O retorno

O retorno

O forte odor de coisa podre acordou-me. Tentei conciliar o sono novamente sem sucesso. Respirar estava difícil.

Acendi a luz, sentei na cama e procurei a fonte do mau cheiro. Notei a porta do guarda roupa aberto. Talvez por descuido eu não a tenha fechado. Pensei comigo. Aquela porta aberta era incômoda. Levantei para fechá-la.

A primeira coisa que notei é que faltavam algumas peças. Todas pertencentes ao meu falecido marido. O paletó azul riscado, as duas camisas branca de manga comprida. Roupas preferidas por ele enquanto vivo. Pensei logo em ladrão em casa.

Agucei o ouvido à cata de ruídos, mas tudo era silêncio. Sai andando pela casa acendendo as luzes. Não havia nenhum sinal de arrombamento. Tudo o mais estava em ordem. Apenas o cheiro nauseabundo parecia impregnado em todos os cômodos. Lembrei da mania que o meu marido tinha de pregar peças e os cabelos da minha nuca arrepiaram. Fazia exato sete dias da sua morte. Fui até a cozinha e a percebi que a sua caneca amarela também tinha sumido.

O dia amanheceu e encontrou-me sentada no sofá da sala. O medo fazendo companhia.

O telefone tocou. Ouvi um choro desesperado e em seguida uma voz feminina implorou para que eu fosse até a sua casa buscar alguns pertences do defunto que sem saber como apareceram por lá. Desliguei o telefone, abri as janelas e fui preparar o meu café. Descobri duas coisas com aquele telefonema: até depois de viúva eu fora preterida pela outra.