Um crime ao criminos talvez...

Na velha casa da Rua Juaneira, 43; uma família de indivíduos paupérrimos, mas indubitavelmente honestos e humildemente gentios; generosos ao ponto de acolher um pobre forasteiro que procurara abrigo numa tardizinha quase noite, já cansado e sem ter para onde ir. “jamais me esqueço daquela casa que dava com a frente para as belas acácias da praça e o quintal para um pequeno bosque do pequeno sítio...” A Srª da casa simpatizara-se com o rapaz que já vinha aos passos fartos de outras cidades. Um vendedor de biscates que já acabara todo o seu estoque e juntava nas meias dos sapatos toda a fortuna para uma viagem de regresso a sua casa para cuidar do pai. A casa era de quatro pessoas. O Sr que, já doente, descansava sua casca velha do sol que não o perdoou na vida; a Srª, já dita generosa; Um varão que trabalhava aos repúdios e ao mau-humor da vida abandonada pela mulher; e uma neta de 13 anos que, muito prendada, já ajudava os avós com os afazeres da casa. Sua mãe tinha ido para a cidade grande à procura de um emprego, dizia sua avó. Mas os rumores são de que havia abandonado aquela cidade e tudo que há dentro dela para viver com outro homem que não o pai da menina. O pai dela fora outro que desapareceu desde seus seis anos. Alvorada era o nome da cidade. Cidade pequena. Josué tinha seus vinte e três anos. Um rapaz sonhador e inteligente. De passagem pela cidade resolveu ver a praça e acabou por conhecer a velha Srª, que acabou lhe convidando para um café, que depois virou um jantar e acabou por uma dormida num quarto no fundo do quintal. Rapaz esperto, bom vendedor e de boas conversas. Sabia conquistar qualquer pessoa. A velha era povo de interior e povo de interior gosta de ser hospitaleiro, às vezes. – acho que certas gentilezas são o nosso maior infortúnio. A menina era educada; religiosa como a avó; usava vestidos bordados de flores e chinelas rasas. A idade era oportuna do desenvolvimento natural do corpo. Os seios já crescidos eram duros e pontudos. Uma moçinha muito bonita e de boca atraente. Certo batom de sua vaidade era um convite aos beijos para os meninos da vizinhança. Um olhar saliente de quem quer conhecer o mundo dos prazeres libidinosos. Amanhece o dia e vem o café da manhã. O rapaz é bem querido, uma boa figura, gente de confiança a primeira vista. O sábado é dia de feira e a avó precisa fazer as compras com o seu filho que se encarrega sempre de levar os pacotes. Enquanto a moça fica em casa a fazer o almoço e cuidar do avô que dorme mais um sono depois do café da manhã. Josué se despede agradecido com muito gosto e vai embora antes da Srª e o filho irem à feira. Há muito caminho pela frente e o seu pai precisara de mais algum dinheiro para interar os custos dos remédios. Uma toalha amarela esquecida no varal o fez voltar. O varal do sítio era grande e tinha várias toalhas, lençóis e tantos outros tecidos. A menina estava com um livro de cânticos e ensaiando um hino para o culto da noite. O vendedor de biscates veio buscar o que esquecera e encontrou uma menina de vestido curto e pernas à-vontades no chão gramado. “Oi... Vim buscar a minha toalha...” O sítio pareceu grande e tudo ficou surdo naquela hora. As pernas escarranchadas era um tipo de provocação voluptuosa e longe de qualquer ingenuidade. 13 anos é o primeiro cio e as virgens ficam aos delírios desvairados da juventude. Uma malícia, os lábios mordidos e as pernas abertas era de fato um convite. “ela quis e eu também...” – desejos naturais ou uma sacanagem que foi preferível aos louvores à Deus. A menina tinha idéias inusitadas para aquele momento lascivo. O gozo é o ápice da luxúria. Concebido o ato, ambos, cansados, deitados no bosque, olham o céu. O céu sempre azul. Mas o tio chega antes da hora imaginada pela menina. Enfurecido e sego pelo moralismo em honra da família, puxa uma faca do cós e começa a furar o pobre Josué, que tenta explicar o que não se pode explicar senão fugir. Um escândalo pela cidade aos berros do tio da moça a julgar um crime ao rapaz. Ninguém suporta um crime como esse. Josué tenta fugir, mas a feira está cheia de gente e as pessoas tomam as possíveis dores do tio e a interpretação é mesmo de que é um estuprador. Começam a lixar o rapaz. Ninguém entendeu que a sobrinha tinha desejos como todos os seres humanos. Josué, pobre menino também, foi morto à pedradas. Um voltar para buscar o que esqueceu. A polícia não pode prender todo mundo. Tratava-se de uma resposta de indignação da população que entendera um crime. – Justiça com as próprias mãos. A menina, em choque, nada pode dizer em voz mais alta que o tio. Talvez fosse melhor o silêncio. Mas o fato é que as vontades são perigosas e imprevisivelmente danosas. – sim, claro –, se ele tivesse renegado seus instintos não teria acontecido isso, talvez. Um crime ao criminoso talvez...

Washington Machado
Enviado por Washington Machado em 08/04/2010
Código do texto: T2184541
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.