BATALHA COM UM DEMÔNIO

Meu noivo contou-me uma história terrível do que aconteceu com ele numa academia espiritualista, antes de perder totalmente a lucidez.

Ele sempre foi um questionador, um buscador da espiritualidade humana. Procurava estudar e frequentar várias seitas, cada uma em épocas diferentes. Lia livros relacionados aos temas. Já possuía uma grande bagagem de conhecimento e a humildade pertinente aos sábios.

Porém, num dia feio, cinza, de ventos fortes, pressentiu algo ruim, mesmo assim, foi até um Centro de desenvolvimento e estudos da alma. Ouviu uma palestra tranquilizadora e logo depois, teria uma hora para a meditação. Estava tudo muito tranquilo, quando um raio entrou pela janela do segundo andar do antigo sobrado e o atingiu em cheio. Estava em transe e lá permaneceu alheio ao mundo exterior, deixando seus colegas apreensivos e assustados, alguns deles foram "acordados" pelo estrondo e pelo clarão.

Ligaram para os bombeiros, ele foi levado "inconsciente" para o hospital.

Depois de umas duas horas ele despertou. A princípio não se reconheceu, mas pouco a pouco foi recobrando a memória.

Dias depois, ele me contou que parecia ter vivido a vida inteira no lugar para onde foi, durante o período em que esteve em coma. Tinha todas as lembranças daquele lugar, que todo ele parecia ser feito de luz neon branca. Conquanto, do nada, surgiu um demônio dizendo que o iria infernizar até o final de sua vida terrena, porque ele, de algum modo, teria ousado usurpar seu lugar. Foi ali que meu noivo saiu do coma.

Sei que primeiro perdeu o emprego, pediu demissão no serviço público, ele ganhava muito bem. As visões e as clarividências se tornaram perturbadoras, já não dormia mais. A mãe o tratava como um neném. Foi definhando, ficou doente e morreu durante uma cirurgia simples, com três paradas cardíacas.

Eu nesta história? Ele me contou tudo, o ajudei a enfrentar a dificuldade, caminhei com ele até aonde pude, porque ele já não me reconhecia mais. Uma vez, saiu de casa e mendigou durante um mês. Uma pena, um homem lindo, tão inteligente. Ficou agressivo e temi pela minha vida, por isso me afastei.

Durante algum tempo, eu me questionei sobre a veracidade do seu relato a mim. Será que o raio teria afetado seu sistema nervoso e o levado a fabricar um demônio obsessor? Ou este demônio existiria de fato? Optei por acreditar no meu noivo e jurei vingança por ter tirado a vida de um jovem com tudo pela frente. Então, resolvi frequentar o mesmo Centro Espiritualista para aprender a meditar e procurar o tal demônio no mundo astral. Fui aprendendo a me tornar imune a toda e qualquer força maligna.

Durante uma das sessões, meu noivo apareceu para mim, lindo e angelical como sempre foi. E disse para eu ter muito cuidado porque aquele demônio era muito inteligente, muito envolvente, ardiloso ao extremo. Disse também que eu precisaria entrar num estágio de semi-morte para ter contato com ele e que isto seria muito arriscado.

Resolvi me arriscar e procurar uma amiga médica cirurgiã e contar tudo para ela, pois eu pretendia que ela usasse um desfibrilador para eu atingir minha meta. Bem, como toda boa cética, ela riu e não quis, obviamente, participar dos meus "devaneios". Então, resolvi apelar para os amigos mais chegados. Cogitamos a possibilidade de invadirmos uma clínica e usarmos o tal desfibrilador. Mas abortamos a ideia, ninguém sabia lidar com o aparelho, nem qual voltagem seria letal.

Aí me veio à mente, ingerir quase um vidro inteiro de remédios para dormir, eles ( os três) teriam cinco minutos para me levarem ao hospital.

Consegui o que queria. Lá estava eu naquele maravilhoso "quarto branco", repleto de paz, senti a presença do meu noivo, quando avistei o tal demônio. Ele estava distraído, sentado em seu trono. Era um ser pequeno, antropomórfico, com pele de couraça. Não foi difícil chegar por detrás dele e amarrá-lo com minhas roupas.

- Por que você escolheu justo a ele para maltratar?

- Minha Senhora, só fiz o que a Senhora me mandou que fizesse!

Sob o impacto daquelas palavras, Imediatamente, senti-me como se eu fosse poeira sendo puxada para o interior de um aspirador de pó. Lá estava eu deitada, cheia de aparelhos numa cama de hospital. Maldito demônio! Com certeza ele mentiu!

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Muito obrigada pela leitura!

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 14/10/2017
Código do texto: T6142676
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