas agora em dúvida, quer esclarecimento:

- Com ele se matou? Se a única coisa que ele comeu hoje foi uma empada comprada aqui na sua espelunca.

MARTUÁLIA explica:

- Realmente. Ele comprou aqui uma empatada, mas se esta estava envenenada foi azar dele. Pois só faço oito empadas por dia; e hoje resolvi envenenar uma. Contudo avisei cada freguês que comprou “uma está envenenada”.