PARECE INCRÍVEL…MAS ACONTECEU!!!


Londres*, fins de Junho do ano de 1967 – acabo o ano lectivo preparo as malas para regressar a Portugal para mais umas férias que eu presumia serem passadasna Praia da Arrábida como já era habitual na família.
Neste ano eu estava desejosa de chegar pois iria ser madrinha de baptismo da irmãzinha da minha amiga Lena que nascera no dia 8 de Maio (ainda eu tinha 15 anos) e logo a seguir completei então os meus 16 anos.
Assim que cheguei a casa resolvi de ir ver as minhas amigas e a minha afilhada. A menina era um encanto, marcámos o baptizado e dali saí para visitar a minha amiga Isabel.
Conversa daqui, conversa dali, ela convidou-me para passar as “férias grandes” na aldeia dos pais dela. Os pais eram naturais de uma aldeia chamada Macieira do Sul que fica a 17,5 km de S. Pedro do Sul. A ideia entusiasmou-me de imediato pois que sendo uma menina da cidade nunca houvera estado num lugar daqueles, no entanto havia um grande problema, eu nunca havia passado férias sem os meus pais e pensei que seria praticamente impossível eles me dizerem que sim, que poderia ir.
À espera de um não entrei em casa e falei tudo com a minha mãe, logo de seguida ela saiu e foi falar com a mãe da Isabel, mais tarde ao jantar abordou o assunto com o meu pai e para espanto meu deram-me de resposta um sim.
Assim uns dias depois do baptizado da menina lá fomos nós (eu, a Isabel e os pais dela) de comboio para S. Pedro do Sul, passei horrores pois andei em 2 comboios por mais de 17 horas e lembrava-me sempre, que para Londres de avião demorava 2,5h.
Quando lá chegámos eu fiquei deveras encantada. A aldeia ficava na encosta da Serra de S. Macário, tinha uma vista lindíssima, lembro-me que de manhã era um espectáculo, ir à janela e ver na minha frente umas neblinas finíssimas azuladas que não deixavam ver o vale verdejante que ficava lá no fundo.
Para mim tudo era novidade, ir com as raparigas para o campo e ajudar a cuidar das regas do milho, ajudar a alimentar os bois e as vacas, o ver fazer o pão de milho e depois comê-lo ainda quente com manteiga, ver fazer a comida em panelas de ferro com 3 pés, numas cozinhas onde o lume era feito de tojo (uma planta rasteira apanhada nas terras que circundavam a Serra), não havia outro pão, nem peixe, mas havia um riozito onde as mulheres (e eu também) lavavam a roupa e essas águas faziam também rodar o Moinho que por sua vez moía os grãos de milho
para se obter a farinha. 
Também era muito engraçado às 17,00h ouvir um “toque” feito através do sopro de um “corno” em vários tons, explicaram-me que aquele “toque” era a chamar as cabras para irem pastar, cada dia ia uma pessoa diferente e levava as cabras de todos. À medida que o tempo passava eu gostava mais, pois aprendia e via coisas que antes nunca vira, o entrar numa desfolhada foi qualquer coisa de maravilhoso, nem eu sabia nem nunca tinha visto o que era o “milho rei” (uma maçaroca de tom avermelhado escuro, muito rara) e quem a tivesse tinha de gritar bem alto “milho rei”e depois davam um beijinho na pessoa que mais gostassem (dali saíam casamentos).
Eu e a Isabel percorremos tudo, subimos à Serra de S. Macário, percorremos outras aldeias e também fomos a pé (ida e volta) até S. Pedro do Sul (17,5 km para cada lado).


                      ************                                                                                  (Continua)

*O tempo que os meus estudos demoraram em Londres estive sempre acompanhada da
minha irmã, mais velha 10 anos, naquele tempo era impensável deixar uma menina de
15 anos sózinha naquela cidade.