Bem-te-vi

O pássaro bateu na janela com tanta força que só restava acreditar em duas hipóteses: em sua morte, ou no trincar do vidro. Mas nada disso acontecera. O bicho estava meio atordoado.

Clara pegou o bem-te-vi do chão e o levou para dentro. Sua asa estava quebrada. Decidiu cuidar da ave mansa até que se recuperasse por completo. Colocou-a em uma caixa na varanda de sua casa e o serviu de bananas e maças de sua fruteira e deixou alguns trapos no canto da caixa para que o bicho eventualmente se aquecesse.

Alta noite se fizera. O frio estava grande e fazia, com a chuva torrencial que caía, um cenário perfeito para se ficar em casa.

Clara colocou um filme e ajeitou-se no sofá. Assustou-se de súbito com o cantar da ave. Correu para a varanda e levou o bicho para dentro de casa.

O animal parara de canta e Clara voltou-se para o filme que prendia usa atenção. As luzes piscaram, interrompendo o filme que a entretinha.

O bem-te-vi começou a cantar em desespero. O barulho da ave era desagradável naquele ambiente fechado. A luz se apagou de vez. A ave saiu da sua caixa e, com a luz do celular, Clara pôs-se a procurar seguindo o canto agoniante do animal.

Num dos quartos, o canto cessara por completo. Clara abaixou e recolheu com cuidado o animal que fora para debaixo da cama.

Levantou-se e do outro lado da cama encontrava-se uma criatura encapuzada e com as mãos ossudas, parecendo sem carne. Era a morte que viera busca-la.

Gilberto Junior
Enviado por Gilberto Junior em 15/10/2017
Reeditado em 15/10/2017
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