Vida de Princesa

Tamy Lee possuía uma vida típica de uma garota de classe média. Tinha uma casa pequena, mas confortável, pais zelosos e de bom coração e, na medida do possível, quase tudo que queria.

Ela estudava no segundo ano do ensino médio, na unidade de São Cristóvão, do Colégio Pedro II, uma escola pública de renome e de qualidade localizada na cidade do Rio de Janeiro.

Tamy Lee (ou Tam para os íntimos) tinha tudo para ser feliz, entretanto, não o era. Ela não gostava de sua aparência nem da vidinha que levava, queria ter uma vida de princesa e faria tudo para conseguir isso.

Tamy era feia, gorda, espinhenta e usava óculos de lentes grossas que a enfeiavam ainda mais. Ela tentava compensar sua feiúra tirando boas notas, mas nem a primeira aluna do colégio ela era.

Tam detestava quando seus colegas caçoavam de sua “beleza”, dizendo que ela devia ser bela por dentro, já que não o era por fora, e isso só a deixava com mais raiva de sua situação.

Tamy Lee queria ser igual a Alessandra Palma, sua colega de turma, que era bela, inteligente e rica e que levava a vida que ela, Tamy, gostaria de levar: uma vida de princesa!

Tam olhava de cima a baixo para Alessandra procurando alguma imperfeição em seu corpo, mas nada encontrava: Alessandra era perfeita! Além do mais possuía um coração de ouro, qualidade que Tamy Lee achava mais que natural, afinal de contas, tendo tudo é fácil ser “boazinha”.

Tamy tinha um plano: aproximar-se de Alessandra Palma, conhecer seus segredos mais íntimos e destruí-la, aliás, destruí-la não: ter tudo que ela possuía!

Tam começou a executar seu plano diabólico sentando-se sempre perto de Alessandra nas aulas, tentando assim ficar mais próxima dela e ganhar sua confiança e amizade. Alessandra, que não via em Tamy uma ameaça, acabou cedendo e tornou-se sua amiga e confidente.

Tamy Lee já frequentava a casa de Alê, como a chamavam seus amigos mais íntimos, e podia desfrutar de alguns privilégios de “gente rica”, quais sejam: uma linda piscina só para elas duas e comidas a que ela nunca tivera acesso, como: caviar, lagosta e escargots.

Tamy Lee, em vez de ficar contente com o acesso ao mundo dos “vips”, só ficara com mais raiva e inveja de “sua amiga” e achava que seu plano estava muito devagar. Era preciso partir para um plano B que a fizesse ter o que ela queria de modo mais rápido e, para isso, ela resolveu recorrer à magia.

Tamy era bruxa e resolvera usar o que aprendera para conseguir o que tanto queria. Ela começou a ler livros e mais livros de ocultismo, não de magia branca, mas sim de magia negra, livros que só bruxas de verdade (ligadas a fraternidades) tinham acesso e que falavam de pactos com espíritos demoníacos e de diversos rituais dos quais Tam só havia ouvido falar. Tamy Lee nunca se aventurara antes neste tipo de magia, porque, apesar de trazer resultados imediatos, seu uso era muito arriscado para quem a utilizasse, pois pela lei do retorno das bruxas (lei tríplice) tudo o que você faz volta para você triplicado. Mesmo assim, ela resolveu ir em frente.

Tamy esperou chegar uma sexta-feira 13 de lua cheia, que era o dia mais propício para o feitiço, e seguiu à risca o que preconizava o livro Sete Infernos do autor Anatas Kroi, um livro blasfemo e que só visava ao mal cujo autor morrera de forma trágica e misteriosa.

Conforme o livro pedia, Tamy Lee iniciou o ritual sacrificando um bode exatamente à meia-noite. Pegou os sete fios de cabelo de Alessandra Palma (que pegara no pente “da amiga”) e os jogou na banheira cheia do sangue do animal sacrificado. Em seguida, tirou a roupa e entrou na banheira repetindo em voz alta as palavras contidas no sinistro livro. O ritual deu-se por encerrado quando as velas pretas, que estavam dispostas ao redor de Tamy Lee, crepitaram e se apagaram. Era a deixa para ela saber que seu pedido seria atendido.

No dia seguinte, o desejo de Tamy tornara-se realidade: ela estava na mansão onde vivia Alê e, após se olhar no espelho, viu que também

estava com o corpo de Alessandra Palma. Pensou que Alessandra estava com o corpo dela e que agora aprenderia como é duro ser pobre.

Tamy Lee tinha agora a sua disposição tudo o que sempre quisera: dinheiro, pais ricos e um corpo de misse! Ou seja: ela teria a partir daquele momento a vida de princesa com que tanto sonhara.

O que Tamy Lee não sabia era que junto com o corpo de Alessandra Palma herdara também um aneurisma cerebral congênito prestes a se romper e de cuja existência ninguém sabia, nem mesmo Alessandra ou seus pais. Tamy teria apenas três meses para aproveitar a vida com que sempre sonhara antes do aneurisma finalmente se romper.

Ao invés de usar seus conhecimentos em magia para fazer o bem, Tamy preferiu, o mal e isto lhe foi fatal.

Por isso, se você faz o mal, cuidado! Ele certamente voltará para você quando, menos esperar.

“Cuidado com o que você deseja, pois pode se tornar realidade.”

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 12/10/2017
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