Eram duas. Viviam sozinhas uma amparando na outra. No mesmo apartamento, no mesmo prédio. Contava-se que as duas iam a missa de madrugada, mas com um padre que também rezava aquela missa só para elas.
A igreja permanecia fechada o resto do tempo, e dizem que o vigário morava lá dentro e dormia no altar. O altar, o povo falava, era todo cravejado de ouro e diamantes  que vieram de um lugar ignorado.
Algumas pessoas afirmavam que as almas dos padres anteriores permaneciam lá dentro e se reuniam em sessões prolongadas, onde se discutiam coisas misteriosas. Coisas essas que eram escritas e enterradas de madrugada, no adro da igreja.
Havia na cidade um jovem muito esperto e curioso que sempre ficava atento as histórias que o avô lhe contava. Ao saber das "irmãs invisíveis" assim chamadas por permanecerem ocultas, resolveu esclarecer esse mistério. Com o primeiro cantar do galo, ainda de madrugada, levantou-se bem de mansinho, vestiu sua roupa e saiu em direção à Igreja. O ar bastante frio congelava as suas mãos que já suavam de medo do que poderia acontecer. Mas sua resolução de saber o que se passava o levou para frente.
Ao se aproximar da porta principal começou a ouvir uma música sacra que vinha do interior. A musica era pesada e fúnebre o que o levou a ficar numa expectativa angustiante. Como era possível isso acontecer se a Igreja estava fechada com as luzes apagadas. Ao notar passos vindos em sua direção, escondeu-se. Duas velhas senhoras passaram por ele com  os rostos escondidos por um véu negro.
As "Irmãs Invisíveis" pensou aterrorizado.
A porta se abriu lentamente, rangendo. Sem pensar ele entrou rapidamente. Lá dentro a igreja estava lotada.
Todas as pessoas usavam máscaras que lhes cobriam os olhos. Pegou uma na entrada e colocou para não chamar a atenção. O padre subiu ao altar, usando uma veste preta e seu rosto escondido por um pano. A essas alturas o jovem já tremia apavorado, mas não podia sair pois, a igreja estava trancada.
A missa foi realizada com cantos lamentosos.
Ao término, a porta se abriu e ele saiu correndo e se postou no fundo da igreja. Quando as pessoas passavam e tiravam as máscaras havia apenas uma forma oca no lugar do rosto.
Cambaleando, tomado pelo pavor, vai em direção à porta e retira sua máscara diante de um espelho e vê apenas um vazio onde seu rosto existia.
A partir daquele dia tornou-se membro da sociedade dos invisíveis.
Heloísa Mamede
Enviado por Heloísa Mamede em 12/11/2017
Reeditado em 12/11/2017
Código do texto: T6169619
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