Curitiba, a cidade de muitas sombras...

PRÓLOGO

Alguns sugerem que o medo é uma fraqueza infantil. No entanto, o medo é uma resposta humana natural. Mas e se os nossos medos mais sombrios e perturbadores ganhassem vida? Como nos sentiríamos então? Certamente não como crianças assustadas, mas talvez como exploradores destemidos diante do desconhecido.

Desde tempos imemoriais, exércitos incutiram medo e pânico em milhares de pessoas ao redor do mundo. Um simples assalto nos dias de hoje pode provocar ansiedade generalizada. O simples pensamento de uma injeção, coleta ou doação de sangue, com a agulha penetrando na pele e alcançando a veia, pode desencadear medo profundo. Muitas vezes, o medo reside na mente, escorrendo como uma mão que acaricia a nuca, desce pela espinha e arrepia todo o corpo. E sim, o medo é uma emoção genuína.

Acredite ou não, há quem prefira sentir medo a compreendê-lo...

Curitiba, 27 de julho de 2017...

Um dia comum como qualquer outro, o sol brilhava, e era um dia de paciência, pois amanhã seria sexta-feira para o solitário Roberto, ou Bob, como era conhecido pelos amigos. Desde a infância, ele morava no bairro Cristo Rei, agora conhecido como Alto da XV, tendo se mudado quando criança. Conhecia a todos e tinha muitos amigos. Com seu jeito tímido, conquistava algumas das garotas do condomínio com dificuldade. Renata, uma dessas garotas, tinha cabelos castanhos curtos, olhos verdes e um charme cativante. Não se fazia para ninguém, deixava as coisas acontecerem e quem a conquistava, tinha sorte. Bob, certamente, não era um dos sortudos. Sempre desajeitado, parecia passar mais vergonha do que coragem. Ele lembrava vagamente de um incidente em um aniversário na casa de praia, quando a luz acabou, e Renata segurou sua mão com força, olhando para ele com medo. Bob, suando frio, tentou tranquilizá-la, dizendo que tudo ficaria bem, apenas precisavam encontrar uma vela. Com a chuva lá fora, Bob procurou uma vela e a acendeu na mesa ao lado do bolo. Uma rajada de vento pela janela fez a vela cair e incendiar a toalha da mesa ao lado. Apesar da confusão, ninguém se feriu, mas a frase "quem brinca com fogo, faz xixi na cama" acompanhou Bob até a faculdade. Que vida solitária esse pobre rapaz teve, não é mesmo?

Mas voltando a Curitiba, e a uma noite em especial, havia a apresentação de uma banda internacional em um festival de metal na Pedreira Paulo Leminski. Bob, com seus vinte e um anos, no auge da rebeldia, cabeludo e confuso, foi com seus amigos, que agora eram mais numerosos. Estavam no Largo da Ordem, bebendo cerveja e vinho com uma turma metaleira. Havia um comboio que seguiria para o festival, por volta das duas da tarde. No meio da diversão, um amigo ofereceu maconha a Bob, que, já embriagado, experimentou e entrou em um estado de transe, sentindo sua essência se dissolver nas energias ao redor. Apesar da experiência, ele preferiu ficar apenas na cerveja.

Chegou a hora de ir para o show, então pegaram o ônibus em direção à Pedreira. No caminho, Bob teve as mesmas visões que teve quando fumou maconha, e durante a festa na casa de praia quando a toalha pegou fogo. O ônibus parou em um ponto onde não havia mais passagem para veículos, apenas para carros oficiais. Eles continuaram a pé, e Bob conversava com Renata sobre o incidente na festa quando crianças. Ela se lembrava de poucos detalhes, enquanto Bob descrevia uma imagem sinistra que viu na janela enquanto tentavam apagar o fogo. Ela ficou intrigada com o que Bob disse.

No show, as luzes iluminavam a plateia, e os primeiros acordes ecoavam pelo ar. Uma voz gutural, rasgada e alta ecoou ao longe. A banda europeia de black metal estava prestes a começar. Os sentimentos e o transe que Bob experimentou durante o show eram assustadores. Ele alternava entre olhos revirados e convulsões sinistras, quase cuspidoras de sangue. Alguns ao redor tentavam segurá-lo, sentindo seu corpo gélido. De repente, um mosh começou bem onde Bob estava. Ele foi jogado para lá e para cá, a música alta e rápida, e quando perceberam que ele tinha caído no meio daquela confusão, ele já tinha sido pisoteado várias vezes. Quando finalmente o levantaram, ele estava coberto de sangue. A banda interrompeu imediatamente o show e chamou os paramédicos. Bob foi carregado para fora da multidão, ainda inconsciente, tendo sua última visão de sua alma sendo arrastada por uma criatura sinistra. De repente, sentiu pulsos no peito e ouviu os paramédicos tentando ressuscitá-lo. Ao acordar, ainda podia ouvir a música da banda ao fundo. Sem entender o que havia acontecido, viu Renata olhando para ele com espanto. Ela perguntou o que havia acontecido, e Bob explicou que desmaiou durante o show e sentiu como se estivesse morrendo, descrevendo a sensação de que sua alma estava sendo levada para o outro mundo...

EPÍLOGO

Afinal, o que realmente aconteceu com Bob? O medo o acompanhou desde a infância e se manifestou durante sua juventude em um show de metal. Mas, olhando para o outro lado da história, durante o momento em que estava no Largo da Ordem bebendo, Bob fumou maconha e teve um transe, onde visualizou seres assustadores, um momento semelhante ao que teve no aniversário, quando a toalha pegou fogo.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 27/07/2017
Reeditado em 18/04/2024
Código do texto: T6066704
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