Horror na Pedra

A maioria das pessoas que lêem estas palavras deve pensar que o horror só pode ser encontrado ás escuras, nas trevas e na solidão. Enganam-se, pois encontrei o horror de minha vida ao meio dia a pino, numa das montanhas ao redor de Belo Monte. Não pensem que tal caso me tornou um louco ou degenerado, apenas me entreguei ás psicoses que teimavam em me acometer devido à simples encontro com material mórbido e oculto que eu encontrei nas montanhas. Apesar de agora me encontrar num dos asilos de loucos de Belo Monte, tenho plena consciência dos horrores que passei e dos fantasmas pavorosos que me afligem, e sei muito bem das visões estranhas que tenho e ainda obtenho consciência de que tais coisas não são reais, ou pelo menos eu não espero que sejam reais.

Amigos mais íntimos meus sabem de minha curiosa coleção de pedras. Apesar de terem um valor comercial insignificante, o conjunto de achados que obtive nas montanhas de Belo Monte agora existem belamente exibidos na prateleira de minha sala, e é motivo de orgulho para mim próprio, devido ao trabalho árduo que tive para encontrá-las e poli-las. Minha aparente paixão por pedras cresceu na infância, onde, no contato com o mundo externo além da casa de minha avó que me criou, passei a observar e admirar as singulares formas que se obtinham no chão ou abaixo dele.

Foi numa tarde quente de agosto que saí de minha casa para a montanha Sant’ Ana, afim de procurar e recolher mais um exemplo de pedra bonita para a minha coleção na estante da sala. A viagem foi tranqüila, e mesmo com o sol escaldante que batia nas minhas costas, consegui subir o monte sem menores dificuldades. O trabalho em si durou pouco. Comecei a escavar e logo fui acometido pela visão de um objeto singular.

Depois de algumas batidas na terra com meu cinzel, me deparei com uma ponta polida de um triângulo ou retângulo que saia da terra e mostrava um pequeno pedaço de uma de suas pontas à luz do sol. Extasiado, continuei cavando e acabei descobrindo um triangulo retângulo de pedra, perfeitamente polido e de superfície plana, com algumas inscrições em baixo relevo. As inscrições não eram nada mais que triângulos menores e, bem no centro, uma série de palavras que não consegui compreender ou identificar de qual língua seria.

“Alj’ar Viliv”. Era isso que estava inscrito bem no centro da pedra que havia acabado de achar. O que isso significa, eu não sei. Mas tinha certeza que nas minhas mãos havia um objeto fruto do puro ocultismo ou bruxaria, e logo me apressei em levá-lo para casa. Desci o morro com tranqüilidade e uma hora depois o objeto triângulo retângulo já jazia exposto na minha prateleira acima de um dos sofás. Horas depois, me gabei aos meus amigos o achado de tal pedra tão singular. Um deles, horrorizado, me alertou sobre os perigos que ele objeto poderia trazer consigo.

Tomando aquilo como simples bobagem de um não-cético, indaguei a ele por que tal objeto de pedra poderia causar tanto dano. Ele então me disse “Cuidado, Alfredo. Conheço essa região como a palma de minha mão. Sei muito bem dos antepassados que aqui viveram. Venha, posso levar você pelas casas mais antigas de Belo Monte e te mostrar algo fruto do ocultismo nelas! E se essas casas são bons lugares, é obvio que não. Se livre disso, Alfredo. Essa pedra é fruto puro da bruxaria em Belo Monte, e vai acabar afetando você”.Tomei o comentário como simples superstição local, e continuei com a pedra entre meus bens.

Mais tarde, já estava me preparando para dormir. Foi então que um barulho me chamou atenção. Algum clic! me surpreendeu e eu olhei para trás. Lá, na parede, a janela jazia aberta. Foi estranho isso, pois tinha certeza de que havia fechado a janela. Sem mais delongas e considerando o vento como culpado daquilo, fui lá e por fim fechei a janela, trancando-a com cadeado.

Foi uma noite cheia de sonhos. Primeiro, me vi deitado em meio à uma escuridão infinita. Olhei para baixo, e então vi, com horror, galáxias e buracos negros decorando a paisagem. Vi-me no infinito do cosmos, observando as estrelas e os astros que ali habitavam. Ao contrario do que devem pensar, não fiquei admirado ou extasiado. Muito pelo contrário, fui tomado por um horror sem precedentes, e então comecei a gritar. Foi aí que vi a coisa.

Algo me pegou no colo e me levou a viajar por aquele universo angustiante, e quando reparei em suas características, quase gritei de horror novamente. Segurando-me, havia um ser de rosto completamente deformado e mãos com garras do tamanho de uma régua. Suas asas eram feias e causavam-me angústia, e então eu acordei gritando.

Ao me recuperar do sonho, olhei para janela qual havia trancado. E qual não foi meu horror ao vê-la aberta, meu amigo! Passei o resto do dia com uma sensação horrível, e logo pensei na pedra e no alerta do meu amigo. “Besteira” pensei. Só foi um sonho e a abertura da janela foi provavelmente feita por um ladrão, ou até por eu mesmo, pois costumo ser sonâmbulo. Sem ligar mais para isso, continuei minhas atividades rotineiras.

Na segunda noite, sonhei que estava em uma das montanhas de Belo Monte. Ao olhar para a frente, fui tomado pelo horror, pois vi um ser colossal, de no mínimo cinco mil metros de altura se mover lá longe, na direção de Belo Monte. Era um lagarto com dentes afiadíssimos e garras gigantes, e eu comecei a gritar. Acordei sobressaltado, e fui mais uma vez tomado pelo horror ao ver a pedra que eu havia achado ao meu lado, na cama.

Tive, a seguir, o maior cuidado para me livrar daquele objeto amaldiçoado. O enterrei na montanha onde o achei e voltei para a casa, já me sentindo um pouco melhor. Quando entrei em casa, tomei um susto. No chão, havia sido derramado um líquido vermelho e pegajoso, e fui tomado pelo horror ao perceber que aquilo era sangue.

Nunca mais fui o mesmo. Na rua, via a coisa me espreitando através das vielas e becos escuros. Em casa, a via me observando na janela, com calma. Enlouqueci, surtei. Quebrei várias coisas, soltei urros de horror, gritos que ecoaram por essa cidade maldita. Agora, no hospício de Belo Monte, pretendo escrever o nome dela em sangue na parede do meu quarto.

De tudo que possuo, só agora que a morte me leve. Não suporto mais essa dor. Oh meu Deus! A coisa! Ali!

Brenno Lima
Enviado por Brenno Lima em 20/09/2017
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