UMA AMIZADE VERDADEIRA
Jairo e Javier eram amigos de infância.Nasceram no mesmo mês,tinham a mesma idade e moraram no mesmo bairro até terminarem o ginásio.
Separaram-se na Faculdade,um foi ser militar,entrando já com uma patente,por ser médico;o outro entrou no meio acadêmico,virou professor,mas,a amizade continuou a mesma,viam-se sempre,almoçavam juntos,as esposas eram amigas e comadres e seus filhos estudavam na mesma escola.
Apesar de,um dia,a ideologia política os colocar em lados opostos;,o militar,de direita,apoiou o golpe de /64 e o professor lutava contra a Ditadura,a amizade deles atravessou incólume esses tempos turbulentos,quando,de repente,no meio da noite,homens encapuzados invadiram o apartamento de Javier,o professor,e levaram-no para os nefandos domínios de Fleury,o assassino,para ser interrogado e indiciado como comunista.
A visado,Jairo,o médico,usou de suas amizades e prestigio para visitar o amigo,na cadeia,e este,muito deprimido lhe pediu para olhar por sua família,pois ninguém saía co m vida daquele inferno.Ele queria deixar a família amparada e,para isso,precisava ir ao Norte vender umas terras e gado,afim de prover o sustento dos seus.O amigo mexeu os pauzinhos,falou com políticos e generais,mas,nada conseguiu.
Desanimado,falou com os algozes que lhe deviam alguns favores e um deles lhe propôs:-
-Capitão,discretamente,no segredo,eu deixo o subversivo sair e resolver seus pepinos,se o doutor ficar responsável por ele.Dou-lhe três meses para ir ao Norte,mas,se não voltar nesse período,eu o acuso de dar fuga ao criminoso e o senhor será executado.
-Eu topo,disse o médico;e,prometo todo dia telefonar e lhe dar noticias minhas até a volta do meu amigo.
O carrasco o olhou com um ar de sarcasmo:
-E o doutor acha que ele vai voltar?
-Como creio que o sol nasce toda manhã.
Assim foi feito.
Acharam um modo secreto de sumir com o Javier,que viajou sem que ninguém o incomodasse.
Os dias foram passando,inexoráveis e,faltando dois dias para o fim do prazo,o carniceiro chamou o doutor:
-Olha que faltam dois dias e nem noticia do pássaro.O doutor ´tá encrencado.Não te falei?
-Sossegue,meu amigo voltará.
O carrasco deu um risinho mau.
Completou-se o tempo.À meia noite seria a execução,e nem sinal do professor.
Às 11hs,o carrasco mandou aprontar o pelotão e notificou o doutor.
Este chegou,pronto para tudo.Às dez para meia noite,um milico trouxe um homem cansado,desfigurado,ferido que insistia em falar com o Coronel ......O homem se dizia prisioneiro político.
Era o Javier,em carne e osso,mais osso do que carne.
Estafado,abraçou o amigo,agradeceu-lhe por tudo e se apresentou ao pelotão,para ser fuzilado.
O coronel,que não esperava por aquilo,comoveu-se- pois até as onças cantam á lua- deu ordens para soltar o professor,pois não tinha culpa formada,libertando os dois amigos.
Na saída, falou com o doutor:
Lido com bárbaros e nunca vi uma amizade como essa.Sei que,um dia vou precisar ter um amigo assim....
*Nunca é demais cantar a verdadeira amizade...
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 20/07/2009
Código do texto: T1709698
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