O CASO JUAN (Part. 1 - O Sumiço)

A infeliz havia perdido o filho alguns anos atrás e agora o marido sumira sem deixar rastro, assim como as estrelas que somem ao amanhecer. O infeliz andava estranho, isso era certo. Depois da morte do garoto; enquanto ela chorava e chorava o dia inteiro, ele apenas ficava com um olhar vago triste e distante. Passou um tempo e os choros cessaram, mas no olhar não se notara diferença alguma. De fato, ninguém em sã consciência poderia negar-lhes o título de o casal mais infeliz da cidade. Talvez não fosse verdade, mas de tão felizes que eram antes, agora a tristeza parecia maior do que talvez fosse. Ou, talvez ainda, as pessoas mais felizes são as que estão mais suscetíveis à tristeza, mesmo que esta se manifeste de maneira diversa. Enquanto a tristeza nele era visível em uma forma de indiferença e abatimento, ela tentava disfarçar uma felicidade que não existia mais; e isso, talvez fosse mais triste ainda.

Percorreu todos poucos cômodos da casa e chegando à cozinha, constatou que ele saíra sem tomar café da manhã. Era domingo, ele não trabalhava aos domingos, ele não saia aos domingos, ele não saia quase nunca. Que teria acontecido? Este acontecimento, que ela ainda não sabia exatamente o que era, a fez despertar, encarando frente a frente o seu estado triste e lamentável. Assim, triste e lamentavelmente desamparada ela se arrastou à pequena delegacia daquela cidadezinha. E em seus passos, agora, havia um pouco dos passos do infeliz, e em seu olhar, todas as ausências do mundo.

Quando a porta abriu, os policiais olharam para ela e fizeram alguns comentários entre si. Quando ela comunicou o desaparecimento, eles disseram que tal marido devia é ter fugido com alguma moça. Isso andava acontecendo muito na cidade. De qualquer forma dariam uma varredura na região.

Ofendida, mas intrigada, ela voltou para casa. No quarto revirou tudo, procurando algum indicio de alguma puta de uma amante. A busca era feita com medo. Não sabia o que seria pior, ele ter fugido com uma amante ou ter sido vitima de sei lá o quê. Com medo abriu um manuscrito que achou no bolso do paletó do infeliz. Assustada, veio à capital e me trouxe o documento, me explicando toda a situação que acabei de narrar.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 31/03/2014
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