O Zumbi radioativo

O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com o Césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias foi encontrado dentro de uma clínica abandonada, no centro de Goiânia, em Goiás. Foi classificado como nível 5 (acidentes com consequências de longo alcance) na Escala Internacional de Acidentes Nucleares, que vai de zero a sete, onde o menor valor corresponde a um desvio, sem significação para segurança, enquanto no outro extremo estão localizados os acidentes graves.

Alguns dias após o grave acidente com produto radioativo em Goiânia, houve contaminação do solo e de uma parte do lençol freático da região. Essa agua era usada em diversos estabelecimentos comerciais e em residências.

*Essa história foi contada por um velho agente funerário goiano, que veio trabalhar em São Paulo. Certa noite no meu plantão no IML, eu embalsamei um corpo que iria ser levado para o interior de Goiás. Nessa noite, quando ajudei a entregar um corpo para esse senhor. Eu e meu colega o convidamos para um café, era madrugada e estava frio. Pegamos nosso café e sentamos na copa, quando percebi um olhar distante no nosso convidado. Com olhar parado, sorriso de lado, ele começou a contar uma história muito estranha, que iniciou assim:

Tudo começou no interior goiano, onde a os resquícios mais concentrados da água radioativa foi terminar num reservatório de rua que abastecia uma clínica de embalsamamento. Meu tio estava de plantão naquela noite na clínica e eu estava com ele aprendendo a arte do embalsamamento. Esta noite era fria como a de hoje e com um silêncio perturbador. Havia chegado o corpo de um homem de 50 anos, com cerca de 1,98 e uns 120 quilos, não necropsiado, pois estava internado em coma a 10 dias devido um infarto, nós começamos os preparativos e fui encher o galão de água e como nossa caixa d’água estava quebrada usei a água da torneira externa da clínica, que vinha do reservatório da rua, levei um total de 8 litros pra completarmos com formol. Diluímos, preparamos os instrumentos e meu tio preferiu acessar a artéria carótida do corpo. Liguei a bomba, estava com uma luz fraca na sala e fui preencher o formulário, enquanto meu tio estava tomando um café na copa. Passou alguns minutos e quando olhei o cadáver, estava com uma cor muito clara, parecia que o corpo estava Fosforescente, radiava luz, iluminava parte da mesa de embalsamamento. O corpo estava em termino da injeção do formol e eu desliguei a bombas e apaguei a luz da sala, na escuridão total percebi que o corpo emitia luz esverdeada. Eu assustei e acendi a luz e chamei meu tio para olhar esse fenômeno estranho. Quando ele chegou na sala de embalsamamento, eu apaguei a luz e o corpo brilhou mais forte. Meu tio ficou espantado, mas não queria arrumar polemica sobre o acontecido e foi logo finalizando o embalsamamento e começamos a lavar o corpo para vesti-lo e maquia-lo. Nessa hora eu fui pegar a mala de maquiagem e meu tio ficou na sala enxugando o corpo, ainda demorei um pouco, pois tinha que completar a mala com produtos que faltava. Quando retornei à sala após alguns minutos, meus olhos quase saltaram para fora, meu coração disparou em pânico, eu endureci diante da cena que vi. Eu estava horrorizado, travado de medo e não conseguia pensar, só olhava fixo e arregalado, minha boca aberta travou e minhas pernas amoleceram, mas fiquei parado sem me mexer e quando me dei conta, abaixei e me escondi atrás de um armário velho da sala. Olhei com cuidado toda a cena e lá estava meu tio na mesa de embalsamamento, estirado, sangrando, com as tripas pra fora da barriga, o pescoço torcido e o rosto virado pra fora da mesa com um último olhar de dor e medo, o corpo havia sumido, reparei que a porta dos fundos da clínica estava aberta e quebrada, como se um trator tivesse arrancado ela. Eu estava horrorizado, mas me aguentei e fui a porta olhar fora da clínica, achei que algum psicopata ou necrófilo entrou, matou meu tio e levou o corpo, olhei para os lados e não tinha visto nada, caminhei pela lateral da casa pra entrar na recepção e ligar pra polícia, quando de repente vi no fundo do jardim da clínica, era um vulto e parecia ser alguém bem grande tentando pular o muro dos fundos. Eu instintivamente gritei:

Houu!...Você ai!...Vou chamar a polícia.

Eu fiquei gelado, pois o volto veio em minha direção num andar ligeiro e tamanho foi meu susto ao ver aquele homem nú e com brilho forte saindo do escuro do jardim. Naquela hora não tive dúvidas, era o corpo que estávamos embalsamando. Eu corri para o outro lado do jardim e no desespero tentava abrir o portão, minhas mãos tremiam, eu gelava e o pânico estava me dominando quando eu percebia aquela...criatura reluzente e com olhar feroz vindo em minha direção. Nessa hora eu dei um grito e ao forçar a tranca, o portão abriu e eu corri pela rua deserta e pouco iluminada, mas logo atrás vinha aquela criatura correndo desajeitado e furioso. Eu gritava desesperadamente pela rua e corria o máximo que eu podia, quando ao virar a esquina fui atropelado por uma viatura da polícia que fazia ronda na região. Eu fiquei inconsciente por algumas horas e ao acordar estava o delegado de polícia ao lado do meu leito no hospital geral da cidade. Ele nem esperou eu despertar por completo e foi me perguntando o que aconteceu na clínica. Fui tomando consciência e minhas lembranças voltaram e o medo e o pânico daquela noite se apossou de mim novamente. O delegado e o medicou que me atendeu foram me acalmando, depois de alguns minutos e um copo de agua, fui lembrando e contando tudo que vi. O delegado olhou para o médico e perguntou:

É possível? Como pode?...os policiais viram um homem alto, nú e furioso vindo em direção e deram ordem de rendição, para ele parar...mas não parou e agarrou um dos policiais pelo pescoço e o ergueu, nesse momento o outro policial eu volta por tras da viatura e atirou sem hesitar, disparou 3,4 e 5 tiros e só no quinto o homem largou o policial e fugiu, logo em seguida o policial que atirou comunicou outras unidades e trouxe o rapaz e o parceiro dele para o hospital. Após isso ninguém mais viu aquele sujeito feroz. Mas é possível após 5 tiros alguém sair correndo...?

O delegado olhou pra mim e perguntou:

Garoto! O que aconteceu?

Eu repeti a história com pânico e o medo me agitou de novo, pois eu não sábio como explicar e nem fazia ideia da explicação desse ocorrido. Eu pensei no meu tio morto e como diria isso a minha tia e...minha família?

Nesse momento minhas vistas escureceram e eu desmaiei no leito e dormi ate o dia seguinte. A tarde, após a necropsia fizemos o sepultamento do meu tio e fui pra casa com meus pais e ninguém mais comentou esse caso na região.

Eu quebrei esse silencio hoje, e podem acreditar que não soubemos mais nada daquele corpo enfurecido, mas soube que na região os fazendeiros sempre encontravam...e até hoje encontram animais estripados, o gado amanhece agitado e as vezes um boi dilacerado é encontrado. Além disso, crimes estranhos e nunca resolvidos acontecem até os dias de hoje e fazem mais e 20 anos que tudo aconteceu. A população da região comentam somente nos sussurros e evitam falar abertamente sobre esses acontecimentos. Os mais antigos dizem que era um morto vivo que andava pelas matas da região e nas noites de lua cheia aparecia nos sítios e fazendas para matar animais e as vezes pescadores noturnos. Quem havia testemunhado seus ataques nos campos dizia que era um sujeito alto, forte vestindo trapos e que brilhava sob a lua cheia.

Todas as noites frias de lua cheia como essa, me faz lembrar daqueles acontecimentos e eu preciso parar e tomar um café pra ir relaxando e desfazendo o pânico que vem em mim...o frio que sobe minha espinha é o mesmo daquela noite a 22 anos atrás.

necropsista
Enviado por necropsista em 19/11/2017
Código do texto: T6176543
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