O MAL QUE VEM DA FLORESTA - CLTS 1

By: Johnathan King

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O inverno havia chegado em Callingville, um pequeno distrito escondido no coração do Kentucky, no nordeste dos Estados Unidos, de uma maneira brusca e repentina, tornando os dias mais longos e as noites mais frias.

O lugar era uma terra em desenvolvimento, onde a economia vinha basicamente da agricultura e da construção civill. Existiam poucas casas no lugar, e umas dessas poucas moradias pertencia a Ronald, um jovem mestre de obras na casa dos quarenta anos, corpo malhado devido ao trabalho pesado e pele queimada do sol. Ele era um marido e pai de família amoroso.

Callingville era chamada de " A esmeralda do Kentucky, por ser uma região com muito verde, florestas nativas praticamente inexploradas e uma vasta coleção de montanhas à perder de vista.

O distrito vivia os anos de 1950!

Sentado na varanda da casa em uma velha cadeira de balanço, Ronald olhava a chuva caindo na terra quente do Kentucky com alegria nos olhos, enquanto contava antigas histórias de assombração para os quatro filhos, que ouvira do pai quando criança. Todos os quatro ouviam os relatos do pai com bastante atenção e uma pontada de medo, que lhes arrepiava até os cabelos da nuca quando a história ia se aproximando do clímax máximo do terror.

Os meses de inverno foram longos e uma bênção para os agricultores da região, mas estava chegando ao fim, e o verão vinha com um sol abrasador e um calor escaldante. Enquanto os agricultores colhiam os frutos trazidos pelo inverno, a vida no pequeno distrito estava voltando ao normal para as pessoas que não mexiam com a terra.

Uma certa manhã, Ronald foi acordado com sua família com batidas insistentes na porta. Quando abriu, ele deu de cara com um homem baixo e meio calvo, na casa dos cinquenta e poucos anos, que exibia um largo sorriso no rosto, e já foi logo abraçando e cumprimentando o rapaz. O jovem mestre de obras também se mostrou feliz com o visitante inesperado e o convidou para entrar.

Joseph sentou-se numa cadeira e começou a contar o motivo de sua visita matutina sem aviso prévio. Ele havia comprado um terreno na região e gostaria de construir uma casa lá, e queria que fosse Ronald que tocasse o projeto.

Enquanto o homem estava falando e dando mais detalhes do projeto, Ronaldo ia se enchendo de entusiasmo e dando pitacos aqui e ali. Sua esposa e os quatro filhos observavam a prosa dos dois homens da entrada da cozinha, igualmente animados.

Tudo acertado para a construção da casa, Joseph marcou o dia que queria que a obra começasse, e até lá, Ronald iria juntando seu pessoal. Após duas longas semanas de planejamento, o tão aguardado dia de começar a construção da casa de Joseph finalmente havia chegado. Ronald resolveu levar o filho mais velho Ben, de dezessete anos para ajudá-lo e já ir pegando a prática do ofício, uma profissão passada de geração para geração na família.

Ronald, o filho Ben e mais dois homens seguiram caminho até o tal terreno, que ficava no alto de uma serra, ao redor de uma densa floresta. Ao contrário do que Ronald imaginou, o tal terreno ficava bem afastado do centro urbano do distrito, então eles teriam que passar longos dias longe de casa e da família - e meio a contra gosto ele teve que aceitar o trabalho, afinal o dinheiro que iria receber valia o sacrifício.

Naquele mesmo dia foi dado andamento a construção da casa, que era erguida com certa lentidão, devido a dificuldade do material em chegar ao local, que era de difícil acesso. O terreno ficava numa parte alta da serra, onde não existia estrada e o acesso de veículos até o local onde a casa estava sendo levandada era praticamente impossível de ser feito.

No final da tarde daquele mesmo dia, eles já haviam levantado um pequeno barraco de madeira onde iriam pernoitar. Quando a escuridão da noite chegou, os quatro homens acenderam uma fogueira na frente do lugar, para manterem-se aquecidos e afugentar os mosquitos ou algum bicho indesejado que aparecesse durante a madrugada. Depois do jantar, eles se recolheram e a noite passou rápida.

Passadas duas semanas, a obra corria normalmente, e uma estrada fora aberta no pé da serra até onde a casa estava sendo levandada, para facilitar a chegada do material. Os dois homens que Ronald havia levado parar ajudá-lo na obra, acabaram pegando uma severa febre e tiveram que retornar para o distrito.

Mais uma noite havia chegado no acampamento improvisado por Ronald, a fogueira já estava acesa e o fogo iluminava tudo. Após o jantar, pai e filho entraram pra dentro do barraco. A noite corria tranquila até chegar a madrugada, foi quando Ben começou a ouvir passos vindos da floresta, parecia que algo pesado estava andando pela mata e quebrando tudo por onde

passava. O rapaz preferiu não acordar o pai e se levantou da sua rede e abriu a porta do barraco.

Ele ficou olhando em todas as direções para ver se enxergava alguma coisa, mas não viu absolutamente nada. Achando se tratar de algum animal vadio, o rapaz voltou para dentro do barraco e se deitou novamente. E foi quando ouviu passos ao redor da casa, e se levantou outra vez. Nesse momento, seu pai já estava em pé ao lado da porta com um facão nas mãos. Ele também tinha ouvido os passos vindos lá de fora.

Ronald destrancou lentamente a porta e girou a maçaneta com cuidado, e quando abriu levou um susto ao se deparar com Joseph e mais dois homens em pé do lado de fora do barraco. Passado o susto, Joseph começou a explicar para o funcionário o que havia acontecido. Ele estava vindo para o acampamento mais cedo com os dois homens, que estava trazendo para ajudar Ronald na obra, quando o carro dele quebrou no meio do caminho. Infelizmente o conserto demorou mais do que o previsto e eles só conseguiram chegar ao local aquele horário da madrugada.

Mas alguma coisa não estava batendo naquela história toda, pensava Ben, ouvindo o chefe de seu pai falando. Quando Joseph terminou sua explicação, o dia já estava nascendo e Ronald já foi logo preparando o café da manhã dele e dos outros. Com o sol claro, a obra foi tocada. No final do dia, o jovem mestre de obras estava contente com o andamento do projeto, graças a Deus as coisas estavam indo bem e logo ele voltaria para casa com o filho, assim pensava.

Como de costume a fogueira foi acesa na frente do barraco, os homens se ajeitaram e ficaram conversando enquanto jantavam. Joseph já tinha ido embora ainda com o dia claro, e os dois homens que estavam com ele tinham ficado no acampamento com Ronald e Ben. Eles eram primos e se chamavam John e Daric.

John era um jovem alto e magro, com cabelos amarelos e na casa dos vinte anos. Seu primo Daric era um jovem mais baixo e encorpado, também na casa dos vinte anos e de pele mais bronzeada. Não demorou muito e todos já estavam se recolhendo, quando John avisou que iria dar uma volta e retornaria mais tarde. Ninguém disse nada e entraram no barraco.

Quando a madrugada chegou, Ben acordou novamente com aquele mesmo barulho de mato sendo quebrado que ouviu na noite passada. Para sua surpresa e espanto, seu pai já estava de pé ao lado da porta com o facão nas mãos.

Ele fez sinal para o filho ficar em silêncio. Nesse momento, Daric também já havia despertado e estava ao lado de Ben, aflito e curioso para saber o que estava acontecendo. O som que vinha lá de fora eram de passos pesados ao redor do imóvel, e de uma respiração profunda e cansada, seguida de um grunhido baixo e assustador.

Quando Ronald fez menção de abrir a porta, foi puxado pelo braço por Daric, que pediu que ele não fosse lá fora pois o barulho que estava vindo de lá não era de gente, mas de alguma criatura que poderia atacá-lo quando saísse. Ronald resolveu ouvir o conselho do rapaz e ficou só observando a movimentação do outro lado das paredes do barraco. O que quer que fosse que estivesse lá fora, parou na frente da porta e ficou dando profundas fungandas e em seguida chocou-se violentamente contra a mesma, levando o medo e o pânico para os três homens lá dentro.

Nesse momento, o desespero tomou conta do ambiente, e ninguém sabia o que fazer para se defender caso aquela criatura conseguisse derrubar a porta e e entrar lá dentro. Os momentos de angústia duraram boa parte da madrugada, até que o ser maligno que tentava entrar no barraco desistiu e foi embora, voltando para a floresta.

Quando o dia amanheceu e John chegou da rua, encontrou o primo e os outros dois companheiros na entrada do barraco, ainda tomados de medo por conta de todo o terror que viveram na noite passada. O rapaz ouviu os relatos dos três, mas fez piada da situação achando que tudo não passava de uma bobagem. Mas viu que a situação era séria e ficou quieto.

Enquanto Ben e os dois primos estavam cuidando do trabalho pesado, Ronald dirigiu-se até uma casa no pé da serra onde vivia um velho homem. Ele relatou ao idoso todos os fatos sinistros da noite passada e pediu duas armas emprestadas até o fim da obra. O homem atendeu o pedido de Ronald e confidenciou ao mestre de obras que já ouviu muitas histórias estranhas na região e que já ouviu também o som feito pela criatura da noite passada.

Mas ele não disse para Ronald do que se tratava. Quando a noite chegou, um vento gélido soprou da floresta em direção ao acampamento. Ronald sabia que aquela coisa que habitava a floresta iria voltar essa noite para atacar ele e seus companheiros enquanto dormiam. Ele deixou as armas ao pé da porta, duas espingardas velhas já carregadas. E outra vez, John resolveu sair para dar uma volta. Ronald e Ben ficaram desconfiados da atitude do rapaz, mas seu primo Daric achou tudo normal. Ele não queria acreditar que o primo fosse alguma espécie de monstro, que se transformasse durante a noite.

Ronald colocou mais lenha na fogueira para que durasse a noite toda, e entrou no barraco. Já era madrugada, quando os três homens foram novamente despertados pelo terror. Aquele criatura estava rondando outra vez o imóvel, com sua respiração cansada e aquele grunhido demoníaco. Os passos paravam e recomeçavam, como se aquele monstro estivesse testando os nervos de suas vítimas.

Dentro da cabana, os três homens estavam de pé, olhando fixamente para a porta, aguardando o momento em que aquela fera iria adentrar o local e matá-los. Ronald criou coragem e foi até a porta, lá ele colocou o olho na fechadura e viu aquela coisa que o deixou paralisado de terror.

Uma imagem infernal, uma besta semelhante a um cão, com pelos negros, olhos amarelos que brilhavam no escuro e garras afiadas que arranhavam as paredes do lugar, gelando o sangue daqueles infelizes, só que do tamanho de um cavalo, que em determinados momentos andava de quatro e em outros ficavá de pé igual um homem.

Como na noite anterior, a besta começou a chocar-se contra a porta, na tentativa de derrubá-la. Ronald apontou a arma na direção onde a coisa estava e deu um tiro, e depois pegou a outra arma e deu outro tiro. A besta soltou um berro aterrorizante, que fez Ronald e os outros dois tremerem de medo. E depois de um uivo de dor, correu de volta para o interior da densa floresta. Os três homens permaneceram o resto da noite acordados, como fizeram antes.

Quando John chegou pela manhã, foi abordado pelos outros que exigiam saber onde ela passava todas as noites quando a criatura aparecia. Ele se defendeu dizendo que passava as noites na casa de uma mulher que estaria se relacionando, e que não era o monstro que eles buscavam. Apesar da sua prévia defesa, nem Ronald e nem os outros ficaram totalmente convencidos da sua inocência. E resolveram seguir o rapaz quando ele saísse a noite para a casa da tal namorada, afim de darem um fim ao mistério macabro.

Quando Ronald contou ao velho que morava na casa ao pé da serra, que se chamava Herald, e estava na casa dos setenta e poucos anos, da descrição da criatura que viu na noite passada, o idoso logo disse sem sombra de dúvidas, de que se tratava de uma besta conhecida por todos como " Lobisomem".

O pai de Ben ficou chocado com a revelação do homem, mas não podia negar que aquela coisa que viu na noite passada podia sim, ser um lobisomem. O homem voltou ao acampamento pensativo, ele olhava para a floresta que rodeava o lugar com calafrios. Aquele lugar era o lar de uma besta assassina, e ele e seu filho estiveram próximos do perigo todo esse tempo sem saberem.

Os pensamentos de Ronald se desfizeram tão rápido quanto a luz do dia. Logo mais uma noite chegou ao acampamento. A fogueira estava acesa e Ronald estava terminando de jantar ao lado do filho Ben e de Daric, quando John avisou que iria sair e passar a noite fora. Os três trocaram olhares e quando John estava um pouco distante do acampamento, eles trancaram tudo e foram atrás do rapaz.

Eles seguiram John até o pé da serra, e de fato ele estava falando a verdade. O primo de Daric entrou numa casa onde foi recebido por uma mulher. Ronald e os outros dois ainda não estavam convencidos plenamente da inocência do rapaz, mas também não podiam condená-lo sem provas.

Eles resolveram ficar mais um pouco no lugar, observando. John deixou a casa da mulher e dirigiu-se até outra residência próxima, onde entrou e depois saiu com algumas sacolas nas mãos, retornando para a casa da mulher.

Cientes da inocência de John, os três retornaram para o acampamento, onde se trancaram na cabana e ficaram aguardando o que o resto da noite reservava. Vencidos pelo cansaço, Ronald, Ben e Daric terminaram adormecendo, só despertando quando ouviram gritos de terror contrastando com o silêncio da noite.

Ben e Daric pegaram as armas e ficaram atentos, enquanto Ronald foi olhar pela fechadura da porta se via alguma coisa. De repente, ele viu um vulto na escuridão correndo na direção do acampamento, mas não podia distinguir direito o podia ser. Quando foi chegando mais perto, Ronald percebeu que se tratava de John. O rapaz estava correndo tomado do mais puro terror, e gritando para que abrissem a porta do barraco urgentemente.

Quando Ronald abriu a porta, John se lançou para dentro como um raio, totalmente apavorado, cansado e ofegante. Ele mal podia falar tamanho era o horror descrito no seu rosto, que estava pálido como uma folha de papel.

Quando finalmente se acalmou e recuperou um pouco de cor nos lábios, o rapaz começou a narrar o motivo de tamanho terror. Ele disse que quando estava voltando para o acampamento mais cedo, cruzou com o velho Herald no meio do caminho, mas que o mesmo não deu por sua presença. O homem estava com bastante pressa e entrou na floresta, indo na direção do rio. John resolveu segui-lo mantendo uma certa distância.

Quando chegou ao rio, ele viu o idoso se despindo e se jogando no chão, rolando e um lado para o outro e uivando para a lua. Nesse momento ele teve a certeza de que Herald era a tal besta que andava vagando pelas noites, levando o medo e o terror ao lugar. Então, ele saiu correndo o mais depressa que podia para avisar os outros da sua macabra descoberta, temendo ser pego pela criatura no meio do caminho.

Ronald e os outros receberam a revelação com total incredulidade e espanto. Foi nesse momento que a criatura chocou-se violentamente contra a porta do barraco, decidida a entrar de no lugar de uma forma ou de outra. Agora todos já estavam sabendo que a besta era Herald e ele havia vindo atrás deles para matá-los.

As pancadas na porta estavam mais fortes e a mesma começava a dar sinais de que não iria resistir por muito mais tempo, e o clima lá dentro era de total desespero. Ronald apontava a arma para a porta, mas tinha medo de errar o tiro e não conseguir matar ou afugentar o lobisomem. John também estava segurando uma arma, mas assim como Ronald também temia errar o alvo.

Já no limite da pressão e com a adrenalina à mil, Ronald deu o primeiro tiro e foi certeiro, pois a fera deu um urro de dor, mostrando que tinha sido atingida. John aproveitou a oportunidade e disparou também contra o lobisomem acertando mais um tiro na besta. A fera começou a urrar e se debater loucamente contra as paredes do barraco, deixando a todos em estado de tensão.

De repente, a fera uivou e saiu correndo para dentro da floresta, se escondendo na escuridão e proteção da mata. Todos ficaram em alerta, pois o animal podia voltar, e assim foi até o dia amanhecer. E quando os primeiros raios de sol cruzaram o horizonte, os quatro homens dirigiram-se até a casa de Herald, o lobisomem. Ficaram lá o dia todo e nada do sujeito retornar para o lar. E assim foi no outro dia, e no dia seguinte e nos outros que vieram.

Ao final da construção da casa de Joseph, três meses depois do último encontro com o lobisomem, ninguém nunca mais tinha ouvido falar ou visto Herald. E Ronald e os outros envolvidos no macabro evento nunca mais quiseram saber de trabalhos na região ou próximos de florestas de aspecto sinistro.

Fim

TEMA: Florestas Assombradas