ESCLARECIMENTO XV: ADULTÉRIO NO DP

- Doutor Cris! Temos um problema grave.

- Mais um Cidão? Entre e fale rápido, tenho uma reunião com o Regional.

- O Cleber, esta saindo com a esposa do Robertinho...

Robertinho tinha 45 anos, viúvo e pai de um filho casado que morava no interior do pais. timido, pouca fala, muita memória dos casos, muito bom investigador, responsável, não arregava e de confiança. Depois do luto, se engraçou com a filha de um vizinho que tinha pouco mais de vinte anos. Moça nova, fogosa...

O Cleber tinha vinte e quatro anos, dois anos de policia, filho de político e no ultimo ano de Direito, futuro Delegado, bom policial e excelente político, não deu outra...

Os dois faziam parte da equipe B de homicídios, isto fez com que tivessem laços de amizades mais profundos, inclusive freqüentando a casa deles.

- Puta que o pariu! Isto é o que acontece quando se arruma uma mulher que tem idade pra ser tua filha. Vai ganhar um belo par de chifres.

- Então Doutor! Como vamos resolver isto?

- Vou colocar os dois dentro de uma viatura e mandar lá em cima no morro, buscar o Mudinho, o que sobreviver continua trabalhando aqui e fica com a mulher.

- Porra doutor! Não brinca! Como vamos resolver isto? Não posso e não quero ficar sem o Robertinho e o Cleber tem pica grossa...

- Cidão! Curto e Grosso! Quem te pagou isto? ...E pica grossa aqui quem tem sou eu.

- Toda Delegacia...

- Você falou com algum deles?

- Ainda não! Estão os dois ai fora esperando para falar com o senhor...

- Eu tenho uma reunião com o Homem, já estou atrasado. Fale apenas com o Cleber, confirme se é verdade e se ele sabe se o Robertinho ta sabendo. Enquanto isto mantenha os dois em lados opostos e fique de olho ate eu voltar. Não mande os dois juntos nem para entregar intimações, comprar cigarros e se um for cagar, fique de olho no outro.

- Sim senhor.

Em uma reunião de mais de quatro horas com o regional, todos os seccionais, todos os delegados titulares e especiais, onde foram debatidos os índices criminológicos, novas estratégias de combate à criminalidade, frota, armamento, inteligência, dimensionamento de pessoal, hora extra e todos os problemas estruturais. Meus índices entre os três Sec. eram os melhores, fui elogiado pelo Regional e alvo de piadas entre os iguais, do tipo:

“O PC escreve o CERTO e conversa com os peritos”

“Na duvida, o Artur elimina o problema” ou

“Uma subida do Cidão e as contas são pagas” e a pior de todas...

“O Regional é amigo pessoal Trabalharam juntos por anos”.

Encerrando a reunião o Regional pediu que eu ficasse, queria tratar de um assunto interno grave.

Quando ficamos a sós, ele disparou...

- O que você vai fazer com o Cleber?

Pensei comigo: “Puta que o pariu, ta todo mundo sabendo menos eu, fui o ultimo a saber, mas vou agir como se soubesse”. Chifrudo é sempre assim, o último.

- Acho muito perigoso manter os dois por perto, vou transferir o Cleber.

- Porque perigoso? São adultos, vão resolver isto.

- Doutor, mata-se por dinheiro, amor, ódio e medo. Pelo menos três destes motivos estão neste caso, não vou correr riscos.

Houve uma quebra de confiança na equipe. Todos os dias depositamos nossa vida nas mãos de nosso parceiro, sabemos que o primeiro tiro do bandido ao nosso parceiro é nosso e o nosso tiro é do nosso parceiro, não posso deixar que isso acabe.

- Faça o que tiver que fazer, eu o apoiarei.

Desci, todos já tinham ido embora, menos Cidão, Artur e PC.

- Doutor! O PC comprou cerveja e o Artur tem peixes, deixe tudo para amanhã e vamos tomar um porre.

- Doutor! Tenho um tubo de 5 l de Xilocaina...

- Dotô! Us pexes tão muito bãos.

- Vou guardar estas pastas, pegar meu cano e trancar a sala, aonde vamos? e PC fomos elogiados, não preciso de Xilocaina. Vamos pra onde?

- Casa do Artur.

Discutimos policia, futebol, política, religião, mulheres... E o caso Cleber. Realmente os boatos eram verdadeiros, isto fez com que eu tomasse minha decisão.

Durante a noite, teve uma zica de emergência e o Cidão acionou toda equipe menos Cleber e Robertinho.

No dia seguinte, todos da equipe de folga pela zica da noite, menos os dois. Cheguei e fui para uma reunião com Cidão e o Cleber, pedi explicações e não fui convencido, então...

- Cleber houve uma quebra de confiança na equipe, sempre depositamos nossa vida nas mãos de nosso parceiro, confiamos nossa família a nossos irmãos, para serem cuidadas e protegidas, não para serem disputadas ou tirada de nos. Quero que você escreva uma carta agora, pedindo a sua transferência para outra regional.

- Sim senhor! Vai ter procedimento disciplinar?

- Negativo, vou tratar este assunto como “Problemas particulares e externos”. Tome juízo e boa sorte. Quando sair, mande Robertinho entrar.

- Doutor, bom dia!

- Robertinho, transferi o Cleber, sei que isto é um problema pessoal e externo, mas não quero que influencie na equipe. Você esta de licença por 15 dias, para esfriar a cabeça, vá pescar, passear ou ficar em casa. Se você estiver precisando de ajuda extra, me fale agora que eu providencio.

- Doutor, ta tudo bem, eu estou bem, to tranqüilo, já conversei com minha mulher, ela assumiu a culpa, deixe tudo com esta, o Cleber não tem culpa, ela disse que isto nunca mais vai se repetir, vamos esquecer tudo...

Ele falava muito pausadamente e de cabeça baixa, não dava para ver os olhos, parecia triste ou transtornado. Olhei para o Cidão que fez um discreto gesto negativo com a cabeça.

- Robertinho! Robertinho!

- Senhor..

- Esta tudo resolvido, não vou voltar atrás, pegue tuas coisas e vá cuidar de tua cabeça, eu cuidarei de tudo por aqui. Só me apareça aqui no fim do mês. Você tem certeza que não precisa de um psicólogo, psiquiatra ou algo parecido? Se precisar eu ligo agora!

Cidão! Se ele estiver precisando de algum, tire da caixinha, Robertinho, juízo, não me faça nenhuma cagada e bom descanso.

Depois que Robertinho saiu, despachei outros inquéritos com Cidão e no final da prosa, conversamos sobre minha atitude.

-Você acha que exagerei?

- Negativo senhor! O senhor sempre corta o mal pela raiz, da exemplo, é justo e denota confiança nos seus homens, os mantém na rédea curta e os protege, por isso todos gostam e aceitam suas decisões.

Doutor! O senhor acredita realmente que o Cleber faria alguma coisa contra o Robertinho?

- Não! Acabei de salvar a vida do Cleber, Robertinho tem muito menos a perder e é muito mais vivido.

A vida pra gente como nos Cidão, não vale muita coisa, já matamos, mataremos novamente, depende só da necessidade e circunstancia, coloque-se no lugar dele.

Cesão
Enviado por Cesão em 21/04/2014
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